in loco - cobertura dos festivais

Londres Proibida (London to Brighton),
de Paul Andrew Williams
(Inglaterra, 2006)
por Ronaldo Passarinho

Estréia promissora

Graças ao custo relativamente baixo proporcionado pela tecnologia digital, muitos filmes de estreantes hoje em dia se parecem com A Bruxa de Blair, com atuações amadorísticas (o que pode ser uma proposta ou um defeito) e fotografia de baixa qualidade (por questões estéticas ou por incompetência). Isso vale tanto para projetos pessoais, que buscam seu nicho em festivais de cinema, quanto para filmes de gênero feitos sob encomenda para o mercado de DVD. O longa-metragem de estréia de Paul Andrew Williams, apesar de seu baixo orçamento, já se distingue dessa massa por ser rodado em um belo scope, com atuações impecáveis.

O filme começa in media res. Primeiro vemos o que aconteceu após o evento catalisador da história; depois, através de flashbacks, o que aconteceu antes da crise. Lorraine (a estreante Georgia Groome, soberba), uma garota de 11 anos que fugiu de casa e mendiga nas ruas de Londres, é aliciada por uma prostituta e um cafetão para transar com um milionário pedófilo. A primeira parte do filme mostra a prostituta, o rosto deformado por socos, fugindo com a garota para Brighton. Depois vemos, em um longo flashback, o aliciamento da menina e, mais tarde, o encontro das duas com o pedófilo. Esta última seqüência é a mais agoniante do filme, principalmente pelo que não mostra.

É justamente quando Williams decide mostrar, em curtos flashbacks, o que aconteceu no quarto que o filme perde a força. Esses flashbacks surgem quando Williams precisa resolver a trama ou como um “filme extremo” europeu (à la Irreversível, de Gaspar Noé), ou como um filme convencional de gênero. O filme inteiro opera em dois registros distintos, como Glória, de John Cassavetes. É realista na apresentação dos protagonistas, sem abandonar certas convenções do thriller. O encontro entre a garota e o vilão, filho do pedófilo, é um choque entre esses dois registros: ela parece saída de um filme de Mike Leigh; ele, de um filme de Quentin Tarantino.

Londres Proibida é, antes de tudo, um cartão de visitas para Williams como diretor. O roteiro, também assinado por ele, impressiona menos que a direção, sobretudo no clímax e na conclusão. Mas, ao fim e ao cabo, Londres Proibida é uma das melhores estréias na direção de um cineasta inglês em muitos anos. Só por não tentar ser mais um clone de Guy Ritchie (que, por sua vez, imita o que há de mais superficial no estilo de David Fincher), Paul Andrew Williams já merece atenção.

 

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