“Aqui não se anda só” – Entrevista com Ary Rosa, Glenda Nicácio e Moreira

O aparecimento no cenário público da Rosza Filmes, produtora sediada no Recôncavo Baiano e responsável pelos longas-metragens Café com Canela (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2017), Ilha (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2018), Até o Fim (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2020) e Voltei ((Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2021), é um dos eventos históricos mais importantes da última década do cinema brasileiro. Seu método de trabalho – que associa uma intensa coletividade no processo, uma relação forte com iniciativas de educação, uma ancoragem em… CONTINUA

Ilha, Travessia ou por um cinema negro desobediente

Ilha (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2018) narra o encontro entre um cineasta de sucesso, Henrique, sequestrado por um jovem, Emerson, que obriga o cineasta a fazer um filme sobre sua vida. O longa acompanha esse singular sequestro. Ao final, descobrimos que Emerson foi aluno de Henrique quando criança, em uma oficina educativa de vídeo. Através da disputa entre um cineasta consagrado e um jovem, que hoje trabalha como traficante, disputando o filme que vemos, é construída uma dramaturgia abismática de registros instáveis, que se estrutura… CONTINUA

A cine-ilha

Um bandido vaidoso, que vira as câmeras em direção a si. Um narcisista, um psicopata, um suicida. Quer viver no espelho criado através do cinema – talvez porque seja sua única chance de continuar existindo, ou de pelo menos tornar-se visível. A empreitada implica um gesto mirabolante, radical: tomar de assalto o cinema, sequestrar os olhos da sociedade. Mas esse gesto, no fundo, não se encerra nem no puro narcisismo, nem em um ato de justiça social pelo qual os invisíveis se tornarão visíveis. Trata-se,… CONTINUA

Cinema de Gira

Para esta conversa aqui, buscamos, em termos de método, nos aproximar de certas características que encontramos nos filmes dirigidos por Ary Rosa e Glenda Nicácio. Optamos, no texto, por nos deixar contagiar pela oralidade latente e por um inclinação de método, onde o ritmo, e uma certa velocidade e dinâmica das ideias prevalecessem sobre uma explicação esclarecedora do assunto. O que vocês vão ler é mesmo um diálogo, um chat, uma chuva de insights, e achamos por bem que conserve essa forma, de certa maneira… CONTINUA

Cantar no escuro, aprender a voz da noite

Fazer o caminho de volta demanda um corpo que guarde a estrada a ponto de saber narrá-la. Regressar – seja a mulher à sua casa, ou o cinema ao exercício de si – é tarefa que estremece o mundo tal como está. É justo aí, no instante do retorno, que o terceiro longa de Ary Rosa e Glenda Nicácio acontece. Passados 15 anos de distância, quatro irmãs regressam à sua cidade natal para sentarem-se juntas em uma só mesa, no correr de uma só noite.… CONTINUA

Cinema de reinvenção

“O oposto de coragem, curiosamente, não é o medo, é a covardia. Porque, ainda com medo, a gente anda. Medo é necessário, é atenção. É possível ter medo e coragem morando lado a lado, dentro da gente. Agora, covardia não. Covardia paralisa. Covardia anula. ‘O que o cinema quer da gente é coragem.’, seja coragem para fortalecer o que tiver de ser fortalecido; seja coragem para romper com o que tiver de ser rompido; seja coragem para revirar, virar e, de novo, revirar tudo. mas:… CONTINUA

Anotações tardias: “A culpa deve ser do Sol”

Zoe Leonard tem um poema: I want a dyke for president. O cenário da democracia representativa se perdeu no ralo da sarjeta de um esgoto fluorescente. Não sai tartaruga ninja daí. Era hora de explodir os bueiros. Mas na falta de renascença, falemos sobre pragmatismo pós-moderno. Eu quero alguém que se traveste, com dentes ruins, que comeu comida ruim no hospital, usou drogas e já cometeu desobediência civil pra presidente. Uma utopia: Linn da Quebrada pra cadeira. Jup do Bairro vice. Do primeiro minuto de… CONTINUA

Mas tinha que respirar

A presença do longa Café com Canela aqui no Festival de Brasília, especificamente disposto na mostra competitiva depois de Vazante e Pendular, provoca uma leitura de mudança de chave no cinema brasileiro. Independente dos seus méritos, os primeiros dois são filmes de fim de linha, de esgotamento de processos que chegaram ao limite. Não por acaso, o trajeto dos dois é marcado por grandes festivais europeus e coproduções internacionais. Eles carregam em si marcas de um processo de longo prazo, que tem em Terra Estrangeira… CONTINUA