Filme ruim, a poesia de um mundo

Perversão (1978) – produzido, roteirizado, dirigido e estrelado por José Mojica Marins – é um filme ruim. Nada contra. O cinema brasileiro não é para fracos e, dos filmes ruins, podemos extrair a poesia de um mundo. Além disso, o Mojica setentista, em retrospectiva, parece cada vez mais interessante. Apresentado ao público em janeiro de 79, Perversão recria o tema da revanche feminina, clássico da década e que, no Brasil, gerou amplo imaginário – ainda que fragmentado, disperso. Vivíamos de comunicações precárias e governados por… CONTINUA

Dar fim ao mundo, recomeçar o mundo

Em 1965, moradores do bairro de Watts, na periferia de Los Angeles, se revoltaram depois que policiais brancos tentaram prender de forma truculenta e arbitrária um jovem negro que dirigia embriagado. A atuação dos policiais, cada vez mais violenta, mobilizou uma multidão que, em pouco tempo, começou a se insurgir contra a opressão e o racismo em um conflito que durou quase uma semana e resultou em dezenas de mortes e milhares de feridos. Pouco anos depois dos Levantes de Watts (como ficaram conhecidas as… CONTINUA

Latitudes e partidas: o historiador da história

É caso a se pensar e debruçar, este das tarefas impostas ao cinema “de cima”, digamos, pela crítica. Por seus outros agentes de fabricação também, decerto, mas sobretudo por ela. Melhor dito: pela crítica no decurso do tempo, posto que a sedimentação sobre o eco reverberado costuma ser mais sólida e persistente que aquela feita sobre a rocha que objeta, e não por sobrepujança das forças ditas conservadoras. Aquela (crítica) que disser de certos filmes que estes podem reescrever a história, por exemplo, ou mesmo… CONTINUA