A metafísica do cinema de Eugène Green

Em Todas as Noites (2001), primeiro filme de Eugène Green, há um momento em que Jules (Adrien Michaux) discute com seu professor de literatura. Perguntado sobre o que seria a poesia, ele responde: “a poesia é a presença manifestada na linguagem de uma ordem universal que se pode sentir quando se está sozinho numa igreja”. Encontraremos uma caracterização da arte semelhante, desta vez em La Sapienza (2014), quando Godofredo comenta sobre a arquitetura: “Em todos os templos, sentimos uma presença. O arquiteto deve convocá-la.” Esta,… CONTINUA

A primeira pancada

Tamanha a estupefação diante da superficial profundidade do riso causado por Eugène Green neste curto – curto como um golpe – Como Fernando Pessoa Salvou Portugal, somente uma lenda pode introduzi-los, o filme, a gargalhada, a travessura custosa que é a poesia. Lembramos bem (grande parte de nós?) do monólito escuro de Stanley Kubrick à aurora da humanidade, do fantasmático ressoar de ‘Rosebud’ pelos corredores do império morto do magnata Charles Kane, da diabólica orquestração em agudos de pássaros assaltando uma cabine telefônica com uma… CONTINUA