Filme ruim, a poesia de um mundo

Perversão (1978) – produzido, roteirizado, dirigido e estrelado por José Mojica Marins – é um filme ruim. Nada contra. O cinema brasileiro não é para fracos e, dos filmes ruins, podemos extrair a poesia de um mundo. Além disso, o Mojica setentista, em retrospectiva, parece cada vez mais interessante. Apresentado ao público em janeiro de 79, Perversão recria o tema da revanche feminina, clássico da década e que, no Brasil, gerou amplo imaginário – ainda que fragmentado, disperso. Vivíamos de comunicações precárias e governados por… CONTINUA

Visões do inferno – a força política das imagens de Mojica

Assim como existe o marxismo vulgar (aquele que, sem nenhum esforço dialético, reduz a produção sensível às condições materiais e faz de toda arte um mero produto de sua época), há também o politicismo vulgar. Isto é, aquele que automatiza a relação entre uma representação e os efeitos políticos de uma obra de arte, como se ver algo retratado no cinema – uma imagem, um discurso, uma ideologia – fosse sinônimo de transformar-se neste algo que se vê, independentemente, inclusive, da forma como se vê.… CONTINUA

Antiestética da voracidade

I. (desdobramento) A construção de uma misantropia contraditória, mistura anômala de ingredientes que não se encontram em qualquer prateleira: no caldeirão fervendo, jogue uma caricatura do Übermensch nietzschiano, uma visão bizarra da Virtù maquiavélica; uma pitada de Conde Drácula, uma de Dr. Frankenstein, outra de delírio solipsista, acrescente a sociopatia típica da classe média brasileira — paranoia armada, misoginia, homofobia, racismo… À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), o terceiro longa lançado em cinema dirigido por José Mojica Marins – o “cineasta do excesso e do… CONTINUA