Nas últimas quatro semanas, a Cinética publicou um conjunto de 12 ensaios ao redor da obra de José Mojica Marins. A série #mojicainvenção se encerra com o videoensaio “Escopofagia”, de Victor Guimarães.
A feitura deste videoensaio partiu da tentativa de enfrentar um paradoxo. Como é possível que a obra de um cineasta tão obcecado por mostrar o máximo possível – às raias do escatológico – seja igualmente pródiga em episódios de ruptura com a possibilidade de ver? Como é possível que uma encenação tão apaixonadamente direta seja, ao mesmo tempo, tão obstinadamente reflexiva? Como é possível que um artista das paixões mais imediatas, do horror e do nojo, seja também um teórico da imagem?
A filmografia de José Mojica Marins desafia noções fortemente arraigadas na tradição crítica moderna, como as dicotomias transparência/opacidade, excesso/recusa, imediatez/reflexividade, escopofilia/escopofobia. Em seu universo visual atraente e repulsivo, Mojica traga o olhar, devora-o e vomita. Mostra tudo e, ao fazê-lo tão excessivamente, redobra a aposta e nos faz mergulhar de corpo inteiro no nada.
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