Os corpos possuídos

Ao contrário do que aconteceu com os três primeiros filmes que fizeram parte da cobertura de Cannes esse ano, onde os diálogos entre as obras pareciam propor caminhos muito claros, inclusive por serem parte da seleção de uma mesma mostra (a competição principal), os três filmes desse texto são bastante diferentes em quase tudo – até porque vêm de três mostras distintas: competição, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica. No entanto, um aspecto que os atravessa de maneira transversal é a maneira como a… CONTINUA

Às armas, cidadãos

Não tenho lembrança da competição em Cannes começar com três filmes em diálogo tão claro e direto, entre si e com o mundo à sua volta. Vindos dos EUA, da França e do Brasil, os filmes de Jim Jarmusch, Ladj Ly e Kleber Mendonça Filho/Juliano Dornelles conversam não apenas pela chave mais fácil da incorporação dos códigos de distintos cinemas de gênero (filme de zumbi, filme policial, filme de ficção científica/ação/gore) mas principalmente pela forma como, ao propor um olhar absolutamente grudado no presente sócio-político… CONTINUA

Imagens para o amanhã

I. Do cotidiano: Grass A carreira de Hong Sang-soo reflete, piamente, um interesse pelos longos diálogos de plano único, uma intuição de que nos fugidios intercâmbios verbais entre duas ou mais pessoas, que se dispõem genuinamente à troca, pode-se mesmo encontrar o inestimável. O traço se repete em Grass, mas deixa de ser um dispositivo narrativo para se consumar como o retrato do mundo humano em si mesmo, como um sumário essencial das relações. Através de bate-papos, marcados por imponentes músicas clássicas, em cafés e restaurantes,… CONTINUA

Das formas de invenção do amor

A capacidade de emprestar presença a fantasmas e projeções é uma característica comum entre o discurso cinematográfico e o sentimento amoroso, e nos últimos dias as telas de Cannes estiveram especialmente povoadas por histórias ao redor dessas “encarnações”. Na competição, por exemplo, dois filmes asiáticos vieram propor olhares distintos sobre uma juventude “desencantada” e sua necessidade de tentar completar alguns de seus vazios através da projeção do desejo do amor em personagens que surgem repentinamente em suas vidas. No coreano Burning, novo filme de Lee… CONTINUA

Que gênero é o seu?

Todo ano essa cobertura acaba dedicando pelo menos um texto ao tema do “cinema de gênero de autor”, algo que todo festival atualmente busca contemplar, em algum espaço da sua grade (e onde cada filme é encaixado na programação geralmente deixa ver algo sobre como o festival vê o cinema de gênero, mas também cada filme individual). Trata-se de filmes que incorporam de maneira mais ou menos direta e frontal elementos do cinema de gênero (em muitos dos seus diferentes tipos), mas que buscam ter… CONTINUA

Na órbita dos cínicos

Raramente curadores são protagonistas. Seja em filmes, peças, novelas ou romances, um eventual protagonismo dessas poderosas personas da cultura contemporânea tende a ocorrer pelas coxias, entre os bastidores, distante dos holofotes. Em The Square – A Arte da Discórdia acompanha-se uma sequência de enganos que circundam Christian (Claes Bang), curador de um prestigioso museu em Estocolmo, na Suécia, capital dessa monarquia já acostumada a ser o cenário de flashes mundo afora num dos principais festejos ocidentais de cada ano, o Nobel. Mais do que retratar… CONTINUA