Uma vela acesa à luz do dia: estados alterados da ficção no cinema de realizadores indígenas

Quando o protagonista indígena de Uirá, um Índio em Busca de Deus (Gustavo Dahl, 1973) decide deixar a família para trás e partir numa corrida desenfreada em busca da divindade que o fizera abandonar a aldeia, todo o filme muda subitamente de tom, abandona o compasso da ficção realista que acompanhava o percurso de Uirá e adquire por um momento as texturas visuais e sonoras de um conto mitológico. Em Pirinop – Meu Primeiro Contato (Mari Corrêa e Karané Ikpeng, 2007), a reencenação da expedição… CONTINUA

A eminência do corpo

Embora erguido sobre muito sangue indígena, o Brasil filmado por A Febre é um país em ruínas: desemprego, desmatamento, falência das fábricas, transporte público precário e hospitais abarrotados. Em lugar da formação de uma nação pujante e industrialmente desenvolvida, o Brasil teria se tornado um mero exportador de produtos primários (ou tão somente “montados” no país) e importador de alta tecnologia das grandes potências. A produção cede lugar à circulação na mesma medida em que o tipo ideal do trabalhador brasileiro não é mais o… CONTINUA

Esconde-esconde

Yãmiyhex – As Mulheres-Espírito se dá por um inusitado fio de enlace entre o dito e o não-dito. À primeira vista, as pistas estão todas aí: o filme retrata o acompanhamento da festa das Yãmiyhex na sua periódica visita ritual aos Tikmũ’ũn que residem na Aldeia Verde (Apne Yixux). Se o ponto de partida ainda soar distante, não há problema, a história de fundação das Yãmiyhex será narrada e reencenada pelo prólogo que abre a obra. Essas mulheres-espírito são evocativas do momento de conflito decisivo… CONTINUA