esboço de um começo sem princípio

Virgindade (2015) se mostra como um esboço. Os primeiros ensaios de um menino que é arrebatado pelo seu desejo por outros meninos. Esboço não no caráter transitivo ou provisório, que antecede obra final, mas em sua natureza mesma de primeiros riscos. Folha de vida, em estado de aurora, que começa a ser desenhada em rudimentares garatujas. O curta de Chico Lacerda soma corpo ao insólito repertório de cinemas que se deixam ocupar por vislumbres de uma infância kuir. Entre as fendas comuns que marcam o… CONTINUA

Da arte do constrangimento ou O cosmopolitismo venceu

Uma questão de arquitetura O mais fascinante da arquitetura é que o que ela determina nos modos de vida, o faz quase sempre muito sorrateiramente. Não em princípio. Primeiro se impõe de forma abrupta: demole-se um morro, abre-se uma avenida, eleva-se um prédio. Os barulhos da obra atrapalham. Mas aos poucos tudo isso se naturaliza, até que suas determinantes funcionais são esquecidas. Elas tendem à amnésia, mas continuam estabelecendo um mundo. E mais: lembrar sua raison d’être não promove mudança nenhuma. O que leva a… CONTINUA

As pulsões do cinema de Philippe Grandrieux

1 Desde que defini-lo como cineasta passou a ser mais adequado que artista plástico, realizando obras destinadas à exibição em salas de cinema e não museus, Philippe Grandrieux se tornou rapidamente uma das principais referências do cinema contemporâneo mundial ao conquistar prêmios importantes em festivais como Locarno e Veneza. O francês despontou ainda na videoarte, trafegando entre inúmeros trabalhos para TV, museus, performances, curtas experimentais e documentários, antes de finalmente realizar os quatro longas – Sombras (1998), A Vida Nova (2002), Um Lago (2008) e… CONTINUA

Mecânica e pulsação

A silhueta de um mistério No ano passado, Kaili Blues (Lu bian ye can), longa de estreia do jovem diretor chinês Bi Gan, se impôs como uma das mais alardeadas novidades cinematográficas do circuito de festivais. Vencedor do prêmio de melhor direção da seção Cineasti del Presente em Locarno, o filme arrebanhou adjetivos generosos de revistas como Cahiers du Cinéma, Cinema Scope e Film Comment, e foi aclamado pelo crítico J. Hobberman – não exatamente um acadêmico subserviente aos ideais da alta cultura – como… CONTINUA