Criação/Recriação/Invenção: notas sobre alguns filmes brasileiros na programação

É uma coincidência iluminadora que o Olhar de Cinema deste ano tenha exibido tanto O Bom Cinema, recente documentário de Eugênio Puppo sobre as origens do chamado cinema marginal, e a estreia brasileira de Capitu e o Capítulo, filme mais recente de Julio Bressane. Seria evidentemente muito injusto cobrar de Puppo um filme com a carga inventiva que Bressane emprega em toda sua obra. Os objetivos de O Bom Cinema são muito mais modestos. Mas a distância entre o cinema de invenção e um discurso… CONTINUA

A intenção como limite da imaginação

No dia-a-dia monótono e repetitivo da quarentena à brasileira, Allan Ribeiro e Brendo Washington compartilham o tédio e uma casa. Enquanto o som da TV invade o quadro e sinaliza o contexto político brasileiro de 2020, Allan filma os detalhes de algumas partes do corpo de Brendo. Proximidade estabelecida, uma conversa entre os dois se desenrola, até que o corte nos leve para a figura de Brendo, que está posicionado frontalmente à câmera, declarando que eles estão fazendo um filme e compartilhando qual é sua… CONTINUA

Ensaio enquanto filme, traição enquanto método

Como nos filmes que aqui serão comentados, esse texto se fará assumindo o gesto de costura de diferentes retalhos e derivando pelas pistas que as coincidências abrem. Partimos de um dos últimos filmes de Eduardo Coutinho, Moscou (2008) para pensarmos a relação entre ensaio e cinema, chamando atenção menos ao ensaio enquanto gênero do que justamente enquanto processo de criação. O inacabamento primordial de Moscou nos parece uma base para analisarmos alguns pormenores que constituem, por exemplo, o longa Esse amor que nos consome, de… CONTINUA