in loco - cobertura dos festivais
Help Me Eros (Bangbang Wo Aishen),
de Lee Kang-sheng (Taiwan, 2007)
por Paulo Santos Lima Filme
de padrasto
Lee Kang-sheng, ator-fetiche e emblema do
cinema de Tsai Ming-liang, realiza aqui o seu segundo longa. O primeiro filme,
O Desaparecido, tem momentos bem estruturados, nos ziguezagues sem fim
de um punhado de pessoas procurando outras, perdidas. Se ali havia uma “fórmula
Tsai Ming-liang” – planos longos, grandes silêncios, agressões biológicas (epidemia)
agredindo o homem, dissonâncias comportamentais etc -, ela surgia sob o signo
de um franco descompromisso. Com Help Me Eros, o filho pega o terno e a
gravata do pai, e temos, assim, algo como um filme de Tsai Ming-liang um tanto
mais ágil, falado e “pop”.
O
próprio Lee Kang-sheng estrela esse filme sobre desvios sentimentais, em que um
homem falido ao nível do suicídio conhece uma mulher por quem vai atrás e outra
com a qual consegue manter algo. Estamos sobre o mesmo solo de Tsai, e assim as
cenas de sexo serão estranhas, a gastronomia bizarra e os desafetos patéticos,
com uma gordinha (é assim que o filme a mostra) empanturrando-se de comida e gozando
na banheira com serpentes marinhas relando-se por suas partes pudentas. Tenta-se
um exercício sensorial (algo que Tsai faz melhor, sejamos justos), mas nem a maconha
que o personagem fuma ad eternum rende algo mais orgânico. As imagens,
sob luz anti-naturalista, criando efeitos interessantes mas de impacto fácil,
deixam tudo muito bonito, mas, assim como na vida real, de nada servem carros
e mulheres se somente para serem vistos, e não tocados: nossos olhos não tocam
nessas imagens. Por outro lado, há um grande rigor nos enquadramentos,
em que as coisas dentro do plano compõem uma geometria espacial, ocupando um lugar
exato na cena para criar um efeito: um exemplo é o retrovisor com o qual podemos
ver o diálogo entre vendedora e cliente. Mas isso não faz um filme melhor, até
porque estamos mais num filme tableau do que numa dinâmica de mise-en-scène.
Um fotógrafo lambe-lambe pode saber enquadrar muito bem sem, com isso, fazer bom
cinema. E não é bom esquecer que Tsai Ming-liang produziu e assinou a cenografia. Falando
em Tsai, o que faz um Vive l’Amour (1994) ser mais interessante que seus
dois últimos longas é que o estilo está a serviço de um discurso (imagético, inclusive),
sem tanta crença de que certos procedimentos carimbados sustentem a obra. Lee
Kang-sheng chega tarde, repetindo os defeitos de um pai que lhe aplaude e incentiva,
como um gângster que ensina ao filho como arrombar um cofre. A bomba, no caso,
pode estar em Tsai Ming-liang, um cineasta que figura entre os mais expressivos
do mundo, mesmo nessa azia criativa de agora. Outubro
de 2007 editoria@revistacinetica.com.br
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