Olho para todos os lados e vejo sexo e sangue

Delírio O gozo em José Mojica Marins é sanguinolento. O desejo é carnal no sentido mais literal possível: seus personagens transam e se devoram. A ambiguidade lexical de “comer” é, na filmografia dele, uma espécie de mantra que nos conduz sombra adentro do seu microcosmo do horror.  No episódio Ideologia de O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), conhecemos o porão das maldades do médico e professor Oãxiac Odéz, um dos personagens que habita o universo de Marins, que flerta com canibalismo e sadomasoquismo. A realização de… CONTINUA

Mojica/Zé do Caixão/morto/vivo

O que pensa Zé do Caixão? O coveiro de uma pequena cidade no interior de São Paulo é visto pelos cidadãos como figurada assombrada, tipo folclórico que mete medo na população com suas ideias anticristãs. Zé se vê superior ao povo alienado pela religião, por Deus e por suas hipocrisias. O que o move é o desejo de encontrar uma “mulher perfeita, sem credo” para gerar o filho imortal. E assim, Zé sequestra mulheres e as coloca à prova de seus experimentos sádicos, chacoalhando a… CONTINUA

Antiestética da voracidade

I. (desdobramento) A construção de uma misantropia contraditória, mistura anômala de ingredientes que não se encontram em qualquer prateleira: no caldeirão fervendo, jogue uma caricatura do Übermensch nietzschiano, uma visão bizarra da Virtù maquiavélica; uma pitada de Conde Drácula, uma de Dr. Frankenstein, outra de delírio solipsista, acrescente a sociopatia típica da classe média brasileira — paranoia armada, misoginia, homofobia, racismo… À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), o terceiro longa lançado em cinema dirigido por José Mojica Marins – o “cineasta do excesso e do… CONTINUA