Os mortos vivos

Trama Fantasma é um filme sobre a superfície. A superfície da imagem: a fotogenia da película fotossensível como reverência artesanal a uma dimensão cinematográfica espectral de latitude muito específica. A superfície dos modos e costumes: a aparência que encobre uma intenção, a formalidade que oculta o indecoroso. Da moda como uma temática oportuna onde a ideia de roupagem funciona em diferentes chaves de significação à dinâmica doentia do casal protagonista que encontra em um perigoso jogo de encenação o escape para uma neurose edipiana, é… CONTINUA

Pretextos e adereços

O fatalismo no cinema de Felipe Bragança desabrocha de um gesto de resistência juvenil. Uma violência que pode ser apenas simbólica em seu trato subversivo, mas que preserva uma dimensão política implícita em sua condição de um não-contentamento. Desde seus curtas-metragens e primeiros longas realizados em parceria com Marina Meliande, o diretor parece assimilar uma sentença narrativa em que os personagens, para não serem engolidos por um entorno ameaçador, preservam certa integridade, uma inocência utópica que não só infantiliza um modo de ser e de… CONTINUA

Gameplay no apocalipse

Nenhuma leitura que tente dar conta dos significados e alegorias de Mãe! é párea para o arsenal de ilustrações, simbologias e aproximações psicanalíticas que o longa de Darren Aronofsky propõe. O filme, que vem sendo acusado de ser óbvio demais em sua parábola, é, antes de tudo, um emaranhado de referências tão aleatórias que, inevitavelmente, nunca se fecha em um sentido universal. Mãe! não parece nada interessado em uma unidade referencial – pelo contrário, ao lançar mão de todo um encadeamento de menções em uma… CONTINUA

Das superfícies

Existe um paradoxo essencial no cinema de Olivier Assayas, uma dialética entre o aparente e o alegórico que encontra nos elementos culturais e na gama referencial de filmes como Espionagem na Rede (Demonlover, 2002), Traição em Hong-Kong (Boarding Gate, 2007) e este Personal Shopper (2016) norteadores emblemáticos de uma era. Essa bagagem de menções e apontamentos, através de uma conceituação do e pelo aparente ao mesmo tempo que assume tais elementos pelo que eles são – perspectivas tecnológicas em voga e premissas de um cinema… CONTINUA

Heróis e Vilões

Fragmentado vai contra um princípio básico do cinema de M. Night Shyamalan: o equilíbrio. Da concepção básica do seu personagem principal – uma elaboração que preza pela alteridade tanto em sua construção mitológica como em sua dimensão performática – ao próprio desenrolar da narrativa, existe uma constante diversidade de tons que implica da constituição formal a uma variante metafísica daquele mundo. É claro que a variação de gêneros é uma das maiores, e mais bem exploradas, características do diretor. Mas Fragmentado subverte um senso de… CONTINUA

Continuar

A franquia Resident Evil chega ao fim mais fiel do que nunca, tanto ao mote conceitual de sua proposta funcional – cada filme como uma fase, um sistema fechado de mandamentos formais e referenciais bastante específicos –, como à sua sempre oportuna vocação política. Afinal, nada mais revelador nos dias de hoje do que abrir um filme com a capital norte-americana completamente devastada e recheada de monstros e zumbis à espreita. O apocalipse, como descobrimos neste capítulo final, não é apenas o ensejo perfeito para… CONTINUA

Elogio ao artifício

Café Society (2016), último filme de Woody Allen, se assume como uma espécie de fábula reminiscente de Hollywood. Mas no lugar de um gesto de reverência vigoroso a essa golden age do star system, Allen prefere a domesticação. A fotografia de Vittorio Storaro cria o cenário ideal para uma peça de legítima veneração – ali sim a reminiscência como um mote do encanto – porém o culto à estrela, ao legado cinematográfico icônico onde o filme é situado, se limita à exploração enfadonha dos conhecimentos… CONTINUA