Operation Avalanche, de Matt Johnson (EUA, 2016)

setembro 1, 2016 em Coberturas dos festivais, Em Campo, Victor Guimarães

Cobertura do 5o Olhar de Cinema

operationavalanche1

O espectador adolescente
por Victor Guimarães

Matt Johnson é um rapaz esperto. Operation Avalanche se apossa de uma das maiores teorias da conspiração do século XX – a falsificação do pouso estadunidense na lua – e enseja o filme que faltava: um mockumentary em torno da equipe de filmagem responsável por arquitetar a farsa e suas relações com a NASA e a CIA. O realizador é também o protagonista – o diretor do tal filme se chama Matt Johnson – e seus colaboradores imediatos também interpretam a si mesmos.

A conjugação entre uma premissa pretensamente astuta e uma mirada autorreferente dão o tom de um filme o tempo todo encantado com a própria esperteza. A associação constante entre o material de arquivo e as imagens encenadas do falso documentário, com direito a figurinos e automóveis de época, aponta o espírito subterrâneo de uma cinefilia adolescente, cujo emblema é uma trucagem que permite o encontro na tela entre Matt e Stanley Kubrick. Até a textura da película é retrô. Num horizonte tão achatado como esse, o vintage é um valor em si mesmo.

Na esteira das últimas apropriações da prática do reemprego de imagens – do tipo Final Cut: Ladies and Gentlemen (György Pálfi, 2012) –, que transformaram a grande arte crítica de Godard, Farocki e Ken Jacobs em masturbação geek, Operation Avalanche é uma demonstração de virtuosismo cinéfilo que se quer comédia, mas depende excessivamente da premissa reflexiva: o filme investe mais em se manter fiel ao próprio projeto de mise-en-abyme do que em criar, efetivamente, humor. Há alguns lampejos de inspiração (um soco imprevisto, uma piada com bom timing), mas Matt Johnson parece sempre mais interessado em reiterar a presença da câmera, o jogo das mediações, a arquitetura narrativa intrincada, as referências cool. Quando se empenha efetivamente em fazer alguma coisa existir como cena, tensão, energia, o filme cresce exponencialmente, como na boa sequência de perseguição já perto do final. Mas é tarde demais e o dano é irreversível.

Quando achávamos que o tarantinismo rasteiro do cinema contemporâneo era uma coisa da década passada, descobrimos que ele não só está vivo, como atraente a ponto de abrir um festival. O Olhar de Cinema parece querer apostar em um filão indie da comédia contemporânea, cuja fórmula básica é a astúcia narrativa, a exposição das referências (sempre as mais óbvias), o jogo com a excentricidade e a autoconsciência da encenação. Em 2014, esse filme foi o catalão La Distancia, de Sergio Caballero. Em 2015, o francês Realité, de Quentin Dupieux. O principal engodo desse cinema é que seu investimento é pretensamente cerebral, mas o único cérebro possível para o espectador é o de um adolescente encantado com a descoberta de que a história do cinema é uma prateleira com insumos para uma punheta vespertina.

Share Button