Deixa eu pintar o meu nariz

Qual a natureza desta sensibilidade que surge do nosso olhar demorado sobre rostos cansados, maquiagens e adereços exagerados, cobrindo-lhes como procurando dar cor ou vida ao que parece sucumbindo à exaustão; corpos brutos enfurnados entre paredes carcomidas, mas cobertas por um véu rosa-choque translúcido e brilhante, coloridos por luzes como as das árvores de natal e embalados por músicas pops e bregas? Estes rostos andróginos, cheios de rugas, vestindo-se como personagens dos mais clássicos filmes ou cosplay de super-heróis norte-americanos, como que vivendo a ressaca… CONTINUA

Ouvindo com olhos livres

O dicionário Houaiss registra, no sentido figurado, duas acepções para “caleidoscópio”: 1) “conjunto de objetos, cores, formas etc. que formam imagens em constante mutação”; 2) “sucessão vertiginosa, cambiante, de ações, sensações”. A palavra foi adotada em 2018 para nomear uma mostra paralela do 51o Festival de Brasília composta por cinco longas-metragens que, segundo texto do catálogo do evento (repetido diariamente por um apresentador antes de cada sessão), abriam espaço “para realizadores que se arriscam muito, em suas propostas absolutamente únicas e pessoais (seja no sentido… CONTINUA

A espessura do artifício

Alguns retratos em luz baixa e cores vivas apresentam as figuras que habitam o universo de Inferninho: no interior do bar homônimo, os clientes daquela noite se sentam à mesa para ouvir a cantora Luizianne (Samya de Lavor). Entre elas, um Wolverine, uma Mulher Maravilha, um Mickey, um Homem-Aranha. A intriga começa quando Deusimar (Yuri Yamamoto), dona do bar, vive uma paixão arrebatadora com a chegada inesperada do marinheiro Jarbas (Demick Lopes), que também desperta os desejos de Luizianne. O ciúme dispara o melodrama de… CONTINUA