Escopofagia [videoensaio a partir da obra de José Mojica Marins]

Nas últimas quatro semanas, a Cinética publicou um conjunto de 12 ensaios ao redor da obra de José Mojica Marins. A série #mojicainvenção se encerra com o videoensaio “Escopofagia”, de Victor Guimarães. A feitura deste videoensaio partiu da tentativa de enfrentar um paradoxo. Como é possível que a obra de um cineasta tão obcecado por mostrar o máximo possível – às raias do escatológico – seja igualmente pródiga em episódios de ruptura com a possibilidade de ver? Como é possível que uma encenação tão apaixonadamente… CONTINUA

Sádicas: um ritual

Às vésperas do carnaval de Olinda, algumas gatas se reúnem para assistir a Ritual dos Sádicos/O Despertar da Besta (1970), a obra censurada de José Mojica Marins, por oportunidade de sua morte. Depois de agonizarem por uma hora e meia, já podem considerar abertas as portas do carnaval. Alguns meses após o ocorrido, duas delas ressuscitam para mancomunar esta crítica do filme que você está prestes a encarnar.  Em Ritual dos Sádicos, atos de perversão praticados dentro do submundo paulista corroem a estabilidade do tecido… CONTINUA

Fenda – um roteiro

Éramos um pequeno grupo, formado de quatro homens e eu. Passávamos o dia todo juntos às partes mais podres e rejeitadas de todo o Cinema Brasileiro: Cinema Marginal, Boca do Lixo, Pornochanchadas, filmecos, filmes cagados, podres, de som e de imagem fodidas, um verdadeiro esculacho. Era como descobrir uma revista pornô velha, de páginas grudadas, amareladas e rasgadas, debaixo da cama de um primo. Assistíamos a tudo com o fascínio e o tesão daquilo que é renegado, pútrido e proibido. Quem olha para esses filmes?… CONTINUA

Material perdido, arquivo sonhado, data desconhecida

Sonho: Outubro de 2020. Visito as ruínas da Cinemateca Brasileira. Ainda paira um estranho odor de vinagre queimado. Piso sem querer numa caixinha arredondada, escurecida de cinzas. Abro. Um rolinho dentro. Sem pensar, levo comigo. Projeto. Silêncio. Travelling pra trás, plano aberto: José Mojica Marins, capa preta e chapéu, acompanhado, sobe uma escada rolante. Sereno. Dois homens com ele. Não sei se é um shopping ou hotel. Param no hall. Olham, os curiosos. Fotógrafos o esperam. Som. Corte. Plano conjunto, Rogério Sganzerla, de xadrez, grave:… CONTINUA

Zé do Caixão: uma entidade, muitas possessões

1. Vejo unhas. Não as minhas, que esbarram em algumas teclas e letras enquanto digito estas primeiras palavras. Vejo as alongadas e tortuosas unhas de José Mojica Marins, o diretor, o corpo que por tantos anos encarnou o mesmo personagem, hoje arraigado no imaginário do terror brasileiro e mundial. Dizem que unhas e pelos continuam a crescer mesmo depois da morte. Imagino-as, enxergo-as agora, as unhas do ator Mojica, esticando-se, enquanto seu corpo acomoda-se no caixão que, por ora, abriga-o. São unhas que respondem à… CONTINUA

Mojica, cronista atemporal da brutalidade

No dia 18 de fevereiro de 2020, a convite do projeto “Cinema Falado” em Belo Horizonte, fiz uma breve apresentação pós-sessão de À Meia-Noite Levarei Sua Alma a uma plateia no MIS Cine Santa Tereza. Na conclusão da minha fala, exaltei o fato de podermos celebrar a obra de José Mojica Marins com o realizador vivo entre nós, ainda que doente e fragilizado. Menos de 24 horas depois, chegava a notícia de que José Mojica Marins tinha morrido, aos 83 anos, em São Paulo. Não… CONTINUA