Zé do Caixão: uma entidade, muitas possessões

1. Vejo unhas. Não as minhas, que esbarram em algumas teclas e letras enquanto digito estas primeiras palavras. Vejo as alongadas e tortuosas unhas de José Mojica Marins, o diretor, o corpo que por tantos anos encarnou o mesmo personagem, hoje arraigado no imaginário do terror brasileiro e mundial. Dizem que unhas e pelos continuam a crescer mesmo depois da morte. Imagino-as, enxergo-as agora, as unhas do ator Mojica, esticando-se, enquanto seu corpo acomoda-se no caixão que, por ora, abriga-o. São unhas que respondem à… CONTINUA

O autor é uma ficção? (trecho do livro “O autor no cinema”)

Este texto é parte da reedição recente do livro O autor no cinema, de Jean-Claude Bernardet, que conta com a colaboração de Francis Vogner dos Reis comentando de que forma sobrevivem algumas leituras de Bernardet. A parte aqui publicada corresponde aos itens 5 e 6 no capítulo “O autor é uma ficção?”, entre as páginas 204 e 212 da edição de 2018 pelas Edições Sesc. Nesse capítulo do livro, Francis comenta possibilidades de pensar formas de ser autor no contexto do cinema brasileiro, examinando os… CONTINUA

Mojica/Zé do Caixão/morto/vivo

O que pensa Zé do Caixão? O coveiro de uma pequena cidade no interior de São Paulo é visto pelos cidadãos como figurada assombrada, tipo folclórico que mete medo na população com suas ideias anticristãs. Zé se vê superior ao povo alienado pela religião, por Deus e por suas hipocrisias. O que o move é o desejo de encontrar uma “mulher perfeita, sem credo” para gerar o filho imortal. E assim, Zé sequestra mulheres e as coloca à prova de seus experimentos sádicos, chacoalhando a… CONTINUA

Visões do inferno – a força política das imagens de Mojica

Assim como existe o marxismo vulgar (aquele que, sem nenhum esforço dialético, reduz a produção sensível às condições materiais e faz de toda arte um mero produto de sua época), há também o politicismo vulgar. Isto é, aquele que automatiza a relação entre uma representação e os efeitos políticos de uma obra de arte, como se ver algo retratado no cinema – uma imagem, um discurso, uma ideologia – fosse sinônimo de transformar-se neste algo que se vê, independentemente, inclusive, da forma como se vê.… CONTINUA