bloco de mostra
Notas e dicas da programação da Mostra
de SP Dia 01/11, Quinta - dicas
por Eduardo Valente
Último dia de Mostra (sem contar a repescagem, claro, cuja prograamação
ainda não foi anunciada, e por isso mesmo não sabemos quais filmes
ainda será possível ver ao longo da próxima semana). Além
do cansaço natural (e de um certo e notável fastio, quase tão
grande quanto as saudades antecipadas deste mês meio insano entre Rio e
SP), é hora de pegar o último fôlego e tentar dar conta do
que ainda não se viu. No caso da Cinética (e deste que aqui escreve),
isso significa priorizar hoje A França, de Serge Bozon (Espaço
Unibanco 3, 18h30) e Calle Santa Fé, de Carmen Castillo (CineSesc,
21h00), filmes que temos recomendado ao longo da Mostra baseados em tudo que ouvimos
deles desde Cannes, mas que só agora finalmente poderemos ver. É
o mesmo caso (mas este infelizmente não conseguiremos ver, salvo uma nova
sessão na repescagem) de Beaufort, do israelense Joseph Cedar (Cinemateca
BNDES, 22h00).
Entre os que já vimos e passam hoje, recomendamos
atenção maior aos que não têm lançamento previsto
no Brasil, é claro, como é o caso do bastante único (e, por
incrível que pareça, numa Mostra de quase 300 filmes isso é
uma qualidade e tanto) En La Ciudad de Sylvia (Bombril 1, 20h50) ou do
singelo documentário caseiro de Arnaud Despleschin, A
Amada (HSBC Belas Artes, 16h10). Também é o caso do cinema
absolutamente peculiar de Youssef Chahine, com seu Caos
(Bombril 2, 16h00) e de, pelo menos até onde sabemos, Canções
de Amor, de Christophe Honoré (Cinemateca BNDES, 18h50).
Entre
os que têm lançamento garantido, claro que a maior parte dos olhares
se voltará ao novo (e ótimo) filme dos irmãos Coen, Onde
os Fracos não Têm Vez (Memorial da América Latina, 21h00),
mas para quem não curte tanto assim salas lotadas e cerimônias de
encerramento de mostras e festivais, como é o meu caso pelo menos, vale
deixar para (re)ver em fevereiro mesmo, um cinema perto de nós. Para estes,
a dica é terminar a Mostra com a sessão dupla que o Arteplex proporciona
com dois nomes absolutamente distintos mas essenciais do documentário brasileiro:
Cao Guimarães (Andarilho
passa às 18h00 na sala 4) e Eduardo Coutinho (Jogo
de Cena, 19h30, mesma sala). O segundo estará nas salas daqui a
pouquinho, mas como não há previsão ainda para o lançamento
do primeiro, esta sessão dupla é quase irresistível.
Dia
31, Quarta - dicas por Eduardo Valente
O penúltimo dia de programação regular da Mostra prometia
ser um dia todo dedicado a Jia Zhang-ke, que tem um encontro marcado com os frequentadores
do evento às 21h50 no Clube da Mostra. Em homenagem a isso, a boa sala
do Arteplex 2 passa o dia todo dedicada aos filmes do ralizador, com exibições
de Em Busca da Vida (13h30), O Mundo (15h30), Dong (18h00)
e Inútil (19h20). Quem
já tiver visto alguns destes poderia complementar a carreira do cineasta
com seus outros filmes, que passam na FAAP (Prazeres Desconhecidos, 11h00;
e Plataforma, 15h00) e no Olido (Pickpocket, 17h00). No entanto,
o leitor vai ter notado que uso o condicional o tempo todo e isso se dá
pelo fato de que ouvimos relatos de pessoas que tentaram assistir pelo menos Pickpocket,
O Mundo e Prazeres Desconhecidos (justamente os filmes mais raros
do diretor no Brasil) e se depararam com cópias em digital de baixa qualidade,
nos remetendo às tristes exibições de Still Life - Em
Busca da Vida na Mostra do ano passado. Claro que pode-se argumentar que qualquer
Jia é melhor que nenhum Jia, mas ao custo de 13 reais por filme, será
que vale mesmo a pena assistir essa "homenagem"? Melhor ver apenas o
novo filme (cuja cópia digital está bastante decente), e quiçá
Plataforma e Em Busca da Vida que, por terem sido lançados
no Brasil, supomos estar com cópias em película (será?).
Quanto aos outros, melhor apelar aos DVDs estrangeiros em casa, ou aos emule da
vida.
Para quem não tirar o dia para o chinês, há atrações
ao longa da programação - curiosamente sempre mais que uma por horário.
No começo do dia, a disputa é entre o Redacted de Brian De
Palma (CineSesc, 13h30) e o azarão Calle Santa Fé (HSBC,
12h40), que pode resultar numa bela surpresa. Em seguida, a opção
deve ser feita entre quatro filmes "menores", mas de interesse: o singelo
Caixas, de Jane Birkin (Arteplex
1, 15h10), o ousado Help Me Eros,
de Lee Kang-sheng (Cinemateca Petrobras, 15h50), o desconhecido romeno O Resto
é Silêncio (Espaço Unibanco 3, 15h10) ou o africano Baara,
do grande Souleymane Cissé (CineSesc, 15h10 - embora, infelizmente a mostra
da FEPACO esteja em cópias digitais de pouca qualidade, também).
Nos
dois horários da noite, também é preciso optar. Primeiro,
entre a certeza de um filme de David Cronenberg (Senhores do Crime, CineSesc,
19h20), que no entanto tem estréia assegurada; ou os menos certos, mas
mais raros, israelenses Beaufort (HSBC, 19h30), ganhador de prêmios
em Berlim, e A Retirada, de Amos Gitai (Arteplex 1, 18h40). Mais tarde,
uma vez que o destaque absoluto de One + One (Arteplex 3, 22h00), de Godard
promete estar lotado (e, de novo - que saco! - em cópia digital ruim) o
melhor programa pode ser conferir a última sessão do forte (e sem
lançamento no Brasil) Antes que
Eu Esqueça (Espaço Unibanco 3, 22h50). Ah, sim: e de última
hora entrou no cardápio finalmente o Go
Go Tales, de Abel Ferrara, com uma sessão não programada
no CineSesc, às 23h00. Nada mal...
Dia
30, Terça - dicas por Eduardo Valente
Curiosamente, a Mostra vai acabando e assim os filmes se espalham em suas
últimas exibições pelas salas mais tradicionais do evento.
Não há nesta terça um destaque em especial, mas vários
bons programas pelas salas. Possivelmente, o CineSesc concentre o maior número
de boas atrações do dia, principalmente no miolo da programação,
com o nacional A Casa de Alice
(17h00) e o delicioso - e doloroso - Em
Paris (18h50). Mas também há no mínimo curiosidade
pela programação "matutina" formada pela estréia
em longa do cearense Petrus Cariry, com O Grão (13h30) e o novo
filme do irregular cineasta sérvio (bastante exibido na Mostra) Goran Paskaljevic,
Os Otimistas (15h10). E também há interesse na dobradinha
israelense da noite, formada pelo novo filme de Amos Gitai, A Retirada
(20h40) e o popular A Banda
(22h50).
Mas, como dizíamos, está longe de ser a única
sala com bons filmes. Nos "complexos" com mais de um cinema, temos destaques
variados. O Arteplex abraça de vez o cinema de gênero, exibindo na
sua sala 1 o Robert Rodriguez "grindhouse" de Planeta Terror
(13h00) e o espanhol (apadrinhado por Guillermo Del Toro) O Orfanato (18h20).
Como este último está com estréia futura prometida, talvez
o fã do cinema de horror prefira arriscar-se com o menos previamente recomendado,
mas mais raro, Dente de Navalha (sala 2, 18h10). Entre os outros filmes
em exibição, atenção a Nome
Próprio, de Murilo Salles (sala 3, 16h20) e alguma curiosidade
por Kimera, dirigido pelo grande escritor (e não tão grande,
mas agradável cineasta) Paul Auster (sala 2, 21h50). Já no "complexo
da Cinemateca" também dá para montar um dia inteiro de programação
forte, especialmente à tarde, onde o leitor precisa decidir por conseguir
ver na bela sala BNDES ao filme de Brian De Palma que está lotando bastante,
Redacted (18h10); ou conferir a estréia brasileira de um filme muitíssimo
elogiado em Cannes, e que foi prometido pelo Festival do Rio mas acabou desprogramado
- o documentário Calle Santa Fé (sala Petrobras, 17h20) -
fica a dica para quem não conseguir ingressos para o primeiro. Além
destes, tem dois filmes de Civeyrac na sala BNDES (Todas as Belas Promessas
às 13h30 e Através da Floresta às 16h40) e mais um
do diretor de Em Paris, Christophe Honoré, Canções
de Amor (sala Petrobras, 21h50).
Completando o dia, as duas salas
do Bombril passam seus filmes mais interessantes no mesmo horário, com
Antes Que Eu Esqueça
na sala 1 (15h50) e Angel na sala
2 (16h00). É a mesma hora, aliás, do melhor programa do dia no HSBC
Belas Artes, onde se despede da Mostra a última loucura de Takeshi Kitano,
Glória ao Cineasta! (16h30). Já o Reserva Cultural faz uma
dobradinha das melhores entre os menos badalados com o ganhador do Leão
do Futuro de Veneza, o mexicano Zona do Crime (18h40), seguido do ganhador
do prêmio Jean Vigo, A França (20h30). E, finalmente, para
quem gosta de cinema de graça (e quem não gosta?), a FAAP abre o
dia com um dos irmãos Taviani (A Casa das Cotovias, 11h00), e o
Olido exibe o documentário de Arnaud Despleschin, A Amada (18h50).
Dia
29, Segunda - dicas por Eduardo Valente
Todos sabemos que a Mostra acontece de verdade nos seis ou oito quarteirões
quadrados entre a Paulista e a Augusta, indo do Arteplex ao CineSesc, do HSBC
(este ano) ao Reserva Cultural (desde o ano passado). Mas, nesta segunda, o verdadeiro
"mostrófilo" vai sentir vontade de pegar seu carro ou rachar
o táxi com três amigos até o Morumbi Shopping, pois o Cine
TAM(apesar do nome, er, desastroso) vai ter uma noite de gala, com duas grandes
estréias. Só que vai ser uma noite pesada, pouco festiva na tela,
com dois filmes tratando dos conflitos no Oriente Médio. Primeiro, passa
o filme israelense que deu a seu diretor, Joseph Cedar, o prêmio de melhor
direção no último Festival de Berlim: Beaufort (19h00),
sobre os conflitos entre Líbano e Israel. Depois é a vez do novo
filme de Brian DePalma, Redacted (21h20), que ganhou o prêmio de
direção em Veneza e promete mostrar as tropas americanas no Iraque
de uma maneira que certamente não vimos ainda - pelo menos no cinema. O
filme estreou em Veneza causando fortes impressões, o que já começou
a fazer no Brasil a partir da sessão de impresa no fim de semana, como
podemos ver aqui
e aqui. Com
certeza é dos mais esperados desta Mostra, e vale a viagem ao Morumbi.
Não
que o dia esteja fraco para quem resolver ficar no circuito mais tradicional da
Mostra: há inclusive a estréia de um outro favorito da Mostra (cujos
filmes têm sido, para este que aqui escreve, altamente irregulares, para
dizer o mínimo), o também israelense Amos Gitai, que exibe o seu
A Retirada pela primeira vez no evento, no Arteplex (sala 1, 19h00). Outros
dois destaques se devem a reprogramações da Mostra: na sala 2 do
Arteplex, entra na grade o documentário de Arnaud Despleschin, A Amada
(22h40); já no iG Cine, uma triste saída (a de Go Go Tales,
que a Mostra assegurou em email aos jornalistas que será exibido na famosa
"repescagem", encerrando a possibilidade do filme não passar
em SP) dará lugar desta vez a uma entrada e tanto, com uma sessão
extra de I'm Not There (21h20)
- que pode ser a mais "possível" de se conseguir ingressos já
que não estava no caderninho de programa e será numa sala grande
e menos central. Além destes, destaque ainda para mais uma sessão
de A França (Cinemateca Petrobras, 15h40); a primeira sessão
(neste ano) do belíssimo Prazeres Desconhecidos, de Jia Zhang-ke
(Reserva Cultural, 16h40); e, finalmente, um filme que nos chamou a atenção
pela reação apaixonada dos amigos que puderam vê-lo na primeira
exibição (e que certamente vamos conferir), En La Ciudad de Sylvia,
do espanhol José Luis Guerín (Espaço Unibanco 3, 15h30).
Para
o leitor que gosta de ficar em dia com o cinema brasileiro, amanhã passam
três dos filmes que mais discussões têm gerado desde suas estréias
brasileiras, no Festival do Rio: seja pela ousadia na estrutura dramática
de Corpo (Arteplex 4, 22h20); seja
pelas opções estéticas de Deserto
Feliz (Arteplex 3, 20h00); seja pela retomada de um determinado desejo
de cinema popular com Estômago
(Bombril 2, 16h00). Finalmente, é mais um dia para o cinéfilo fazer
a "maratona de perseguição ao homenageado", uma tradição
anual da Mostra: para acompanhar os filmes de Jean-Paul Civeyrac o leitor tem
que começar cedo, no CineSesc (Nem de Eva, Nem de Adão, 13h30);
decidir se prefere ver Fantasmas (Bombril 1, 16h30) ou Todas as Belas
Promessas (Espaço Unibanco 3, 17h10); e depois se deslocar até
a Cinemateca para ver Através da Floresta (sala Petrobras, 21h30).
Cá entre nós, Civeyrac não é nenhum Manoel de Oliveira
para merecer tanto esforço, né?
Dia
28, Domingo - dicas por Eduardo Valente
Difícil condenar quem se programar neste domingo para assistir a sessão
dupla de dois dos melhores filmes do ano (ok, é verdade que só vimos
um deles, mas isso não é motivo para não sermos superlativos),
o que é possível (se contar com alguma sorte nos horários
e atrasos), afinal se chega do CineSesc (onde passa I'm
Not There, de Todd Haynes às 15h00) até o Bombril 1 (Senhores
do Crime, 17h20), nos 5 minutos que separam o final do primeiro do começo
do segundo. No entanto, para além do risco envolvido na operação
e da correria que pode não ser a melhor das opções para se
ver estes filmes (além da garantia das sessões cheíssimas),
são filmes que temos certeza que vão ser lançados em breve.
Por isso, talvez valha a pena o leitor dedicar o domingo ao velho esporte de arriscar-se
em filmes desconhecidos.
Se é mais do que sabido que se trata de
um esporte arriscado, já que a Mostra de SP costuma exibir alguns filmes
francamente constrangedores entre suas "apostas", por outro lado o domingo
parece um dia bom para riscos minimamente controlados. Afinal, entre os filmes
menos badalados há pelo menos três que tiveram recepções
interessantes nos principais festivais de cinema do mundo, caso de Congorama
(Cinemateca BNDES, 21h20) em Cannes 2006, Réquiem (Espaço
Unibanco 3, 17h30) em Berlim 2006 e Nosso Reencontro (Cinemateca Petrobras,
17h50) em Cannes 2007. Além destes, há dois filmes já vistos
e elogiados por amigos: Ararat - 14 Visões (Reserva Cultural, 17h20),
certamente um dos filmes mais radicais da Mostra; e Londres
Proibida (Arteplex 1, 20h00), indicado como boa surpresa pelo nosso redator
Ronaldo Passarinho. Finalmente, há alguns riscos menos referendados mas
que podem render algo, como o chinês Latidos da Tarde (Arteplex 1,
18h30), o israelense Gesto Obsceno (Arteplex 1, 13h00) e o francês
24 Medidas (Centro Cultural São Paulo, 20h10), dirigido pelo ator
principal do marcante O Pequeno Tenente. Podem até se revelar grandes
roubadas - mas afinal o que seria da Mostra sem sua dose de roubadas?
Já
para quem prefere resultados garantidos, recomenda-se o passado mais do que seguro
de Tabu, de F.W. Murnau (CineSesc, 17h30), de Rolling Stones - Sympathy
for the Devil, de Godard (Bombril 1, 13h30) ou de Pickpocket, o primeiro
filme de Jia Zhang-ke - e o único completamente inédito em cinema
no Brasil (Arteplex 1, 16h30). Também não custa chamar a atenção
de novo para aquela que promete ser, agora sim, a última sessão
de A Questão Humana,
de Nicolas Klotz, programada já no andamento da Mostra (Arteplex 1, 21h40).
E falando em reprogramações, vale avisar também de um filme
que NÃO será exibido: Go Go Tales, de Abel Ferrara, infelizmente
teve suas sessões canceladas (não sabemos ainda se de maneira permanente
na Mostra), e por isso NÃO passa amanhã no Cine TAM.
Por
último, fica a sugestão de um curioso porgrma duplo que chama a
atenção não pela semelhança, mas pelo contraste entre
os filmes: no Memorial da América Latina (portanto, com entrada gratuita),
o leitor pode ver dois filmes exibidos na competição de Canens deste
ano que olham para o ser humano por pólos absolutamente opostos. Primeiro,
passa Import Export, de
Ulrich Seidl (18h00), que no link acima o leitor pode ver o que achamos dele.
Depois, porém, se o leitor aguentar até o final (e não diga
que não avisamos - e só mencionamos ele aqui afinal a sessão
é de graça), ele pode recuperar alguma fé na raça
humana (e na raça dos cineastas, principalmente) com Canções
de Amor, de Christophe Honoré (20h30).
Dia
27, Sábado - dicas por Eduardo Valente
O principal destaque do sábado é o chamado de atenção
do leitor para as reprogramações que estenderam a carreira de alguns
filmes bem importantes na Mostra, e que o caderninho original de programação
não terá registro. São três as sessões "fundamentais"
do dia, mas infelizmente duas dela batem horário: sucesso até certo
ponto inesperado de público, o fortíssimo A
Questão Humana, de Nicolas Klotz, passa neste sábado às
22h30, no Arteplex 2 (e tem mais uma sessão nova amanhã, atenção!),
enquanto lá no iG Cine pode-se ver a sessão-extra da homenagem de
Takashi Miike ao spaghetti western, com Sukyiaki Western Django
(23h50). A outra substituição é numa sala bem menos atraente
por si, mas por outro lado que tem o interesse de exibir os filmes de graça
e de possibilitar uma sessão final de um filme que tinha se despedido ontem
da Mostra: Vocês,
os Vivos passa na FAAP (19h00).
Feitas as alterações,
quando voltamos para o nosso caderninho amarelo da Mostra vemos que, assim como
aconteceu na sexta, as principais atrações do sábado se acumulam
no horário noturno nobre. É o caso das duas estréias mais
aguardadas do dia: Into the Wild, de Sean Penn (Cinemateca BNDES, 21h40)
e Senhores do Crime, de David Cronenberg (HSBC Belas Artes, 22h00). São
ambos filmes com estréias em circuito mais que assegurada, mas o leitor
mais apressado deveria priorizar o filme de Penn, nem que seja pelo simples fato
de que a sala onde será exibido é infinitamente superior à
do canadense - que passa em outros dias e horários em cinemas melhores.
No entanto, um programa realmente especial é pegar a sessão dupla
de filmes de Christophe Honoré no Bombril 1 (cinema que realiza dobradinhas
de programação pelo terceiro dia consecutivo!). Não chega
a ser a estréia dos filmes na Mostra, mas é como se fosse:
Em Paris (21h00 só passou no Morumbi, e Canções
de Amor (22h50) estreou reprogramado em cima da hora na FAAP. Mas o mais
legal mesmo é a chance de ver os filmes na sequência, num diálogo
absolutamente central para as obras. Diálogo que também se pode
fazer no Arteplex 1, ainda que de maneira menos orgânica, mas não
menos rica, entre os olhares de dois cineastas contemporâeos entre si para
a juventude (que sempre foi tema de vários de seus filmes, de alguma maneira):
tratam-se de Murilo Salles, com Nome
Próprio (21h10); e Gus Van Sant, com Paranoid
Park (23h20).
O sábado é também a chance do
leitor começar a acompanhar a retrospectiva mais misteriosa (e por isso
mesmo, talvez, a mais atrativa) da Mostra: aquela dedicada ao cineasta francês
Jean-Paul Civeyrac, que não conta nem como reconhecimento mundial do seu
contemporâneo Jia Zhang-ke nem com a carreira longa de seu conterrâneo
Claude Lelouch - dos quais, aliás, o sábado traz dois dos melhores
filmes a ver/rever: O Mundo, de Jia (Reserva Cultural, 18h10) e Um Homem,
Uma Mulher, de Lelouch (Cinemateca BNDES, 13h00). Mas, voltando a Civeyrac,
o sábado dá a chance para os mais fominhas de ver três de
seus filmes na sequência: Nem de Eva, Nem de Adão (Espaço
Unibanco, 17h00); Os Solitários (Arteplex 2, 19h00); e Fantasmas
(Arteplex 3, 21h20). Tal fato é uma raridade nas retrospectivas da Mostra,
famosa por programar filmes dos retrospectados coincidindo o horário e
dificultando a vida de quem quer acompanhar um autor de perto - e só para
comprovar o que dizemos, o leitor que quiser priorizar Civeyrac amanhã
não conseguirá encaixar o seu O Doce Amor dos Homens (Bombril
1, 17h40), que mata outras duas sessões. É sentar com o livrinho
amarelo e fazer malabarismo de programação nos próximos dias,
em que seus filmes coincidem quase sempre.
Mas, convenhamos, talvez a dica
do dia mesmo seja ir ao CineSesc de tarde conferir a primeira sessão da
cópia restaurada do Tabu de F.W. Murnau (17h30). Afinal, por mais
que a Mostra nos leve sempre a um profundo mergulho no cinema de hoje, não
custa nada lembrar, rever, e ainda se surpreender com a força de filmes
feitos há quase 100 anos.
Dia 26,
Sexta - dicas por Eduardo Valente
É claro que o motivo é mais do que lógico: o fim de noite
nas sextas é um dos horários mais nobres da Mostra. Mas, mesmo entendendo,
o cinéfilo vai ter que se virar para conseguir ingressos para a avalanche
de sessões importantes da Mostra que se acumulam na noite de sexta. Se
ficarmos só na "região central" da Mostra (leia-se Paulista/Augusta),
já vemos a superposição de horários de Paranoid
Park (Reserva Cultural, 22h40), A Idade da Terra (Espaço
Unibanco 3, 22h10) e Sukyiaki Western Django (HSBC Belas Artes, 22h00),
sendo que este estréia de fato na Mostra depois de ter sua sessão
de segunda passada cancelada em cima da hora. Mas o destaque maior mesmo é
a única sessão dupla a ter sido programada no Festival do Rio ou
na Mostra de SP dos dois filmes que compõem o programa "Grindhouse":
o Bombril 1 exibe em sequência Planeta Terror, de Robert Rodriguez
(22h00) e À Prova de Morte,
de Tarantino (00h00). Depois da sessão dupla de Mojica ontem, o Bombril
se afirma assim como templo do cinema de gênero na Mostra de SP.
Mais
cedo a opção é mais fácil, e menos badalada: no CineSesc
tem dobradinha de belos pequenos filmes presentes em Cannes 2007, com o francês
Antes que Eu Esqueça
(18h20) e o sueco Vocês, Os Vivos (20h20), que se despede da programação.
A única competição real no horário ali no centro da
Mostra curiosamente são as duas únicas sessões de maior interesse
no dia inteiro de programação das 4 salas do Arteplex: por um lado,
temos Andarilho (Arteplex
3, 19h30), o novo documentário sensorial de Cao Guimarães; por outro,
o filme em seis episódios O Estado do Mundo (Arteplex 1, 20h10),
que tem causado considerável discussão.
Mas, fora do "centro
nervoso", há bastante a se destacar nas salas geralmente mais vazias
da Mostra. No iG Cine, por exemplo, a noite fecha com o hipnótico Le
voyage du ballon rouge, de Hou Hsiao-hsien (20h50), seguido do Godard de One
+ One (23h00). Não é por nada não, mas a ida à
Fradique Coutinho talvez se revele a grande sacada da noite... Embora haja ainda
duas opções mais escondidas ainda (e por isso mesmo mais vazias,
o que é sempre um atrativo a mais): no Memorial da América Latina,
estréia na Mostra A França, de Serge Bozon (20h10), filme
que teve uma presença forte na Quinzena dos Realizadores de Cannes 2007,
e que ganhou recentemente o prêmio Jean Vigo na França (dado para
o filme mais "inventivo" do ano). Já na Cinemateca, na sala BNDES,
uma sessão dupla curiosíssima fecha o dia: primeiro, o documentário
A 15a Pedra (20h00), que coloca para conversar Manoel de Oliveira e João
Benárd da Costa, dois dos maiores e mais instigantes nomes do cinema português;
e em seguida passa o belga Ben X - A Fase Final (22h20), cuja maior curiosidade
é ser um filme que teve parte de suas imagens realizadas através
de um game online, com jogadores "interpretando" papéis. Novidade
boba e fútil? Talvez, mas sem dúvida dá vontade de saber
no que dá.
Dia 25, Quinta - dicas
por Eduardo Valente
A primeira semana de Mostra termina com um dia de dobradinhas. Pois é,
os destaques todos da programação vêm de dois em dois - o
que é muito mais agradável para quem já se dispõe
a sair de casa, enfrentar filas, etc. A grande sessão do dia, sem dúvida,
é a homenagem a José Mojica Marins que acontece de noite no Bombril
1: além de exibir dois trabalhos seminais do nosso principal cineasta de
gênero (À Meia-Noite Levarei Sua Alma e Esta Noite Encarnarei
no Teu Cadáver; às 19h10 e 21h00, respectivamente), o público
terá ainda o prazer de poder ver em primeira mão na tela grande
algumas cenas e o trailer do novo filme de Mojica (Encarnação
do Demônio), o primeiro em décadas, que já é um
dos mais esperados do cinema brasileiro para 2008. Como se fosse pouco, ainda
tem debate com o próprio Mojica, depois do segundo filme da dobradinha.
Convenhamos: não dá para perder. No entanto, quem não concordar
com isso, tem como melhor programa noturno alternativo uma visita à bela
sala BNDES da Cinemateca, para ver o filme de Youssef Chahine, Caos (19h20)
e, na sequência, a primeira exibição do novo de Julio Medem,
Caótica Ana (21h40).
O meio da tarde também tem dois
destaques em dupla: no Reserva Cultural, pode-se começar a tarde desopilando
o fígado com o hilário Vocês, Os Vivos, de Roy Andersson
(16h10); e em seguida enfiar o pé na jaca das lágrimas, com a última
exibição, até a estréia comercial (sabe-se lá
quando) de Lady Chatterley
(18h00). Dobradinha bem mais harmoniosa une duas grandes atrizes francesas em
seus esforços (nada carentes de atrativos) na direção: é
no HSBC Belas Artes que se pode ver, na sequência, Atrizes, de Valeria
Bruni-Tedeschi (17h40), e em seguida Caixas,
de Jane Birkin (19h40) - ambos bastante corajosos na sua relação
nada naturalista com a idéia de urdir ficções e personagens.
Já o Arteplex, na sua sala 1, propõe uma dupla viagem por
opostos registros cinematográficos: primeiro, todo o artificialismo de
coração grande de Wes Anderson (com o longa Viagem
a Darjeeling sendo acompanhado pelo curta Hotel Chevalier, às
16h50); depois o realismo à toda prova do mexicano Cochochi (18h50),
que vem sendo muito elogiado desde o Festival do Rio. É algo parecido ao
que propõe o cardápio do Espaço Unibanco 3, começando
com o novo Tarantino (À Prova
de Morte, 13h30), depois radicalizando no desejo de naturalismo (nada
ingênuo) do brasileiro Mutum
(15h10), grande ganhador da Première Brasil do Festival do Rio. Quem escolher
qualquer uma das opções poderá ver que é tolice querer
escolher entre os registros: seja o desejo de real dos latino-americanos, seja
a pujança do cinema como objeto de vida própria na tradição
americana, o que importa é o talento de quem enquadra e encena.
Dia
24, Quarta - dicas por Eduardo Valente
Não é muito comum (ou melhor, é absolutamente raro) que
um dia inteiro de programação numa mesma sala da Mostra mantenha
uma regularidade mínima na qualidade dos filmes programados que permita
que eles possam ser chamados pelo menos de interessante. Mas, é o caso
amanhã na Cine Bombril 1 - que, quando o equipamento está bem regulado,
pode ser um bom cinema.
O dia por lá já começa com
uma estréia aguardada, o novo filme do egípcio Youssef Chahine (em
co-direção com Khaled Youssef), Caos (14h00). Na sequência
o intrigante filme argentino que ganhou o prêmio do júri e o prêmio
de melhor ator em Berlim neste ano, El
Otro (16h20). Os três últimos filmes do dia passaram em Cannes
2007: os dois primeiros, na Quinzena dos Realizadores - o libanês Caramel
(18h00), que tem feito razoável sucesso de público por onde passa
(e tem estréia no Brasil assegurada); e o brasileiro Mutum
(20h30), que faz sua estréia em SP. Finalmente, o dia fecha com o ganhador
da Palma de Ouro, o romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (22h00), que como
destacamos ontem, divide opiniões, mas tem força inegável.
Ali
do lado, no Bombril 2 (sala bem menos recomendável, aliás), estréia
o documentário de Arnaud Despleschin (diretor de Reis e Rainha),
A Amada (17h50). Fora do Bombril, o dia não é dos mais notáveis
na programação. Destaque forte somente para a chance de ver no telão
do CineSesc ao Lady Chatterley
(17h10); e para a segunda exibição dos filmes de Hou Hsiao-hsien
, Le voyage du ballon rouge (Arteplex 1, 19h00) e Takeshi Kitano, Glória
ao Cineasta! (Arteplex 3, 12h30) - o que já não é pouco.
O leitor ainda deve aproveitar a chance de ver o bom filme nacional Onde
Andará Dulce Veiga? (Arteplex 2, 15h30), pois ele ainda não
tem data de estréia e é filme para se ver numa tela bem grande.
Dia
23, Terça - dicas por Eduardo Valente
O desejo de hoje, contrariamente a ontem, era de indicar algumas estréias
de luxo na Mostra. Mas, dá um certo medo depois que seguimos nossa própria
indicação e fomos à FAAP ver filme de Takashi Miike, e ele
foi substituído em cima da hora, como já havia aconteceido com o
filme de Nicolas Klotz em sua primeira exinição. Fato é que,
já que a Mostra não faz como o Festival do Rio, que só libera
para retirada um filme depois de ter a cópia dele em mãos, algumas
vezes a primeira exibição de um filme revela-se uma tremenda roubada.
Ainda
assim, arrisquemos, nem que seja pela última vez, pois as estréias
desta terça são mesmo de gala: a começar por dois cineastas
asiáticos que, com mais de 20 anos como diretores de ponta, ainda conseguem
nos surpreender: tratam-se de Takeshi Kitano, cujo Glória ao Cineasta!
passa no Arteplex (sala 2, 19h00); e Hou Hsiao-hsien, que tem o seu Le voyage
du ballon rouge exibido amanhã pela primeira vez (Cinemateca-BNDES,
21h20). Pegando um táxi, se por acaso o Takeshi não atrasar, até
dá para ver os dois...
Mas, não são as únicas
estréias fortes do dia: temos ainda, por exemplo, o muito laudado filme
de Eduardo Coutinho, Jogo de Cena (Arteplex 1, 20h20), que aqui mesmo recebeu
textos de Cléber Eduardo
e Felipe Bragança, quando
de sua exibição no Festival do Rio. Outro filme que teve duas críticas
no Festival foi o ganhador da Palma de Ouro em Cannes, o romeno 4 Meses, 3
Semanas e 2 Dias, que Cléber
e Paulo Santos Lima analisaram com
perspectivas diferentes. Finalmente, ainda não escrevemos sobre ele, mas
Bamako, de Abderrahmane Sissako (Memorial da América Latina, 16h30)
foi muitíssimo bem recebido nos festivas de Cannes e do Rio de 2006.
Para
quem gosta de recomendações menos badaladas, dois destaques fortes
de amanhã são o argentino El
Otro (Arteplex 1, 18h40), ganhador de prêmios no Festival de Berlim
deste ano; e Munyurangabo (Espaço Unibanco 3, 15h10), que passou
com pouca atenção no Un Certain Regard de Cannes, mas que nosso
colega Pedro Butcher elogiou bastante. Finalmente, é hora de se despedir
dos dois Nic(h)olas franceses, com seus fortíssimos filmes: o Klotz, que
exibe pela última vez A Questão Humana (Arteplex 3, 12h30)
e o Philibert, com seu belo De Volta
à Normandia (Cinemateca - Petrobras, 18h50). E estes, não
custa lembrar, já estão com certeza com suas cópias em São
Paulo...
Dia 22,
Segunda - dicas por Eduardo Valente
Se a segunda-feira não chega a ser prodigiosa em termos de estréias de filmes
na Mostra, não se pode negar que o cinéfilo que se interessa por conhecer os mais
recentes filmes brasileiros pode aproveitar bastante o dia. Pode inclusive escolher
se prefere ver antes alguns filmes com estréia mais que assegurada, mas recebidos
com bastante polêmica e interesse em outros festivais, como é o caso de A
Casa de Alice (Arteplex 3, 20h30), Olho de Boi (Arteplex 4, 16h00)
ou Estômago (Reserva Cultural,
16h50); se prefere ver alguns filmes menos discutidos mas que causaram forte impressão
no Rio como Meu Nome é Dindi
(Espaço Unibanco 3, 22h10), Corpo
(Cinemateca-BNDES, 13h30) ou O
Engenho de Zé Lins (CineSesc, 13h30); ou se vai ser um dos primeiros a
conhecer títulos que estréiam na Mostra como O Grão (CineTAM, 21h00), Lado
B – Como Fazer um Longa sem Grana no Brasil (Arteplex 2, 20h50) ou o maior
destaque nacional do dia, Fuga sem Destino, do falecido Afonso Brazza (Cinemateca-Petrobras,
17h00). Entre os filmes que surgem pela primeira vez
na Mostra, o destaque maior vai mesmo para a primeira chance de ver o filme do
louco japonês Takashi Miike, que concorreu em Veneza: Sukiyaki Western Django
(FAAP, 19h00). Também pela primeira vez no Brasil, passa o novo filme de outro
louco, o espanhol Bigas Luna – Yo Soy la Juani (Arteplex 1, 14h40). Também
de tarde, o CineSesc recebe a estréia paulistana do esforço em seis de O Estado
do Mundo (16h40), que no Rio causou muitas opiniões discordandes sobre os
curtas de Chantal Akerman (tido como das melhores coisas do Festival por muitos,
odiado por alguns), Wang Bing, Pedro Costa e Apichatpong Weerasethakul – mas que
também causou triste unanimidade negativa sobre o trabalho do brasileiro Vicente
Ferraz. Finalmente, há que se destacar os filmes dos quais
já falamos bastante antes, e que o leitor, na média, certamente já retirou seus
ingressos e marcou no caderninho, como I’m
Not There (Reserva Cultural, 19h00), Vocês, Os Vivos (Bombril 1,
17h30) e Lust, Caution (CineSesc,
20h30). Mas, acima de tudo, é a última chance de ver (na Mostra pelo menos) dois
mestres: se despedem da programação Império dos Sonhos, de Lynch (Arteplex
1, 20h10) e Cristóvão
Colombo – O Enigma, de Manoel de Oliveira (Espaço Unibanco 3, 15h30). Dia
21, Domingo - dicas por Eduardo Valente
As duas melhores salas da Mostra exibindo dois dos melhores filmes do evento:
isso sim é terminar bem o primeiro fim de semana. Pena que o leitor precisa escolher:
ou assiste o hipnótico I’m Not There
de Todd Haynes na sala BNDES da Cinemateca (21h40) ou se delicia com a loucura
de Tarantino e seu À Prova de Morte
no CineSesc (22h40). OK, são dois filmes com estréias garantidas, mas só no ano
que vem! E quem quer esperar mais para vê-los, ainda mais nessas telas enormes??
São atrações tão grandiosas que até obscurecem a chance de se despedir gratuitamente
de Jacques Rivette e seu Não Toque no Machado, que já vai saindo de mansinho
da mostra, no Memorial da América Latina (21h00). Aliás,
o dia é prodigioso em belas atrações francesas, literalmente espalhadas pela cidade:
dois cinemas bem pouco “centrais” na Mostra terminam o dia com dois filmaços da
terra dos queijos e vinhos. No Cinemark Eldorado, deverá ser a primeira e única
chance de ver o Lady Chatterley
de Pascale Ferran num multiplex (21h30) – o que é tão mais curioso porque a diretora
se tornou este ano, com seu discurso ao ganhar o César, a ponta de lança do cinema
de autor na briga contra os exibidores e distribuidores estrangeiros. Bem mais
palatável ao grande público (embora certamente não vá ser lançado assim) é Em
Paris, que passa mais cedo (19h00) no CineTAM (velho Morumbi Shopping).
Pela distância, porém, e também pelo fato de que ambos já estão legendadíssimos
na tela para o lançamento nas salas, recomenda-se ao leitor que queira conhecer
dois filmes franceses menos badalados, mas igualmente essenciais, que fique mesmo
no centro nervoso da Paulista-Augusta, e faça sua difícil opção entre dois Nic(h)olas:
o Philibert (de Ser e Ter), com De
Volta à Normandia (Arteplex 2, 17h30); e o Klotz, com o petardo A Questão
Humana (Reserva Cultural, 18h20). Ah, sim: meio-dia passa
um certo Império dos Sonhos, de um certo David Lynch, no Bombril 1. Mas,
certamente, você não precisava que eu te avisasse isso, porque ou você já comprou
o seu ingresso ou a sessão já esgotou, né? Dia
20, Sábado - dicas por Eduardo Valente
Às vezes a programação da Mostra pode ser bem esquisita: o sábado, por exemplo,
começa com o novo e inédito filme de Jia Zhang-ke, homenageado da Mostra, passando
em plena hora do almoço, às 12h30 (Inútil, no Arteplex 3). É o dia começando
cedo, com a dobradinha obrigatória a ser completada em seguida com uma viagem
de ônibus ou metrô até a Vila Mariana, para aproveitar a rara chance de ver um
filme de Jonas Mekas em cinema no Brasil: Lost, Lost, Lost passa na Cinemateca,
15h50 (sala Petrobras). Mas, claro, saberemos perdoar o leitor que optar por começar
seu dia com Manoel de Oliveira (Cristóvão
Colombo – O Enigma passa às 14h no iG Cine); Jacques Rivette (Não Toque
no Machado, Espaço Unibanco 3, 13h30); ou com a primeira exibição brasileira
do novo filme de Béla Tarr, O Homem
de Londres (Bombril 1, 15h10). De fato, como
podemos ver pela sobreposição acima, o sábado não vai ser fácil para o cinéfilo
(especialmente o que não tenha passado antes pelo Festival do Rio), e queira montar
sua programação. No horário nobre noturno, por exemplo, há uma batalha de ícones
pop-musicais entre os Rolling Stones de Godard, em Sympathy for the Devil
(Reserva Cultural, 21h20) e a biografia de Ian Curtis, em Control (Arteplex
1, 22h40). Garantia de sessões hiper-lotadas, com certeza – assim como
as que encerram o dia no CineSesc (SOS Saúde, de Michael Moore, à meia-noite)
e iG Cine (Lust, Caution, de Ang Lee, às 23h00).
Até por isso, o leitor que não gosta muito de se bater por ingressos, nem de roçar
cotovelos ao longo da sessão pode optar por uma sessão dupla mais discreta, mas
igualmente imperdível, toda ela no Arteplex: o belo e hilário Vocês, Os Vivos,
de Roy Andersson estréia na sala 2 (20h40), e em seguida é só passar para a sala
4 para ver o pequeno grande filme de Jacques Nolot, Antes que Me Esqueça (22h40). Os
outros dois destaques do dia vão em caminhos bem distintos, dependendo do gosto
do freguês: enquanto no CineSesc pode-se ver, na bela tela do cinema, o perturbador
A Questão Humana (17h30), do francês Nicolas Klotz (filme que não deixa
pedra sobre pedra na percepção do espectador), a FAAP é o lugar para quem quer
não apenas ver filmes, mas conversar com seus diretores. Lá, um tanto fora do
centro nervoso da Mostra (e com entrada franca!), passam o novo filme de um outro
homenageado da Mostra, Claude Lelouch (Crime de Autor, 16h00) e o primeiro
filme dirigido pelo ator mexicano Gael Garcia Bernal (Déficit, 19h30).
Depois das sessões, o diretor de cada filme conversa com a platéia presente. Se
não são filmes que prometem muito, esta chance da conversa pós-sessão é sempre
um atrativo pelo ineditismo.
Dia
19, Sexta - nota por Ronaldo Passarinho
Curioso ver filmes de gênero como o francês Contra-Investigação, de
Franck Mancuso e o italiano A Garota do Lago, de Andrea Molaioli, numa
mostra como a de SP. Tecnicamente arrumadinhos e dramaticamente amarradinhos (e
previsíveis), são filmes policiais que não encontram abrigo em salas do circuito
comercial fora de seus países de origem. Mas, se alguns cineastas como Apichatpong
Weerasethakul e Carlos Reygadas têm dificuldades em ser exibidos no circuito comercial
e encontram seu nicho nos festivais e mostras de cinema, filmes como Contra-Investigação
e A Garota do Lago estão fadados a decepcionar quem procura em mostras
e festivais de cinema algo mais do que um passatempo: estão no purgatório dos
filmes que deveriam ter sido lançados diretamente em DVD.
Dia
19, Sexta - dicas por Eduardo Valente
Frequentar uma mostra é sempre questão de fazer opções:
ver este filme e não aquele, ir a este cinema e não àquele.
Pois a Mostra já começa forçando o espectador a tomar algumas
decisões, pois concentra as sessões mais fortes do dia num mesmo
horário. O leitor que quiser ir ao Unibanco Arteplex, por exemplo, tem
esta dura missão a definir: Jacques Rivette ou Manoel de Oliveira? A decisão
é especialmente curiosa uma vez que o novo filme de Rivette, Não
Toque no Machado (Arteplex 3, 21h30) tem muitas semelhanças com o cinema
de Manoel de Oliveira (cujo novo Cristóvão
Colombo - O Enigma passa às 20h50 no Arteplex 2), ainda que mais
diretamente com o Manoel de Oliveira da virada dos anos 70 para os anos 80 (cujos
filmes pudemos ver na Mostra há dois anos). Deixamos a dura missão
de escolher com o leitor. Mas não são
os únicos dois filmes que passam neste mesmo horário "nobre"
do fim da noite. O iG Cine (sala com nome novo, mas que é a velha Sala
UOL - houve uma troca de provedor, literalmente), por exemplo, tem uma noite de
gala logo na abertura, exibindo uma das versões do filme de Godard com
os Rolling Stones, Sympathy for the Devil (21h00); e logo na sequência
o novo David Lynch, de Império dos Sonhos (22h50). São quase
cinco horas de muito cinema - mas também a certeza de sessões mais
que lotadas. Com isso, deve sobrar um pouco de espaço na sessão
dupla que faz no mesmo horário o Reserva Cultural - e que, para nós
que cobrimos o Festival do Rio, tem o interesse de ser composta por filmes até
aqui inéditos no Brasil: começa com o novo François Ozon,
Angel (21h10); e depois passa o segundo filme realizado pelo ator-fetiche
de Tsai Ming-liang, Lee Kang-sheng, Help me Eros (23h40), que participou
da competição de Veneza neste ano. Se a noite
tem muitas atrações por toda a cidade, as melhores escolhas da tarde
parecem ter se concentrado nas duas salas da Cinemateca Brasileira (onde, infelizmente,
coincidem no horário e forçam uma escolha). Vindo do Festival do
Rio, passa o novo de Sidney Lumet, Antes
que o Diabo Saiba que Você Está Morto (sala Petrobras, 16h00),
filme perturbador e forte. Já a nova (e belíssima - talvez a melhor
sala de cinema da cidade) sala BNDES permite uma dobradinha de filmes que estréiam
agora na Mostra, com um viés mais popular: o israelense A Banda
(15h30), que foi muito bem recebido na Un Certain Regard do Festival de Cannes;
e o alemão A Vida dos Outros (17h10), ganhador do Oscar de filme
estrangeiro.
No entanto, como estes três filmes estão comprados
para lançamento no Brasil (o que nunca quer dizer muita coisa, em termos
de garantia de lançamento e de data, em especial), talvez a grande pedida
da tarde esteja mesmo na possibilidade de (re)ver A Idade da Terra, de
Glauber Rocha (iG Cine, 14h00), na tela grande e em versão restaurada.
É uma maneira sem dúvida excepcional de se começar uma Mostra.
E,dado o efeito do filme no espectador ao longo de suas quase três horas,
talvez a melhor opção seja deixar o fim da tarde livre para um café
e troca de idéias, depois migrando direto para o Arteplex para ver Diário
de Sintra (sala 4, 21h20). O filme de Paula Gaitán retrata
lindamente a passagem dela e de Glauber por Portugal, num dos documentários
em primeira pessoa mais belos entre os muitos que temos visto. No meio das muitas
opções de risco, é a certeza de começar a Mostra muitíssimo
bem.
Dicas gerais pós-Festival do Rio
por Eduardo Valente É
claro que a situação muda bastante nas nossas dicas pré-Mostra de SP e pré-Festival
do Rio, pelo simples fato de termos a cobertura deste ainda fresca na memória
ao começarmos a daquela. São mais de 40 filmes já criticados no começo do evento,
e vários outros aos quais já chamamos a atenção, mesmo sem termos conseguido dar
conta de escrever sobre todos (de vários esperamos dar conta agora, como Império
dos Sonhos e Não Toque no Machado, para ficarmos em dois dos mais importantes).
Por isso neste texto mais curto para falar de destaques da Mostra, vamos nos ater
simplesmente a tudo aquilo que não foi exibido no Rio. Primeiro,
vale passar uma pequena lista de filmes que já comentamos de maneira rápida na
cobertura de Cannes, e que o leitor pode aproveitar para (re)passar o olho rapidamente
antes da Mostra começar e de darmos conta em textos maiores. Entre estes, destaques
absolutos para os filmes de Hou Hsiao-hsien, Nicolas Klotz e Roy Andersson.
Atrizes,
de Valeria Bruni-Tedeschi Canções
de Amor, de Christophe Honoré Do
Outro Lado, de Fatih Akin Onde
os Fracos Não têm Vez, de Joel e Ethan Coen
A Questão Humana,
de Nicolas Klotz Vocês,
os Vivos; de Roy Andersson
Le Voyage du ballon rouge,
de Hou Hsiao-hsien
Da competição de Veneza,
ainda que algumas faltas nos doam bastante (principalmente as dos novos filmes
de Rohmer e de Abdellatif Kechiche – este ganhador de prêmios por lá), a inclusão
dos novos DePalma e Takashi Miike já nos deixam salivando – sem falar no novo
Takeshi Kitano, que veio da seção Mestres, e do competidor Lee Kang-sheng, com
Help Me, Eros. Vale ainda anotar que passa o ganhador do prêmio principal
da mostra Orizzonti, aquela voltada para os filmes mais arriscados – o mexicano
Zona do Crime. Já de Berlim, as duas principais adições são mesmo o novo
filme de François Ozon (Angel) e o ganhador do “segundo prêmio”, o israelense
Beaufort. De fato, impressiona na lista de São Paulo
a adição àquela do Rio de uma série de diretores com carreiras importantes no
cinema recente (além dos já acima citados) – indo dos mais discutidos (o novo
de Cronenberg ou Amos Gitai) aos nem tanto assim, mas importantes (como Youssef
Chahine, Arnaud Despleschin, Bigas Luna ou Julio Medem), chegando nos francamente
suspeitos (Giuseppe Tornatore, Paul Haggis ou Milcho Manchevski). Mas o fato é
que nenhum deles suplanta em surpresa e importância três eventos da Mostra deste
ano: a simples exibição de um filme de Jonas Mekas (Lost, Lost, Lost),
evento raríssimo; a dupla exibição dos dois cortes do filme que Jean Luc-Godard
fez com os Rolling Stones (One Plus One e Sympathy For the Devil);
e a mostra abrangentíssima e quase completa da carreira do chinês Jia Zhang-ke,
um dos nomes-chave do cinema atual. Se somente estes filmes
acima já justificam por si um festival todo novo (e ainda se somam a eles os destaques
do Rio, que não eram poucos!), vale ainda a atenção a alguns filmes menores que
podem se perder em meio a tantos gigantes – a começar pela retrospectiva bastante
inesperada do francês Jean-Paul Civeyrac, que causa grande curiosidade. Para além
desta, destacamos ainda uma série de outros filmes vindos de Cannes e dos quais
não chegamos a tratar lá no Festival – e entre estes o que causa maior curiosidade,
e certeza de não perder, é mesmo A França, de Serge Bozon (que ganhou o
prêmio Jean Vigo, prêmio ao cinema local dado na França ao filme mais inventivo
e audacioso do ano). Mas, vale citar ainda as presença de dois outros filmes de
cada uma das seções secundárias de Cannes. Da Un Certain Regard, vêm Munyurangabo,
bastante elogiado pelo nosso colega Pedro Butcher; e Calle Santa Fé, prometido
mas não exibido no Rio. Da Semana da Crítica, nos chegam agora o horror espanhol
de O Orfanato e o filme de estréia francês Nosso Reencontro. E,
finalmente, da Quinzena da Crítica, embora os destaques (além de A França
e A Questão Humana, claro) sejam menos unânimes, causam curiosidade: o
irlandês Garage e o turco Ovo.
editoria@revistacinetica.com.br
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