O mecanismo

Se a expressão “cinema de arte” tem alguma relevância, ela se refere principalmente à possibilidade de delimitar todo um “sistema”, termo aqui entendido como um modelo de exploração econômica e de possibilidade de financiamento de obras que engloba uma série de elos da cadeia do audiovisual, entre os quais os festivais seriam das mais centrais (e o Festival de Cannes, como o maior deles, especialmente) – não cabendo aqui nesse momento fazer nem uma defesa nem uma acusação, mas apenas constatar a sua existência. O… CONTINUA

Cinema de a(u)tor

Existe o dito de que se o teatro é a arte do ator, o cinema é a arte do diretor. Mais que compreensível, dado que inegavelmente as performances do elenco sempre podem ser praticamente “reencenadas” através da montagem, que recontextualiza escolhas que a câmera já havia delimitado. No entanto, a definição também é incompleta na medida em que ao menos num certo universo de filmes, boa parte da sua força emana, ainda e sempre, dos corpos de seus atores, cujos personagens necessitam “encarnar” mais do… CONTINUA

Passeios no inferno

A competição de Cannes teve um aumento considerável da temperatura dos debates estéticos relevantes em questão de doze horas com a exibição dos novos filmes de Sergei Loznitsa e dos irmãos Safdie – dois filmes tão diferentes quanto se pode ver, vindos de cineastas ainda mais distintos, mas que têm a curiosa característica de acompanhar em linha reta a descida de seus protagonistas ao inferno num tempo bastante curto. Não deixou de ser uma coincidência fascinante que essas exibições tenham acontecido no mesmo dia da… CONTINUA