Verão do Soul (ou… Trilhas para o Woodstock Negro)

Para começo de conversa, nos orientamos na escrita desse texto pelo mesmo método de QuestLove: fazer anotações (ou traçar trilhas) motivados pelas sonoridades que realmente nos arrepiaram. Não por acaso, nos deixamos guiar pelos sons, sempre nessa busca incessante de traduzir para o texto a experiência de arrebatamento que tivemos com as músicas e a banda sonora. Portanto, para uma experiência mais completa e cheia de suingue, sugerimos que leiam cada trilha acompanhada da trilha musical correspondente. 1a TRILHA Em 2 de julho de 1960,… CONTINUA

Ilha, Travessia ou por um cinema negro desobediente

Ilha (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2018) narra o encontro entre um cineasta de sucesso, Henrique, sequestrado por um jovem, Emerson, que obriga o cineasta a fazer um filme sobre sua vida. O longa acompanha esse singular sequestro. Ao final, descobrimos que Emerson foi aluno de Henrique quando criança, em uma oficina educativa de vídeo. Através da disputa entre um cineasta consagrado e um jovem, que hoje trabalha como traficante, disputando o filme que vemos, é construída uma dramaturgia abismática de registros instáveis, que se estrutura… CONTINUA

Pós-escrito (ou por um cinema preto que não caiba)

Estas observações aqui abaixo continuam um diálogo que se deu nesta sequência de cartas pensando desafios do cinema negro hoje. As questões principais são: que comunidade negra de cinema se quer? Que forma ela tem? Que ideias a compõem? Nesta próxima década veremos inevitavelmente uma segmentação – é assim que mercados funcionam. Não só de mercado, mas de ideias. Coco Fusco falou outro dia: “não precisamos de arte nova, mas de instituições novas”. É claro que filme novo é sempre bom, porém a forma de uma… CONTINUA

Carta a Bruno Galindo (ou o bagulho é a prática)

Fala, Bruno. (Só pra relembrar a quem esteja entrando na conversa agora, que este texto continua uma troca que se inicia com o texto de Heitor Augusto , que teve uma resposta que escrevi aqui em 2018, e Bruno entrou na roda no mesmo ano.) Apesar dos dois anos de atraso, fiquei entusiasmado com o fato de tu responder ao que escrevi lá atrás. Então: sinto que nessa década que termina se constituiu uma rede razoavelmente densa junto às ideias que pairam sob as palavras “cinema negro”. Para além do… CONTINUA

Por uma fantasmagoria negra experimental

No atual ambiente de ações remotas dos festivais no Brasil, algo tem se repetido: amigos e amigas me falando pra ver A Morte Branca do Feiticeiro Negro, curta de Rodrigo Ribeiro. No segundo ou terceiro evento onde ele estava programado, consegui. A impressão é de que estamos diante de um grande filme que não barateia um dos nossos temas mais fundamentais e difíceis de abordar: “o rastro escravista brasileiro”, segundo Ribeiro. Um incomum filme de arquivo, como uma flecha de perturbação lenta, com uma ensaística… CONTINUA

“Saravá, my brother”

Antepalavra: Nos ciclos de apagamento e desmonte compulsório das instituições brasileiras, a dimensão da memória, inerente a qualquer ação cultural, vem com mais força à tona como sentimento coletivo. Tudo parece mais arriscado a ser o último filme, o último edital, o último texto, o último festival… Diante da sensação de fim de ciclo, o mergulho histórico é talvez uma das ações mais urgentes como munição para o porvir. Além disso, intuo que o meio cinematográfico brasileiro corre o risco de encarcerar sua própria perspectiva… CONTINUA