“As frívolas arrasam!” – Entrevista com o coletivo Surto & Deslumbramento

Em meados de 2012, André Antônio, Chico Lacerda, Fabio Ramalho e Rodrigo Almeida formaram o coletivo Surto & Deslumbramento. Em menos de dez anos, realizaram um longa-metragem, A Seita (André Antônio, 2015), e dirigiram sete curtas, além de assinarem outros sete trabalhos colaborativos. Um historiador do futuro talvez encontre nos filmes do coletivo, realizados fora do mercado de distribuição e com uma presença discreta nos grandes festivais do país, uma das formulações mais conscientes e vigorosas de uma sensibilidade maneirista e paródica que tornou-se com… CONTINUA

Seja belo e faça o mínimo

Talvez assistir a um filme que acompanha uma bicha de contornos apolíneos e sensibilidade gótica transitando entre ler Baudelaire no conforto de seu mausoléu e viver a noite carioca com outros jovens não seja o mais absurdo dos conceitos para o cinema brasileiro de 2021, mas em 2014 as pessoas e os cinemas eram outros, sobretudo aquele feito em Pernambuco. E talvez seja injusto, sobretudo se levarmos em consideração a produção experimental de Jomard Muniz de Brito e Geneton Moraes Neto nos anos 70 e… CONTINUA

Essa maneira estranhamente esperançosa

[carta de Felipe André Silva para Pedro Maia de Brito, um dos diretores do filme] Pedro, no meu sonho de ontem o ano era 2030. Tentava te mandar um recado do futuro pra te dizer que nada mudou, nada melhorou, e nós não ficamos necessariamente mais fortes, mas voltamos a sonhar. Te lembrava, ainda que você já saiba disso, que nos últimos vinte anos tínhamos desaprendido os caminhos que levam a esse terreno onde tudo é possível, tudo é da lei, e às vezes, é… CONTINUA

A lata de lixo da história

1. Em meio a lapsos de alegria, crescimento econômico e arroubos de revolução, os anos 2000 e 2010 viram acontecer uma espécie de “cinema festivo” que celebrava, geralmente a partir de corpos jovens, energias relegadas a segundo plano por muitos anos. Talvez por seu caráter individual, talvez pela sua ingenuidade. Fato é que, por exemplo no Brasil, aconteceu uma movimentação interessante, cujos traços podem ser rastreados em vários lugares: na Universidade Federal Fluminense, de onde curtas como Hiperselva (Helena Lessa, Jorge Polo, Lucas Andrade e… CONTINUA

Um cinema da culpa?

Felipe André: É notável como se instaurou uma espécie de “cinema da culpa” nos círculos da produção cinematográfica mundo afora durante os últimos dez, talvez cinco anos. Criadores que não necessariamente teriam interesse em determinados assuntos ou pautas encontraram na possibilidade de falar sobre ou “oferecer voz” a corpos dissidentes um bom combo de autopromoção e mea-culpa. Para Onde Voam as Feiticeiras é um exemplo cabal: duas realizadoras brancas e um realizador branco reúnem um grupo heterogêneo de artistas e militantes para criar um happening… CONTINUA