Criação/Recriação/Invenção: notas sobre alguns filmes brasileiros na programação

É uma coincidência iluminadora que o Olhar de Cinema deste ano tenha exibido tanto O Bom Cinema, recente documentário de Eugênio Puppo sobre as origens do chamado cinema marginal, e a estreia brasileira de Capitu e o Capítulo, filme mais recente de Julio Bressane. Seria evidentemente muito injusto cobrar de Puppo um filme com a carga inventiva que Bressane emprega em toda sua obra. Os objetivos de O Bom Cinema são muito mais modestos. Mas a distância entre o cinema de invenção e um discurso… CONTINUA

Anotações a quatro mãos em torno do Faroeste Spaghetti. Parte 2: o vento assobia e a tempestade se enfurece onde o sol do futuro nasce

O partigiano portami via che mi senti di morir Il fiore del partigiano morto per la libertà FF: Nós falamos muito sobre representações de história e colonialismo e isso faz muito sentido dada a iminência histórica do gênero e como ele acaba importado para a Europa. Uma coisa que me veio à mente é tentar pensar o spaghetti dentro da história do cinema popular italiano. Como eu disse lá antes, acho que ele se conecta muito bem, por exemplo, com o filme de horror. Há… CONTINUA

Anotações a quatro mãos em torno do Faroeste Spaghetti. Parte 1: a morte cavalga ao vento

Pintaremos de rojo sol y cielo Hay que ganar muriendo, pistoleros Hay que morir venciendo, guerrilleros Luchando por el hambre y sin dinero Vamos a matar, compañeros Fabian Cantieri: Acabei de ver Os Quatro do Apocalipse  (1975) do Lucio Fulci. É impressionante como você pode ver trinta faroestes spaghetti e ainda se surpreender com certos caminhos de direção. Dá pra enxergar o filme como o velho mote da vingança, mas aquele final onde ele vai atrás do Chaco (Tomás Milián) pra matá-lo parece só um… CONTINUA

Um romance do século XX

Martin Eden, o personagem, é um marinheiro que se quer escritor na Itália. Martin Eden, o filme, é um encontro entre Pietro Marcello, cineasta com um pé no experimental e na não-ficção e Jack London, o famoso escritor de aventuras das primeiras décadas do século XX – aqui, num romance semiautobiográfico no qual a história de London e a de Eden têm muitos pontos de contato. É um romance de formação grandioso, mas cabe a pergunta sobre o que está se formando. Uma educação sentimental… CONTINUA

Os destroços da civilização europeia

A Portuguesa é o sétimo longa-metragem de Rita Azevedo Gomes, cineasta da linha de frente do cinema português que apesar de três décadas de uma produção rica, só nos últimos anos veem recebendo timidamente um pouco da atenção merecida. Recentemente o filme circulou pelo Brasil, primeiro no Olhar de Cinema e depois numa pequena retrospectiva dos seus filmes em São Paulo. O cinema de Gomes traz à frente alguns elementos da tradição do cinema português, sobretudo na sua relação com a literatura e aristocracia, com… CONTINUA

A política para além do quadro: cinema brasileiro em tempos de incerteza

Não é fácil realizar um festival de cinema num cenário tão turbulento quanto o do Brasil hoje, ainda mais quando o financiamento para cultura (incluindo de forma bem direita os festivais) está sob questão. Era difícil não pensar nisso cada vez que passávamos pela entrada dos cinemas e víamos com destaque nos cartazes “o Ministério da Cidadania, Governo do Paraná e Copel apresentam…”. A simples mudança do ministério responsável, um lembrete bem direto sobre o momento presente. O perfil do Olhar de Cinema nessa oitava… CONTINUA

A sombra dos abutres

Poucos filmes foram mais influentes nos últimos 15 anos quanto No Quarto de Vanda (2000), de Pedro Costa. Ao lado de La Libertad (2001), de Lisandro Alonso, são filmes que serviram como ponto de partida para boa parte do cinema híbrido com preferência pela auto-ficção que passou a dominar cada vez mais certo universo de festivais (inclusive aqui no Brasil). O que por vezes se perde nos imitadores de Costa, porém, é que se seu cinema busca nas figuras que encontrou no bairro de Fontainhas tipos fortes sobre os… CONTINUA

Destino manifesto

A montagem de 15h17 – Trem para Paris reforça sempre a ideia de destino final, um funil que aponta para o encontro inevitável no trem do título entre os três protagonistas e o terrorista do ISIS que virão a desarmar. Algo reforçado pela opção por deixar que as primeiras etapas deste evento fatídico se desenrolem via flashforwards interrompendo periodicamente a progressão narrativa entre os blocos centrais da ação. Assim como no pouso forçado de Sully, Eastwood volta aqui seu foco para um evento dramático real… CONTINUA