O instante é um rio das almas perdidas

Nos lugares sérios em que as opiniões são como rochas que não racham nem tampouco se olham, lugares dos quais o cinema não só não está excluído, como talvez, aliás, já tenha se circunscrito em caricatas exemplaridades, tem se tornado terminantemente pueril e quase ofensivo sugerir que indivíduos são por vezes movidos por sentimentos que mal lhes cabem – sentimentos inchados, latentes, indivisíveis de muito do resto do que se faz. Digamos por um momento que este Hotel às Margens do Rio é um filme… CONTINUA

Capitalismo natalino ou Papai Noel anda de fusca, não de trenó

Em um trecho do livro Capitalist Realism: Is There no Alternative?, o escritor britânico Mark Fisher, ao perspectivar a relação entre cultura e tradição, encapsula algumas preocupações presentes em Esqueceram de Mim. Em referência a um ensaio de T.S. Eliot, o autor argumenta que ele “descreve a relação recíproca entre o canônico e o novo. O novo se define em resposta ao que já está estabelecido; ao mesmo tempo, o estabelecido precisa se reconfigurar em resposta ao novo. A alegação de Eliot era que o… CONTINUA

Em busca do afeto

A abordagem do espaço extraterrestre como ambiente fílmico é uma tarefa estética delicada, porque impõe aos corpos, que por ali transitam, uma invariável interação com um denso volume de percepção codificada. É uma paisagem impassível de ser subtraída dos significados implícitos de materialização da infinitude do desconhecido, assim como de tudo que um status representacional de tal ordem deposita sobre o sujeito ali localizado. Sedimentar significados sobre o “personagem espacial” se torna, pois, um jogo de negociação com uma bússola insuflada de iminência significante. Como… CONTINUA

Quatro notas sobre “Limite”

1. Limite é uma resposta indireta ao espectro ideológico que pôs fim à República Velha e trouxe à cena o desenvolvimentismo e o trabalhismo. Uma mulher sai da cadeia e retorna à cadeia no mundo do trabalho – a máquina de costura toma a forma da roda de trem. Os signos do progresso se espalham, povoando o passado dos três personagens à deriva no mar de fogo. O limite é a distopia do progresso, a constatação de que estamos presos à onipotência da natureza e… CONTINUA

Notícias da Paraíba ou não acredito em paradoxos que não saibam dançar

Quando recebi o convite para acompanhar a I Mostra Walfredo Rodriguez, realizada pela prefeitura de João Pessoa para reunir filmes que surgiram do edital de mesmo nome na capital paraibana nos últimos anos, um motivo me impeliu a aceitar: a rara oportunidade de testemunhar, do meu lugar de estrangeiro sudestino, um processo cinematográfico local em curso, com suas nuances próprias, seus tempos fortes e seus tempos fracos, com uma diversidade e uma amplitude difíceis de apreender nos festivais de escopo nacional. Entre movimentos comuns e… CONTINUA