A sensação de um ar irresoluto

“A sensação de um ar irresoluto”. Com essa frase, Mercedes Gaviria termina seu primeiro longa-metragem. A sentença é antecedida por outras, afirmativas, enunciadas em voz over, diante de uma paisagem bucólica. Entre elas: “Eleger a distância perfeita” […] “O ponto de vista” […] “A beleza do ambíguo” […] Amar a contradição”. A Calmaria Depois da Tempestade (Como el Cielo Después de Llover, 2021) suscita muitas perguntas, algumas sem resposta, outras que a cineasta opta por não responder e ainda as que ela parece nem ao… CONTINUA

De Córdoba a Bariloche

Os anos 1990 estão com tudo: nas roupas, nas músicas, na política econômica. No Brasil, uma inflação galopante anuncia um possível retorno dos pacotes econômicos ao gosto do Fundo Monetário Internacional que foram mania nos anos 1980 e início dos 1990. Na nossa hermana Argentina, de 2015 a 2019, Mauricio Macri matou a saudade de quem sentia falta de Carlos Menem, e também a economia, com sua política de austeridade neoliberal. Não é coincidência que os dois filmes argentinos em exibição no 10º Olhar de… CONTINUA

Eleger a distância perfeita

O dispositivo: a câmera de segurança instalada pelo pai para descobrir quem está quebrando as janelas do carro. A narrativa: com intertítulos concisos, como os do cinema mudo, e a decupagem por zoom, vão se construindo os personagens e as suas mil e uma histórias. O som: a câmera de segurança parece não ter áudio. O mundo está distanciado, mas o desenho de som leva seus ruídos até o pé da nossa orelha. Os passos, os pássaros, os carros. O som preenche os pixels da… CONTINUA

Eu quero ser a uva pra ver tudo lá de cima

“Estão às minhas costas, um velho com cabelos nas narinas E uma menina ainda adolescente e muito linda Não olho pra trás mas sei de tudo Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo” Estrangeiro (1989), Caetano Veloso As Sete Idades da Mulher (1544), de Hans Baldung Grien “Aqui nessa imagem quem eu mais gostaria de ser?… uma uva! Porque se uma uva pudesse ver, ela veria tudo lá de cima.”. A fala é de uma menina de cerca de 12 anos de… CONTINUA

O que não se vê é quem dirige (o olhar)

Uma conversa entre Comment Ça Va (Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville, 1978) e Maso e Miso Vão de Barco (Coletivo Les Insoumuses, 1975) Ok, paramos por aqui. O que se vê? Isso é visto. Isso é visto. Isso é visto. E ouvido também. Podemos voltar a conversar sobre barulho. Mas o que não se vê é quem dirige. O quê? O olhar Releia seu texto. Nós vamos rever as minhas mãos agora. Minhas mãos vão um pouco a todas as direções Mas em um espaço… CONTINUA