“As frívolas arrasam!” – Entrevista com o coletivo Surto & Deslumbramento

Em meados de 2012, André Antônio, Chico Lacerda, Fabio Ramalho e Rodrigo Almeida formaram o coletivo Surto & Deslumbramento. Em menos de dez anos, realizaram um longa-metragem, A Seita (André Antônio, 2015), e dirigiram sete curtas, além de assinarem outros sete trabalhos colaborativos. Um historiador do futuro talvez encontre nos filmes do coletivo, realizados fora do mercado de distribuição e com uma presença discreta nos grandes festivais do país, uma das formulações mais conscientes e vigorosas de uma sensibilidade maneirista e paródica que tornou-se com… CONTINUA

Um dândi na periferia do futuro

Em meados da década de 2010, em um momento no qual ainda não estava claro o caminho político que o país tomaria, André Antônio realizou A Seita, uma das primeiras novas ficções pós-apocalípticas que tomaram de sobressalto o cinema brasileiro nos últimos anos. Nascido da colaboração com os seus companheiros do coletivo Surto & Deslumbramento, o filme foi realizado com um orçamento mínimo, adquirido inicialmente para realizar um curta-metragem. Em 2040, no filme, o mundo se encontra dividido entre uma sociedade próspera e regrada, assentada… CONTINUA

O tempo em volta

Os créditos finais de O Cerco (Aurélio Aragão, Gustavo Bragança, Rafael Spínola, 2020) terminam com uma legenda informando o local e o período de realização do filme: “Rio de Janeiro, 2013 – 2020”. A escolha pouco usual dos três diretores de declarar o período completo de quase uma década entre a concepção e a finalização expressa um certo desejo de vincular a obra e o tempo. Adotando um método de escrita de roteiro e encenação procedural, que era conduzido em grande medida pelo trabalho de… CONTINUA

Maneirismo e catástrofe

Em uma nave montada de sucata, o viajante espacial solitário WA4, incumbido da missão de assassinar Juscelino Kubitschek no momento de inauguração da nova capital do país, descobre-se perdido no tempo. A nave despenca em Ceilândia, em 2016, durante o processo de golpe parlamentar que derrubaria a presidente Dilma Rousseff. O viajante de Era uma vez Brasília (Adirley Queirós, 2017) chegou atrasado, tarde demais para cumprir sua missão. Ele termina por se juntar ao movimento de resistência, que luta também uma guerra tardia, sob o… CONTINUA

Um thriller paranoico

O novo projeto de Lewis Klahr consiste em um ciclo de seis filmes, exibidos em agosto no festival Ecrã. O cinema de Klahr tornou-se conhecido por uma certa maneira de se debruçar sobre a sensação de passado contida nos resíduos das indústrias culturais dos anos 1950 e 1960, a partir de uma prática de colagem que retoma o fascínio dos artistas surrealistas pelas formas fora de moda e o caráter inquietante de sua montagem de materiais heteróclitos. A mesa de trabalho de Klahr era o… CONTINUA

O corpo em estado de imagem

Na abertura da apresentação do grupo de swingueira de Recife Cia. Extremo, ouvimos um locutor falar, acompanhado por um teclado solene e sintetizadores, segundos antes do início do espetáculo: “Brasil. Um país maravilhoso. Realmente devemos honrar o que está escrito na bandeira: ordem e progresso”. No centro da cena, encontra-se Eduarda Lemos, modelo e bailarina, mulher trans negra, protagonista de Swinguerra (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2019). A sua presença é a de uma diva pop, que tem pleno domínio sobre sua própria imagem.… CONTINUA

Primavera, verão, outono e inverno

James Benning tem proposto a cada novo projeto um conceito simples e explícito, cuja execução desconcerta por sua literalidade. Os quatro planos em que consiste Readers, seu filme exibido este ano no Festival Ecrã, mostram sempre uma única pessoa lendo um livro, em casa, parada em silêncio, durante cerca de meia hora cada um, filmados de um ponto de vista fixo. Um trecho de cada livro é exibido em uma cartela logo depois de cada plano. E é só. A proposição conceitual do filme é,… CONTINUA

Jardim dos detritos

Considerado por trinta anos como um filme perdido, O Jardim das Espumas voltou à circulação no Brasil com a descoberta de uma cópia na França, em 2014. Marco do que se convencionou chamar de Cinema Marginal, trata-se ainda de um filme muito mais conhecido do que propriamente visto. O descobrimento de uma cópia tida como desaparecida não apenas tem permitido que outra geração tenha acesso a este trabalho de Luiz Rosemberg Filho, mas atribui ao filme a condição de uma ação diferida. O atraso com que… CONTINUA

A vida deles

A realização de um documentário sobre uma cidade pequena americana parece um passo natural dentro da trajetória de Frederik Wiseman, que, desde o início dos anos 1960, tem se dedicado a observar uma determinada instituição dos Estados Unidos contemporâneo, um filme depois do outro, seja a escola, o hospital, a universidade, o departamento de polícia, o zoológico ou biblioteca. Monrovia é uma cidade do Meio Oeste de cerca de 1400 habitantes, localizada no estado de Indiana. Pertencente ao distrito de Morgan, que em 2016 elegeu… CONTINUA

Névoa digital

Na história do cinema, poucos filmes se prestaram tanto à citação como Um Corpo que Cai. A proposta de A Névoa Verde de recriação do filme de Hitchcock de 1958 deveria ser, portanto, recebida com certa desconfiança, não fosse a estratégia singular adotada por Guy Maddin e seus colaboradores no projeto, os irmãos Johnson. Essa estratégia de trato com o filme baseou-se em uma série de escolhas determinadas. O primeiro passo foi o de reduzir Um Corpo que Cai a uma série sucessiva de motivos,… CONTINUA