Anotações a quatro mãos em torno do Faroeste Spaghetti. Parte 2: o vento assobia e a tempestade se enfurece onde o sol do futuro nasce

O partigiano portami via che mi senti di morir Il fiore del partigiano morto per la libertà FF: Nós falamos muito sobre representações de história e colonialismo e isso faz muito sentido dada a iminência histórica do gênero e como ele acaba importado para a Europa. Uma coisa que me veio à mente é tentar pensar o spaghetti dentro da história do cinema popular italiano. Como eu disse lá antes, acho que ele se conecta muito bem, por exemplo, com o filme de horror. Há… CONTINUA

Seriam os informais formalistas?

A série iniciada aqui por Ingá e continuada por Victor me fez parar pra pensar sobre o que se convém chamar de “militância” e as suas relações com fazer filme. Procurei o que seria: Fui catar esse latim do final: É impressionante como, em 2020, quase tudo vira igreja ou, digamos assim, “igrejante”. Não imaginava encontrar isso aqui. Existe fé inativa? Como faz? Que forma tem? Essa atividade seria um sinônimo pra organização? Outra: dá pra ser militante do pecado, ou essa é uma ideia eternamente… CONTINUA

Anotações a quatro mãos em torno do Faroeste Spaghetti. Parte 1: a morte cavalga ao vento

Pintaremos de rojo sol y cielo Hay que ganar muriendo, pistoleros Hay que morir venciendo, guerrilleros Luchando por el hambre y sin dinero Vamos a matar, compañeros Fabian Cantieri: Acabei de ver Os Quatro do Apocalipse  (1975) do Lucio Fulci. É impressionante como você pode ver trinta faroestes spaghetti e ainda se surpreender com certos caminhos de direção. Dá pra enxergar o filme como o velho mote da vingança, mas aquele final onde ele vai atrás do Chaco (Tomás Milián) pra matá-lo parece só um… CONTINUA

Treta no trampo, cinema de breque

Na semana passada, Ingá puxou uma conversa aqui na revista a partir de uma série de peças publicitárias da Ifood, lançada em meio às movimentações dos entregadores de comida país afora, que se organizam para denunciar as condições de trabalho impostas por um regime contemporâneo de trabalho que vem sendo chamado de Gig Economy, ou “economia dos bicos”. A certa altura do texto, ela menciona o canal Treta no trampo, em cuja produção estaria sendo elaborado “um exercício documental radicalmente distinto e inventivo”. Entro na… CONTINUA

A lógica da linha

Sob o desejo por um encantamento ensejado na artificiosa surpresa de nada saber de antemão – possível sobrevivente de um culto do mistério excitado e desviado de uma “vertente mística” do cinema –, ainda existem aqueles que escolhem não buscar ou estar abertos a qualquer informação prévia de um dado filme? Decerto que existem, e mais seguro ainda será a probabilidade de que este História de um Casamento, o mais recente Baumbach, surja-lhes como um desafio. Porque se para aqueles que chegarem à obra sabendo… CONTINUA

“Você vai me fazer chorar de novo?”

Na última semana, um aplicativo brasileiro de entrega de comida lançou uma série de vídeos em que pessoas da sua rede – que abrange, em suma, entregadores, clientes e donos de restaurante – são filmadas num estúdio oferecendo depoimentos enternecedores a respeito de suas experiências pessoais ligadas à plataforma de delivery. Os anúncios foram publicados numa plataforma popular de vídeos e sua data de disparo massivo coincide com a semana na qual, em menos de um mês, ocorre a segunda convocatória de breque para os trabalhadores de… CONTINUA

Cinemáquina de guerra de Spike Lee

Black is black Preto no preto. A certa altura de Destacamento Blood, Paul (Delroy Lindo) e David (Jonathan Majors), pai e filho, estão alarmados. É noite escura e, na mata vietnamita, “todos os gatos são pardos”, como diria o código da urbanidade. A imagem da pele preta sobre o fundo preto é, na lente de Spike Lee, uma espécie de signo de intransigência, uma não concessão. Um pouco como uma rebatida ao blackface – a pele branca tornada preta na superfície, violência no contraste, como… CONTINUA