O cinema canvas e o último respiro

Três prévias, Lumière: 1. Laveuses sur la rivière (1897) Ninguém duvida do esmero cênico dos primeiros filmes dos Lumière, mas este filme-plano, especificamente, parece destoante do imaginário que os irmãos fundadores evocam. As costumeiras linhas diagonais que denotam uma espacialidade mais aprofundada por entre camadas – primeiro, segundo, terceiro plano – dão lugar a uma impressão de achatamento, como uma superfície bidimensional. Sabemos que os elementos da parte inferior da imagem estão mais próximos do que os da parte superior, mas a distância é pouco… CONTINUA

A cena muda

A descrição da sessão de estréia de Era uma vez Brasília em sua cidade-título sugeriria ter sido uma ocasião muito adequada ao que o filme sugere buscar. Sala lotada, pessoas no chão, o diretor de Branco Sai Preto Fica apresenta seu mais recente filme. Começa a projeção e um problema se produz: Adirley Queirós – cuja imagem foi amplamente fetichizada por um certo olhar classicista que o elegeu como cineasta da quebrada da temporada, como Messias encarregado de encenar “nossa” revanche contra “eles” – lançou… CONTINUA

Qual é a ética diante das imagens violentas e perversas?

Hotel Nacional, novembro de 2001. Estamos numa das salas de debates do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Na plateia, há cerca de trinta pessoas, entre realizadores, jornalistas e críticos frequentes no festival, como Luiz Zanin Oricchio e José Carlos Avellar. Na mesa, a mediação estava a cargo de Maria do Rosário Caetano e discutia-se quais seriam os motivos da “efervescência da cena cinematográfica pernambucana no contexto do chamado Cinema da Retomada”. Em certo momento, o cineasta Geraldo Sarno, que estava na plateia, pede a… CONTINUA

Fora da ordem

Hoje, tão fácil quanto produzir, editar, divulgar e distribuir imagens, é recusá-las. O mesmo clique que dispara também afasta e, assim, a roda do mundo (virtual) continua a girar entre a adoção e afastamento de um mar de pixels. Mas as imagens existem. Mais que nunca. Se elas mantinham um valor de ícone ligado a rituais muito concretos da comunidade, servindo como mediação entre seres humanos e instituições – a igreja católica desde a Idade Média, os Estados nacionais a partir do século XVI, e,… CONTINUA

O despertar dos vivos

A primeira imagem de choque em O Nó do Diabo é a cabeça de um homem negro explodindo com um tiro de escopeta. O atirador é um homem branco. Logo em seguida, o mesmo matador acerta uma jovem negra pelas costas. Estamos apenas com alguns minutos e o filme já nos lança no turbilhão de assistir àqueles corpos abatidos sob o jugo implacável de um jagunço moderno. A que (e a quem?) valem aquelas imagens num filme brasileiro hoje? Da cultura de um país que… CONTINUA

Mas tinha que respirar

A presença do longa Café com Canela aqui no Festival de Brasília, especificamente disposto na mostra competitiva depois de Vazante e Pendular, provoca uma leitura de mudança de chave no cinema brasileiro. Independente dos seus méritos, os primeiros dois são filmes de fim de linha, de esgotamento de processos que chegaram ao limite. Não por acaso, o trajeto dos dois é marcado por grandes festivais europeus e coproduções internacionais. Eles carregam em si marcas de um processo de longo prazo, que tem em Terra Estrangeira… CONTINUA