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- na agenda Primeiro semestre de 2007
Junho
Nosso passado no cinema: Tela Brasilis e Cinemateca Homenagem
a Ousmane Sembene Retrospectiva Domingos Oliveira TV e Grandes Autores
Retrospectiva Arnaldo Jabor Nocaute: O Boxe no Cinema Caravana Revelando
os Brasis Homenagem a Jean-Claude Bernardet CinePUC: Seijun Suzuki
Maio CinePUC:
Claire Denis Mostra Pasolini Virada Cultural em SP Bem Vindo ao Cinema
Contemporâneo 3 Uma História do Cinema na Cinemateca Abril
Mostra Mauro Alice Retrospectiva Mário Carneiro
Conversação - Diálogos com o Cinema Homenagem a Candeias
Março Leituras
Russas Geraldo Sarno em Salvador I Mostra de Filmes de Bollywood Cinco
Visões de Nosso Cinema Mostra Prêmio ABC Bresson e o Cinema
Contemporâneo República Dominicana no CCSP Fevereiro
Programadora Brasil Cinco de Cassavetes Eric
Rohmer na Cinemateca Fassbinder no CCBB Mostra do Filme Livre Sempre
Cinema na Fundação Japão Cineclube HSBC A literatura
no cinema Re-visão do Cinema Novo Janeiro
Festival de Roterdã Notícias do cinema
comercial brasileiro Festival de Atibaia Godard na Cinemateca Fellini
no Olido Cine Tela Brasil Luz em Movimento Cinema de Assalto!
Junho
2007
Encerrou-se semana passada a II Mostra de Cinema de Ouro Preto,
evento que, com curadoria do editor cinético Cleber Eduardo, debruçou-se sobre
a memória e história do cinema brasileiro, destacando a produção pré-Cinema Novo
dos anos 50 e a precariedade da preservação e conservação de nosso patrimônio
fílmico. Curiosamente, nas próximas semanas, uma série de eventos disponibilizará
ao público uma janela para essa nossa história cinematográfica, por vezes problematizando
justamente essa ausência de políticas públicas claras e funcionais para sua preservação.
O primeiro será o Cineclube Tela Brasilis, que no próximo dia 28
de Junho exibirá na Cinemateca do MAM-RJ dois filmes da década de 40
que já haviam sido considerados perdidos. O primeiro é Samba em Berlim
(1943), uma chanchada dirigida e produzida por Adhemar Gonzaga, com participação
de Grande Otelo e a estréia no cinema da hoje centenária Dercy Gonçalves. Em seguida,
será exibido um fragmento de Abacaxi Azul (1944), musical da Cinédia dirigido
por Wallace Downey. Já a mostra E o Som se Fez (mais sobre ela acima)
volta mais uma década no tempo e traz as exibições de Ganga Bruta (1933),
marco da historiografia nacional dirigido por Humberto Mauro, e Alô Alô Carnaval
(1936), outro musical de sucesso da Cinédia. Por fim, voltando ainda mais uma
década, a Cinemateca Brasileira programou para o próximo dia 30 de Junho,
em parceria com um grupo de pesquisadores que se reúne mensalmente na instituição
para realizar uma cuidadosa revisão da produção silenciosa brasileira que sobreviveu até
nossos dias, a exibição de Canção da Primavera (1923), considerado o primeiro
filme de enredo produzido em Belo Horizonte. Iniciativas como essas – assim
como a reforma pela qual está passando a Cinemateca do MAM-RJ, noticiada aqui por Felipe Bragança
– acabam surgindo como pequenos sopros de esperança para a preservação e estudo
de um vasto acervo histórico que, até agora, pouca atenção recebeu, tanto do Estado
quanto da sociedade. (Leonardo Mecchi) *** No último dia 09,
faleceu aos 84 anos o diretor senegalês Ousmane Sembene. À exceção de algumas
pequenas notas de obituário traduzidas das agências internacionais, a imprensa
brasileira praticamente ignorou esse fato. Sembene, entretanto, foi uma figura
chave para o cinema africano, cuja importância e influência podem ser equiparadas
à de Glauber Rocha aqui no Brasil. Sobre isso, inclusive, vale a pena tentar colocar
as mãos num raro artigo de William Wert intitulado “Ideology in the Third World
Cinema: A Study of Sembene Ousmane and Glauber Rocha”, publicado na Quarterly
Review of Film Studies em 1979. Por isso, vale saudar, ainda que tardiamente,
a iniciativa do Cinemaison do Rio de Janeiro programando uma Homenagem
a Sembene Ousmane (como dita a grafia francesa de seu nome) no último dia
25 de Junho. Sembene era conhecido como o pai do cinema africano. Curiosamente,
chegou ao cinema não por um anseio pessoal, mas por uma necessidade. Iniciou sua
carreira artística como escritor mas, diante da alta taxa de analfabetismo nos
países africanos, encontrou nos filmes a única forma de se comunicar com seu povo.
Sembene acreditava que o cinema deveria ser uma escola noturna para o povo africano,
uma forma de despertar sua consciência e incitá-los a lutar por melhores condições.
Suas posições inspiraram muitos cineastas, além de despertar a fúria de tantos
outros. Independentemente de divergências como essas, Sembene fez filmes
que precisam ser conhecidos e vistos. A Cinemaison programou dois deles em sua
homenagem: O Vale-Postal (1968), considerado o primeiro filme realizado
por uma equipe exclusivamente africana e na língua nativa do Senegal, e Moolaadé
(2005), seu último filme, que chegou a ser exibido na Mostra de São Paulo, mas
permanece inédito para os cariocas. O filme levou o prêmio Un Certain Regard no
Festival de Cannes – mesmo festival que, em 1966, selecionou seu longa de estréia,
La Noire de..., como o primeiro filme da África negra a ser exibido em
um grande festival internacional, alçando Sembene ao reconhecimento internacional
e praticamente dando autêntico início ao cinema africano. (Leonardo Mecchi) *** Domingos
Oliveira tem se firmado como uma figura de exceção dentro do atual panorama do
cinema brasileiro – seja pelo intercâmbio entre sua produção teatral e cinematográfica;
seja pelo esquema de produção alternativo no qual vem realizando seus últimos
filmes de baixíssimo orçamento; ou ainda por ser um dos raros diretores a abordar
a classe média brasileira sem cair num retrato cínico ou na comédia global que
caracteriza atualmente tal produção. Agora, com Carreiras, Domingos
continua se diferenciando, quebrando um acordo tácito do mercado cinematográfico
e exibindo seu filme na TV uma semana antes da estréia em salas comerciais. Assim
como o movimento que fundou pelos filmes de baixo orçamento (o B.O.A.A. – Baixo
Orçamento e Alto Astral), esta ação de lançamento de Carreiras não deixa
de ter um quê de jogada de marketing, mas ainda assim é gratificante ver um diretor
de 70 anos que não se deixa acomodar e continua buscando alternativas para levar
seus filmes ao público. Aproveitando o lançamento de seu mais recente filme,
o Estação Laura Alvim, no Rio de Janeiro, programou de 25 de junho a
05 de julho uma Retrospectiva Domingos Oliveira. A mostra cobrirá desde
seu filme de estréia (Todas as Mulheres do Mundo, de 1967) até seus recentes
filmes de baixo orçamento, como Separações (2002), Feminices (2004)
e o próprio Carreiras. Serão exibidas ainda produções realizadas para TV,
como Na Estrada da Vida Não Tem Retorno (episódio da série “Carga Pesada”,
de 1980) e as entrevistas do programa “Todas as mulheres do mundo”. (Leonardo
Mecchi)
*** Estive ausente nas duas últimas semanas e por isso, infelizmente,
algumas boas mostras acabaram ocorrendo sem serem noticiadas por aqui. Outras,
entretanto, estão em pleno andamento e vale a pena destacá-las para que o leitor
possa aproveitar seus últimos dias. É o caso, por exemplo, da mostra
TV e Grandes Autores que está rolando no CCBB-RJ desde o dia 29
de Maio e vai até o dia 10 de Junho. A curadoria da mostra, a cargo do
crítico João Marcelo F. de Mattos, busca um recorte da produção realizada para
TV por renomados diretores do cinema contemporâneo, como Robert Altman, Tsai Ming-Liang,
Andrzej Wajda, Godard e Bergman. Uma oportunidade rara de verificar obras inéditas
aqui no Brasil e conferir o potencial que um meio como a TV possui nas mãos de
grandes realizadores. Outra mostra que se encerra dia 10 de Junho,
desta vez no CCBB-SP, é a retrospectiva completa Arnaldo Jabor – 40
Anos de Opinião Pública. A mostra vale principalmente para a nova geração,
que só conheceu o Jabor polemista-de-plantão da Rede Globo, que poderá verificar
o que há de contradição ou coerência entre os discursos indignados no Jornal Nacional
e obras como A Opinião Pública, Toda Nudez Será Castigada, Pindorama
e Tudo Bem (estas duas últimas exibidas, segundo o release da mostra, em
uma nova montagem realizada pelo próprio Jabor). Vale também para tomar partido
na recente onda de reavaliação do Cinema Novo, iniciada pela recusa pública de
Nelson Pereira dos Santos em ser enquadrado no movimento: Arnaldo Jabor faria
efetivamente parte ou não do Cinema Novo? Cabe ao leitor rever os filmes e tirar
suas próprias conclusões. Por fim, ainda entre as mostras em andamento,
a Cinemateca Brasileira iniciou no último dia 23 de Maio e estende até
o dia 17 de Junho a mostra Nocaute: O Mundo do Boxe. O boxe é um dos
esportes mais retratados no mundo do cinema. Desde a reencenação de grandes lutas
nos primórdios do cinematógrafo (que serão representadas na mostra por uma coletânea
de curtas que vão de 1891 a 1898) aos recentes Menina de Ouro, A Luta
pela Esperança, Dália Negra e o indefectível Rocky Balboa, o
boxe atraiu uma infinidade de diretores pelo fascínio de seu movimento diante
das câmeras, pelas possibilidades de experimentação da linguagem em seu registro,
pelo potencial metafórico para a superação e redenção do ser humano, entre tantos
outros motivos. É a atração entre esses dois mundos que poderá ser conferida na
Cinemateca em filmes de Buster Keaton, Marcel Carné, King Vidor, Charles Chaplin,
John Huston, John Ford, Takeshi Kitano, D.W. Griffith, Robert Wise, Clint Eastwood,
Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock, Luchino Visconti e Martin Scorsese. A própria
lista de diretores presentes na mostra já demonstra o fascínio inexorável desse
esporte. Vale a pena conferir. (Leonardo Mecchi) *** Outra iniciativa
bastante interessante que tem corrido o Brasil é a caravana do projeto Revelando
os Brasis, que já foi tema de artigo de Eduardo Valente aqui na revista.
O projeto do Ministério da Cultura, que em 2006 fomentou a formação de profissionais
e a produção de 40 vídeos em municípios com até 20 mil habitantes, chega à sua
segunda etapa, exibindo em uma grande tela em praça pública os vídeos produzidos
através do edital original nas capitais de 21 estados brasileiros e nas próprias
cidades onde esses vídeos foram realizados. De 24 de Maio a 27 de Julho,
a caravana terá percorrido 25 mil quilômetros em todo o país, promovendo esta
que é uma das melhores iniciativas de formação e inclusão audiovisual fora dos
grandes centros brasileiros. Que essa iniciativa não se torne uma ação isolada,
garantindo sua merecida continuidade. (Leonardo Mecchi) *** Numa justa
e rara homenagem a um dos maiores intelectuais e pesquisadores do cinema brasileiro,
o Reserva Cultural abriga na semana de 12 a 17 de Junho uma mostra
de filmes dedicada a Jean-Claude Bernardet, que completou recentemente
70 anos e tem este mês um de seus clássicos ensaios, Brasil em Tempo de Cinema,
relançado pela Companhia das Letras. A mostra exibirá filmes nos quais Bernardet
esteve envolvido, seja como diretor (São Paulo, Sinfonia e Cacofonia),
roteirista (Gamal, o Delírio do Sexo, O Caso dos Irmãos Naves e
Eterna Esperança) ou ator (Ladrões de Cinema, Disaster Movie,
Disseram Que Voltei Americanizada e Anuska, Manequim e Mulher),
além do documentário Crítica em Movimento, sobre o homenageado. Completam
a homenagem uma exposição de fotos sobre a vida de Jean-Claude e o lançamento
de um catálogo de 200 páginas com biografia, artigos, depoimentos, filmografia,
todos os livros e um histórico com a trajetória de Bernardet. Vale lembrar ao
leitor ainda que Jean-Claude possui um blog
pessoal, onde mantém a verve crítica e polêmica que tanto o caracteriza. (Leonardo
Mecchi) *** Mês passado eu destaquei aqui a mostra dedicada a Claire
Denis, realizada pelo cineclube da PUC-RJ. Pois este mês o CinePUC mantêm
o altíssimo nível, dedicando sua programação ao diretor japonês Seijun Suzuki.
Embora tenha sido tema de retrospectiva da Mostra Internacional de São Paulo há
uns sete anos e, mais recentemente, teve oito de seus filmes exibidos (em DVD)
no CCBB do Rio e Brasília em 2006, é fundamental que a obra deste mestre da Nouvelle
Vague japonesa (reverenciado por diretores tão distintos como Jim Jarmusch, Takeshi
Kitano, Wong Kar-Wai e Quentin Tarantino) esteja continuamente disponível ao público
brasileiro. Durante as quatro terças-feiras do mês de Junho, serão exibidos em
DVD e com legendas em inglês os filmes A Juventude da Besta (1963), Tóquio
Violenta (1966), Elegia da Briga (1966) e A Marca do Assassino
(1967), sempre seguidos de debate. (Leonardo Mecchi)
Maio
2007
Algumas notas abaixo, eu falava do curso “Bem Vindo ao Cinema
Contemporâneo” e lamentava o fato de vários daqueles diretores que serão abordados
terem seus filmes pouco ou nada exibidos no país. Entre eles está Claire Denis,
talvez a mais importante diretora francesa da atualidade, cuja obra será analisada
no primeiro dia do curso do CineSesc por Luiz Carlos Oliveira Jr. Curiosamente,
no mesmo dia, a PUC-RJ verá o início de uma pequena mostra da diretora,
como parte do projeto CinePuc. De 08 a 24 de Maio, serão exibidos
(em DVD e com legenda em inglês) Noites Sem Dormir; Bom Trabalho;
Desejo e Obsessão; e O Intruso. Uma espécie de compensação para
os cariocas que não poderão acompanhar o curso em São Paulo. Ou seria o contrário?
(Leonardo Mecchi) *** A vantagem de se morar em uma cidade como São Paulo
é que, de tempos em tempos, surgem mostras retrospectivas de grandes diretores
da história do cinema, fundamentais para se rever aquele filme que marcou sua
vida ou mesmo para se criar novas gerações de cinéfilos. Vindo de uma família
profundamente católica, O Evangelho Segundo São Mateus foi um desses filmes
que ficaram marcados em minha formação, por sua belíssima construção de um Cristo
humano e revolucionário. Foi através desse filme que entrei na obra de Pasolini
e aprendi a admirar esse mestre do cinema de poesia. Pois o Instituto Italiano
di Cultura, em parceria com o Cine Olido, realizará de 08 a 20 de Maio
justamente uma mostra dos filmes de Pasolini, incluindo aí O Evangelho,
ao lado de outras obras de igual impacto, como Teorema, Accatone e Gaviões
e Passarinhos. Tudo altamente recomendável aos leitores – ainda que, à exceção
de Édipo Rei (que será exibido na versão original em italiano),
todas as demais exibições serão em DVD. Trata-se de um hábito que está
se tornando perigosamente comum e que, no caso de uma mostra sem grandes patrocínios
como esta, até podemos entender. Mas o que temos visto cada vez mais é uma certa
política do “é isso ou nada” – o que não se justifica em grandes festivais e mostras
de orçamento considerável e que têm assumido esse mesmo discurso para exibições
de qualidade muitas vezes sofrível, em salas de cinema, de filmes cujo original
de circulação é em película. . Economiza-se assim um dinheiro do orçamento com
o que devia ser o mais importante numa mostra DE CINEMA, e exibe-se um arremedo
da obra original – e ainda devemos todos ficar muito gratos. Estivéssemos falando
de exibições em cineclubes ou locais sem projetores instalados; se fossem filmes
raros sem cópias disponíveis, onde é preciso recorrer a DVDs importados ou mesmo
cópias baixadas da Internet (como no caso do exemplo citado na nota acima); ou,
finalmente, se fossem impecáveis projeções em digital de última qualidade, ainda
seria algo a considerar. A prática revela-se ainda mais dolorosa quando
tomamos contato com o cuidado dedicado a esse tema por festivais internacionais,
como a última edição da Berlinale (que exibiu cópias em película impecavelmente
restauradas de Arthur Penn e Philippe Garrel) e a próxima de Cannes (que exibirá
inclusive Limite, de Mário Peixoto, em sua seção Cannes Classics). Só que
no país das gambiarras, o que era para ser exceção está, infelizmente, tornando-se
a prática comum. (Eduardo Valente e Leonardo Mecchi) * * * Acontece
no final de semana de 05 e 06 de maio em São Paulo a terceira edição da
Virada Cultural, evento inspirado na Nuit Blanche parisiense. Das 18h do
dia 05 às 18h do dia 06, mais de 350 manifestações artísticas de todos os tipos
tomarão a cidade, e o cinema não poderia ficar de fora, com algumas gratas surpresas
para o cinéfilo paulistano. A mais interessante delas é, sem dúvida nenhuma,
a mostra 24 Horas de Ozualdo Candeias, que ocupará a Cinemateca neste
final de semana. Serão exibidos ininterruptamente uma série de filmes do diretor
paulista, morto em fevereiro deste ano, incluindo longas, curtas, documentários
que abordam sua obra e até filmes onde Ozualdo aparece atuando, como O Despertar
da Besta, de José Mojica Marins. E é ao próprio Mojica que a Sala
Maria Antônia dedica sua participação na Virada Cultural. A mostra Virando
Zé do Caixão irá apresentar, na madrugada de sábado para domingo, três clássicos
do diretor: À Meia-Noite Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no
Teu Cadáver e O Despertar da Besta. Como a Sala Maria Antônia só está
equipada para projeções em DVD, quem preferir assistir aos filmes em 35mm poderá
acompanhar essa mesma programação no SESC Santana, à partir das 21h do
sábado, com projeções em película. O Museu da Imagem e do Som irá
hospedar duas mostras durante o evento: na sala multimídia e com projeção em DVD,
documentários sobre sambistas, como Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje
e Samba Riachão; no auditório, uma mostra de filmes do acervo do MIS, onde
os destaques ficam para SuperOutro, o mítico filme de Edgard Navarro, e
Filme Demência, do Carlão Reichenbach. Já o CineSesc dedicará sua
programação a pré-estréias: Além do Desejo (que na última Mostra de São
Paulo foi exibido com o título original – En Soap), Baixio da Besta,
o novo filme de Cláudio Assis, e Atravessando a Ponte: o Som de Istambul,
documentário de Fatih Akin (diretor de Contra a Parede). Para quem
quiser acompanhar a produção alemã contemporânea, além do filme de Fatih Akin
no CineSesc, o Instituto Goethe programou a mostra Alemanha/Europa,
que inclui os premiados e inéditos Um Dia na Europa e O Nono Dia
(sempre em DVD). Haverá ainda exibições ao ar livre pela cidade, como Nosferatu,
de Murnau, com acompanhamento musical ao vivo em frente ao cemitério de Vila Nova
Cachoeirinha, Garotas do ABC no Heliópolis, e o projeto “Cine Tela Brasil”
no bairro de Perus. Uma programação eclética com motivos de sobra pra qualquer
cinéfilo passar a noite em claro. (Leonardo Mecchi)
* * * Começa no
próximo dia 08 de Maio a terceira edição paulistana do curso Bem Vindo ao Cinema
Contemporâneo, que irá ocorrer até meados de Junho no CineSesc. Como
nos anos anteriores, foram selecionados 10 diretores – cujas obras estão entre
as mais interessantes e provocadoras do cinema contemporâneo mundial – para terem
seus filmes discutidos e analisados pelos contracampistas Luiz Carlos Oliveira
Jr, Tatiana Monassa e Ruy Gardnier e pelos cinéticos Felipe Bragança e Cleber
Eduardo. Os diretores escolhidos para a edição deste ano foram Claire Denis, Michael
Mann, Jia Zhang-ke, Pedro Costa, Spike Lee, M. Night Shyamalan, Hong Sang-soo,
Abel Ferrara, Beto Brant e Michael Haneke. Além da predominância do cinema norte-americano
(4 dos 10 diretores escolhidos), o que mostra a força do cinema autoral que ainda
vem sendo produzido dentro da própria estrutura de Hollywood, chama a atenção
o fato de que vários desses diretores jamais tiveram um filme lançado comercialmente
no Brasil (caso de Jia Zhang-ke, Pedro Costa e Hong Sang-soo – este último inédito
inclusive nos grandes festivais brasileiros), o que demonstra mais uma vez o caráter
conservador de nossas distribuidoras e circuito exibidor – além de reforçar ainda
mais a importância de um curso como esse para trazer de alguma forma a obra desses
diretores ao público brasileiro.(Leonardo Mecchi)
* * * Há alguns anos
a série de cursos Uma História do Cinema na Cinemateca Brasileira tem feito
grande sucesso. Realizado em parceria com a USP e ministrado pelo professor Eduardo
Morettin, trata-se de uma série de cursos gratuitos ao longo do ano que abordam,
através de recortes temáticos ou históricos, diversas fases do cinema mundial
– em particular do cinema pré-moderno. Iniciativa importante da Cinemateca, que
conjuga formação de público e a difusão de seu acervo. O próximo curso,
com inscrições abertas a partir de 01 de Maio, abordará as representações
cinematográficas da cidade no documentário silencioso. Serão exibidos e discutidos
filmes como Berlim – Sinfonia de uma Metrópole, Rien que les Heures (de
Alberto Cavalcanti), O Homem com a Câmera, Paris Adormecido, além
de uma série de raros curtas brasileiros das décadas de 10 e 20. Uma ótima oportunidade
para quem quiser se aprofundar nesse período. (Leonardo Mecchi)
Abril
2007
Desde que Truffaut cunhou, na edição de fevereiro de 1955 da
Cahiers du Cinéma, o termo “política dos autores”, o cinema é visto quase
que exclusivamente como a arte do diretor, muito embora seja, provavelmente, a
mais coletiva de todas as artes. Em função disso, são raras as oportunidades de
se acompanhar e estudar um conjunto de filmes como a obra não de um diretor, mas
dos outros “autores” do cinema, como roteiristas, fotógrafos ou montadores (valendo
destacar aqui, como feliz exceção, a mostra “A Montagem no Cinema”, que ocorreu
em 2006 no CCBB-SP). Pois é justamente nessa brecha que se inscrevem duas
mostras que ocorrerão nas próximas semanas aqui em São Paulo, homenageando importantes
nomes do cinema brasileiro. A primeira delas, que ocorrerá de 17 a 29 de Abril
nas salas do Centro Cultural São Paulo e Cine Olido, se debruçará
sobre o trabalho de Mauro Alice, montador que há mais de meio século tem
sido parceiro de nomes como Mazzaropi (Jeca Tatu, Candinho), Walter
Hugo Khouri (Noite Vazia, O Corpo Ardente), Anselmo Duarte (Vereda
da Salvação) e Hector Babenco (O Beijo da Mulher Aranha, Coração
Iluminado e, mais recentemente, Carandiru – este último ausente da
programação). Já o CCBB terá um ciclo, com curadoria do contracampista
Daniel Caetano, dedicado a Mario Carneiro. De 25 de Abril a 05 de Maio
(os cariocas poderão acompanhar a mostra logo depois, de 15 a 27 de Maio), o público
poderá conferir não apenas os filmes que consagraram Mario Carneiro como um dos
grandes fotógrafos do cinema brasileiro – Garrincha Alegria do Povo, O
Padre e a Moça, Porto das Caixas e Todas as Mulheres do Mundo,
entre outros – mas também outras facetas suas menos conhecidas, como o Mario Carneiro
montador (Chico Rei, A Casa Assassinada) e diretor (Gordos e
Magros, Arraial do Cabo – este último co-dirigido com Paulo César Saraceni).
A mostra ainda reserva a grata surpresa de disponibilizar dois raros média-metragens
documentais de Andrea Tonnacci fotografados por Carneiro (Biblioteca Nacional
e Teatro Municipal de São Paulo). A lamentar apenas a ausência de um de
seus trabalhos mais emblemáticos como fotógrafo: Di, o polêmico filme de
Glauber Rocha que ainda encontra-se interditado no Brasil devido a uma querela
com a família do pintor Di Cavalcanti. Felizmente, a Internet ainda se coloca
como um espaço de resistência a esse tipo de interdição e o filme pode ser visto
aqui. (Leonardo Mecchi)
*
* * De quinta a domingo, durante duas semanas (do dia 12 ao dia 22 de abril),
o Centro Cultural dos Correios (RJ) recebe um evento bastante interessante
e diferenciado dentro do tratamento que geralmente se dá a mostras ou festivais
internacionais no Brasil. Em Conversação – Diálogos com o Cinema,
ao invés do gigantismo dos números (trocentos filmes, bilhões de inscritos, etc
e tal), a opção é pela curadoria atenta e pequena: foram selecionados oito diretores
– na verdade nove, pois há uma dupla que trabalha junto –, sendo quatro (cinco)
brasileiros e quatro de origem francófona (dois franceses, dois canadenses de
Quebec), e será exibida uma boa parte da obra destes realizadores em curtas (numa
média de três trabalhos de cada). O que já seria uma novidade bem vinda (o conceito
de “obra” a partir de curtas), se justifica mesmo a partir do conceito de “conversa-ação”
que o título da mostra expõe: todos os realizadores serão trazidos ao Rio durante
toda a duração da mostra (não só os estrangeiros, já que os brasileiros incluem
realizadores de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador – além de um pernambucano
radicado no Rio), e participarão de uma série de atividades. A principal delas
é uma série de debates, nas sessões de quinta e sexta, seguindo-se sempre à exibição
dos curtas de dois dos realizadores (um brasileiro, um estrangeiro), que se conectam
a partir do formato do trabalho (animação, documentário, ficção, experimental
– em todas as suas fronteiras). Mas, além disso, os realizadores estrangeiros
dão um workshop para alunos de cinema da UFF e da Escola Darcy Ribeiro, e os nove
realizadores se encontram numa grande mesa-redonda, aberta ao público, na sexta-feira
(dia 20 de abril), às 15hs, na Escola Darcy Ribeiro. A idéia é tentar uma alternativa
ao gigantismo sem rosto de alguns festivais, acreditando que destes encontros
face a face (entre público e obras, entre diretores e platéia, entre realizadores
e estudantes, e finalmente entre realizadores de estados ou países diferentes)
é que realmente se consegue que um evento de cinema tenha uma permanência maior
que a fugacidade da ocupação de algumas salas. Se vai ou não funcionar, este será
o desafio – mas a tentativa é das mais interessantes. (Eduardo Valente)
*
* *
Ozualdo Candeias, falecido em 08 de fevereiro último, aos 88
anos, é um dos mais importantes e menos conhecidos cineastas brasileiros. Ponto.
Apesar disso, afora a retrospectiva dedicada a ele em 2002 no CCBB de São Paulo
e uma ou outra exibição esporádica de seus filmes em mostras dedicadas ao cinema
marginal, o acesso à sua obra continua criminosamente raro. É por isso que se
torna imperdível a oportunidade de acompanhar a pequena homenagem organizada pelo
Museu da Imagem e do Som de São Paulo: de 04 a 08 de abril, o MIS
irá exibir dois dos mais significativos longas de Ozualdo (A Margem e A
Herança), além de alguns curtas bastante interessantes para se formar um olhar
mais abrangente sobre o diretor, como Rodovias (um institucional de 1962
dirigido por Ozualdo sob encomenda do Governo do Estado de SP), Sr. Pauer
(de 1988, um de seus últimos filmes), A Boca do Cinema Paulista (documentário
de Antônio F. de Souza no qual Ozualdo foi co-roteirista, fotógrafo e montador)
e Boca Aberta (documentário de Rubens Xavier que tem em Ozualdo um de seus
principais personagens). Depois de conferir os filmes, o leitor fará bem em dar
uma lida no dossiê
sobre Candeias produzido pelo pessoal da Contracampo há alguns anos, assim como
pode aproveitar a oportunidade para conhecer a Zingu,
que dedica sua sexta edição à obra do cineasta. (Leonardo
Mecchi)
* * * A mostra Robert Bresson e
o Cinema Contemporâneo já recebeu uma nota aqui, no mês
passado, e ainda foi muito elogiada por mim mesmo no Bloco
de Notas. Porém, como nunca é demais chamar a atenção
para o que é bom, vale lembrar que nesta quarta, dia 04 de abril,
ela começa a sua passagem pelo CCBB de SP. Programa imperdível
para os paulistanos, e que depois chega também ao público de Brasília,
a partir de 24 deste mês. (Eduardo Valente)
Março
2007
Se não tem inovado muito na seleção dos filmes exibidos,
recorrendo com freqüência à projeção de clássicos já consagrados de seu acervo,
a Cinemateca Brasileira tem ao menos realizados alguns recortes temáticos bastante
interessantes em sua programação, permitindo que esses mesmos clássicos sejam
revistos sob novo enfoque ou propondo diálogos com outros filmes. É o caso, por
exemplo, da mostra Leituras Russas, que ocupa a sala Cinemateca de 28 de
março a 08 de abril. A curadoria, baseada em adaptações das obras de grandes mestres
da literatura russa (Pushkin, Tchekhov, Dostoievski, Tolstoi, Gorki e Nabokov),
permite, por exemplo, que comparemos as visões de Louis Malle e Jean-Baptiste
Mathieu para “Tio Vânia”, de Tchekhov, ou que possamos conferir como um mesmo
romance – como “Crime e Castigo”, de Dostoievski – pode inspirar obras tão díspares
quanto Nina, de Heitor Dhalia, e Pickpocket, de Robert Bresson.
Não faltarão também clássicos como Noites Brancas, de Luchino Visconti
(baseado na obra homônima de Dostoievski), Guerra e Paz, de King Vidor
(da obra de Tolstoi), e Lolita, de Stanley Kubrick (adaptação do clássico
de Nabokov). (Leonardo Mecchi)
* * * Antes que me acusem de só divulgar
eventos no eixo Rio-São Paulo, aproveito para chamar a atenção para uma programação
bem bacana em Salvador que chegou a meu conhecimento. Na próxima quinta-feira,
dia 15, às 20 horas, rola na Sala Walter da Silveira (uma das poucas sobreviventes
entre os cinemas de rua que ocupavam o centro de Salvador) a exibição de cinco
documentários de Geraldo Sarno. Para quem não conhece, Sarno foi
responsável por um dos marcos do documentário brasileiro, Viramundo, de
1965, que foi brilhantemente analisado por Bernardet em seu clássico livro “Cineastas
e Imagens do Povo”. O diretor baiano foi foco também de uma retrospectiva na sexta
edição do festival É Tudo Verdade, em 2001. Viramundo não está programado,
mas serão exibidos quatro títulos produzidos entre 1968 e 1969 (Os Imaginários,
Jornal do Sertão, Vitalino/Lampião e Dramática Popular) e
um de 1980 (Eu Carrego um Sertão Dentro de Mim). O que esses filmes têm
em comum é um certo olhar antropológico sobre a cultura popular nordestina, como
se o diretor quisesse preservar para futuras gerações uma série de manifestações
que estariam em vias de extinção com a crescente modernização daqueles rincões,
incluindo aí o trabalho de artesãos (Os Imaginários), a literatura de cordel
(Jornal do Sertão), a cerâmica (Vitalino/Lampião), o bumba-meu-boi
(Dramática Popular) e a concepção do sertão enquanto espaço mítico e pessoal
(Eu Carrego um Sertão Dentro de Mim). A projeção dos filmes será seguida
de debate com o próprio diretor. Fica o registro (ainda que um tanto em cima da
hora) para nossos leitores soteropolitanos. E o incentivo para que nos mandem
destaques de programação de outras cidades pelo Brasil! (Leonardo
Mecchi)
* * * Um dos momentos mais divertidos de minha recente estada
no Festival de Berlim foi quando uma crítica indiana, colega no programa Talent
Campus, me presenteou com uma cópia do filme bollywoodiano Dhoom 2, uma
espécie de “thriller de ação cômico-romântico” que foi sucesso na Índia e que
tinha trechos filmados no Rio de Janeiro, para onde os bandidos fogem ao final
(para alegria de Lúcia Murat e seu Olhar Estrangeiro). Daí minha surpresa
ao descobrir que a Cinemateca Brasileira irá hospedar, de 07 a 11 de Março, a
I Mostra de Filmes de Bollywood, com destaque justamente para a projeção
de Dhoom 2. Além dele, serão exibidos The Terrorist (que,
contrariando o título da Mostra, não se trata de uma produção de Bollywood, mas
sim de um filme independente de baixo orçamento, exibido em Sundance e fortemente
recomendado por minha colega), Fanaa (criticado veementemente por ela)
e Dilwalw Dulhania le Jayenge, que apesar de extremamente longo (190 minutos),
trata-se de um dos maiores sucessos da história do cinema indiano, tendo ficado
mais de (inacreditáveis) 10 anos em cartaz! Uma boa oportunidade para um primeiro
contato do público paulistano (houve mostras anteriores no MAM carioca e no CCBB
de Brasília) com essa que é a maior produção cinematográfica do mundo e que já
ultrapassou as fronteiras da Índia, fazendo sucesso em diversos países da Europa.
(Leonardo Mecchi) *** É sempre uma grata surpresa quando iniciativas
de divulgação do cinema brasileiro partem de grupos e lugares à margem das instituições
já consagradas, e miram um público diferente dos habituais freqüentadores desse
tipo de evento. É esse o caso da mostra Cinco Visões de Nosso Cinema, que
ocorrerá ao longo do mês de Março, sempre aos sábados, na Biblioteca Municipal
Prefeito Prestes Maia, no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo. A
programação, a cargo de Sergio Luiz de Andrade e Vinícius Del Fiol, abre com o
clássico O Cangaceiro, mas logo envereda para uma seleção distante do clichê,
que inclui Palácio dos Anjos (belo filme de Walter Hugo Khouri), Ato
de Violência (policial de Eduardo Escorel inspirado nos crimes de “Chico Picadinho”),
A Baronesa Transviada (filme de 1957, com Dercy Gonçalves e Grande Otelo,
direção de Watson Macedo e roteiro de Chico Anysio) e O Anjo Loiro, do
grande diretor da Boca Alfredo Sternheim, baseado no mesmo romance que originou
O Anjo Azul, o clássico absoluto de Marlene Dietrich. Com projeções
em 16mm, a mostra surpreende também na programação dos debates, que aposta em
nomes surgidos na Internet, mas também aqui fora dos lugares comuns. Além de Mauro
Alice (montador de vários filmes de Walter Hugo Khouri) e do próprio Alfredo Sternheim,
irão discutir os filmes Andréa Ormond (autora de um dos mais interessantes blogues
dedicados ao cinema brasileiro, o Estranho
Encontro), Marcelo Carrard (do blog Mondo
Paura, especializado em cinema de terror e um dos mais tradicionais da blogosfera
brasileira) e Matheus Trunk (editor da revista eletrônica Zingu!, que tem realizado um trabalho
interessante de resgate de alguns nomes do cinema brasileiro, em especial da Boca
do Lixo, como Conrado Sanchez e Luiz Gonzaga dos Santos). Que mais iniciativas
como essa continuem surgindo! (Leonardo Mecchi) *** Com a velocidade
assustadora com que os filmes brasileiros entravam e saiam de cartaz ao longo
de 2006, toda oportunidade de se (re)ver algumas dessas produções é mais do que
bem-vinda, seja para cobrir alguma lacuna ou para rever aquele filme que merecia
um olhar mais atento. A Mostra Prêmio ABC 2007 é uma boa chance para isso.
Antecedendo-se à entrega do Prêmio ABC (onde a Associação Brasileira de Cinematografia
elege a melhor Fotografia, Montagem, Som e Direção de Arte entre os lançamentos
brasileiros do ano passado), a Mostra exibe ao longo de 15 dias os filmes concorrentes,
tanto na categoria de longa quanto curta-metragem. Assim os públicos paulistano
(onde a mostra ocorrerá de 07 a 18 de Março na Cinemateca Brasileira) e carioca
(com a mesma programação sendo exibida, de 06 a 16 de Março, na Cinemateca do
MAM-RJ) terão a oportunidade de conferir, entre outros, A Concepção, Crime
Delicado, O Veneno da Madrugada, O Ano em que Meus Pais Saíram de
Férias e O Céu de Suely. Entre os curtas, os destaques ficam para os
filmes que mais geraram discussões nos festivais por onde passaram, como Alguma
Coisa Assim, de Esmir Filho, Jonas e a Baleia, do cinético Felipe Bragança,
Manual para Atropelar Cachorro, de Rafael Primo e A Vida ao Lado,
de Gustavo Galvão. (Leonardo Mecchi)
* * * Em julho último, como
parte da mostra retrospectiva de Pedro Almodóvar (comentada aqui por Leonardo
Sette), a Cinemateca Francesa pediu que o diretor espanhol indicasse os filmes
que o influenciaram, e exibindo-os junto com sua obra, numa rara oportunidade
de se observar e avaliar como um cineasta se relaciona e se referencia aos filmes
que o marcaram. Pois a mostra Bresson e o Cinema Contemporâneo, que estréia
no próximo dia 06 de Março no CCBB-RJ (chegando a São Paulo dia 04 de Abril e
em Brasília, dia 24), propõe o caminho inverso: a partir da obra de Robert Bresson,
a curadoria busca traçar os possíveis seguidores do mestre francês no cinema contemporâneo.
Assim, ao lado de clássicos como Mouchette, Pickpocket e O Processo
de Joana d’Arc, o público poderá acompanhar filmes de diretores tão diferentes
quanto os irmãos Dardenne, Godard, Straub e Huillet, Bruno Dumond, Aki Kaurismaki,
Jia Zhang-ke e Tsai Ming-Liang, entre outros – na busca por um traço que os ligue
ao cinema de Bresson. Trata-se sem dúvida de um exercício bastante interessante,
mas igualmente arriscado. Se já é bastante problemático tentar traçar influências
e seguidores entre obras tão distantes física, estética e cronologicamente, isso
se torna ainda mais complicado em se tratando de um diretor como Robert Bresson,
cuja obra era pautada por um programa tão rígido que o próprio Bresson tinha dificuldade
em seguí-lo (e sobre isso é interessante a leitura da recente edição de “Notas
sobre o Cinematógrafo”, onde o diretor expõe seus pensamentos e preceitos sobre
o que deveria ser o cinema). Somente a revisão de tais filmes, lado a lado, é
que poderá nos dizer se existe uma verdadeira ligação entre esses filmes para
além das simples aparências. (Leonardo Mecchi) *** Muito já se falou
do isolamento do Brasil dentro da América Latina, onde barreiras culturais e lingüísticas
impedem que haja um maior intercâmbio entre nossa produção e a de nossos vizinhos.
Se algumas cinematografias conseguem bem ou mal romper essa barreira – como no
caso do cinema argentino (algo que só ocorreu, a bem da verdade, após o reconhecimento
dessa produção em festivais europeus) – outras permanecem como uma completa incógnita
para nós. É o caso por exemplo da República Dominicana, foco de uma mostra
que ocupará o Centro Cultural São Paulo, na capital paulista. De 27 de Fevereiro
a 04 de Março serão exibidos treze títulos produzidos entre 1988 e 2006, numa
rara oportunidade de conhecer parte da produção cinematográfica caribenha. A única
ressalva é o fato de que, como já se tornou hábito nas mostras recentes do CCSP,
muitos dos filmes serão exibidos em DVD. (Leonardo Mecchi)
Fevereiro
2007
Nos anos 60, figuras como Maurice Capovilla trabalhavam
numa Cinemateca Brasileira, capitaneada por Rudá de Andrade, que
não se satisfazia com o papel de local de exibição nem de
preservação de filmes (papel que foi se ampliando muito mais com
o passar dos anos - na mesma medida, lógico, que se ampliam as obras a
serem preservadas). A Cinemateca também era uma grande provedora de mostras
e cursos que se espalhavam pelo Brasil levando filmes do seu acervo para serem
conhecidos pelo espectador dos recantos mais inesperados. De alguma forma, este
papel essencial da instituição começa a ser recuperado com
o projeto da Programadora Brasil, da Secretaria do Audiovisual do Ministério
da Cultura. A Programadora nada mais é que a disponibilização
de um amplo catálogo de audiovisuais brasileiros, que vão de longas
das primeiras décadas do século passado a curtas de recentíssima
safra, a ser distribuído (em DVD) em escolas, universidades, cinematecas,
cineclubes, etc. O objetivo, cristalino, é, como afirma o release de viulgação
do projeto, "democratizar o acesso ao cinema nacional, permitindo uma maior
circulação dos filmes produzidos no país, e também
estimular a formação de público". Trata-se de uma iniciativa
das mais essenciais já tomadas neste sentido, nem que seja por recolocar
em pauta os problemas da chegada do audiovisual brasileiro ao espectador e da
formação de público como questões de política
pública. Entre 9 de fevereiro e 3 de março, vários programas
de filmes presentes no primeiro pacote do programa estarão sendo exibidos
gratuitamente na própria Cinemateca - o que é legal como cartão
de visitas, mas está longe de ser o principal objetivo que o programa deveria
atender, que é justamente tirar o cinema brasileiro das "grades"
de suas próprias instituições tradicionais, e fazer com que
ele chegue aos espectadores mais distantes destas. É por essa segunda fase,
e seus resultados, que esperamos ansiosamente. (Eduardo Valente) * * *
Seguindo-se
a um janeiro que deu a São Paulo retrospectivas de Godard e Fellini, fevereiro
também promete ser uma festa para o cinéfilo que queira rever (ou
ver pela primeira vez, por que não?) a obra de alguns dos principais nomes
do cinema mundial. Primeiro porque, entre 9 e 15 de fevereiro, o CineSesc
recebe uma mini-retrospectiva de John Cassavetes, com cinco dos seus longas
mais importantes. Mais do que uma versão pocket da mostra completa
do cineasta que o CCBB carioca hospedou em dezembro último, esta mostra
promete ser o aquecimento para o posterior relançamento em circuito destes
cinco filmes, começando já no dia 16 com Uma Mulher sob a Influência.
Trata-se da retomada de uma promessa do Grupo Estação quando da
última mostra de Cassavetes, durante o Festival do Rio de 1999 - que esperamos
que desta vez se cumpra mesmo.
Já a Cinemateca Brasileira
exibe, entre 13 de fevereiro e 4 de março, uma retrospectiva bem mais abrangente
do francês Eric Rohmer. Por mais animador que possa ser sempre ver
(e rever, como dissemos) estes filmes, é fato que tanto Rohmer quanto Godard
tiveram suas carreiras bastante bem passadas a limpo ultimamente nos cinemas do
Brasil, uma vez que o grosso das cópias destas mostras se devem à
compra recente pelo Estação de vários filmes dos dois cineastas,
o que já deu motivo à algumas mostras com estas mesmas cópias,
sendo que várias delas estiveram em cartaz. Nesse sentido, embora o acesso
constante ao repertório seja uma das marcas de cidades de forte tradição
cinéfila (permitindo assim que até se perca algumas destas mostras
por sabermos que elas voltam depois à cena), é de se lamentar apenas
que nosso repertório constante, por uma questão de limitados acervos
em película, seja formado quase sempre pelos mesmos três ou quatro
nomes consagrados. Nesse sentido, melhor relembrar e celebrar a mais rara retrospectiva
de Rainer Werner Fassbinder que acontece no CCBB de São Paulo mais
para o fim do mês, já comentada aqui pelo Leo Mecchi. (Eduardo Valente)
*
* *
Se fevereiro é tempo de olhar para trás em São
Paulo, no Rio de Janeiro é hora de olhar para o futuro com mais uma edição
da Mostra do Filme Livre. O evento se consolida cada vez mais no calendário
brasileiro pela mais abrangente apresentação de trabalhos nos mais
diferentes formatos, bitolas e esquemas de produção no Brasil (ainda
que o conceito do "filme livre", eternamente uma questão para
a própria mostra, continue sendo altamente questionável). De fato,
a programação da MFL (que pode ser vista no site
da Mostra) é tão vasta que, um pouco como acontece no Festival
de Curtas de SP ou na Curta Cinema, há uma certa sensação
de impotência e afogamento frente a enormidade do número de títulos
em exibição (por exemplo, são 26 sessões só
no panorama). Para o meu gosto pessoal seria mais interessante acompanhar mostras
um pouco menos abrangentes, com olhares mais direcionados das curadorias - mas
a opção pelo gigantismo tem seus adeptos, além da inegável
utilidade prática de abrir as portas de salas para que mais obras cheguem
a mais espectadores. Este ano, aliás, a MFL expande seu circuito e ocupa
por duas semanas o CCBB-RJ, a Casa França-Brasil e o Oi
Futuro, além do circuito dos vários cineclubes do Rio
de Janeiro. É pegar fôlego e mergulhar no mar de títulos.
(Eduardo Valente)
* * *
Ainda no espírito das comemorações
dos 453 anos de São Paulo, vale a pena relembrar uma época em que o circuito exibidor
da cidade ainda não era tão restrito e havia espaço para algumas ousadias. Na
década de 60, por exemplo, o bairro da Liberdade possuía algumas salas de cinema
que formavam um circuito alternativo para atender àquela que é até hoje a maior
comunidade japonesa fora do Japão. Exibindo – muitas vezes sem legendas – desde
clássicos do cinema nipônico às novidades da então recém surgida “nouvelle
vague japonesa” (Yoshida, Oshima, Imamura, entre outros), essas projeções
atraíam não apenas os imigrantes orientais e seus descendentes, mas muitos paulistanos
que buscavam nesses filmes grandes choques e novidades estéticas, incluindo aí
figuras como Jairo Ferreira e Carlos Reichenbach. Embora ainda haja uma
grande demanda por esse tipo de produção na cidade – como deixou clara a passagem
pelo CineSesc de O Samurai do Entardecer, de Yoji Yamada – é cada vez mais
rara a presença de títulos japoneses no catálogo das distribuidoras brasileiras.
É por isso que vem em boa hora a iniciativa da Fundação Japão e seu projeto
Sempre Cinema. Retomando o espírito das antigas salas da Liberdade, a Fundação
Japão irá exibir de Janeiro a Março em seu Espaço Cultural – e desta vez com legendas
em português e entrada franca – de clássicos como Desejo Profano (também
conhecido como Desejo Assassino), do recentemente falecido Shohei Imamura,
a produções recentes como Verão Negro – Falsa Acusação, de Kei Kumai, premiado
no Festival de Berlim de 2001. Trata-se da segunda edição do projeto que, de Outubro
a Dezembro de 2006, teve uma excelente recepção junto ao público. Esse sucesso
apenas reforça a demanda, já apontada por Eduardo Valente em seu artigo “Onde estão as alternativas?”,
por espaços verdadeiramente alternativos de exibição. “If you build, they will come.” (Leonardo Mecchi) *** Por
falar em retomar velhos hábitos, o HSBC Belas Artes inaugura agora em Fevereiro
seu Cineclube. Se dos antigos clubes de cinéfilos o projeto do Belas Artes
retém apenas o nome, já que o espírito e ambiente daqueles grupos está longe do
estilo “cine-butique” da atual versão modernizada do complexo de salas paulistano,
trata-se ainda assim de uma sempre bem vinda iniciativa de trazer a público filmes
que de outra forma não estariam circulando por nossas salas, sejam clássicos relegados
a esporádicas exibições em mostras ou cinematecas ou filmes contemporâneos que
não passam pelo crivo de “vendáveis” das distribuidoras. Em seu primeiro
ciclo, que vai de 2 de Fevereiro a 1º de Março, a programação trás filmes que
giram em torno de um dos maiores fetiches da humanidade (pelo menos da parte masculina
dela): as lolitas. Além do clássico de Stanley Kubrick adaptado da obra de Nabokov,
serão exibidos O Joelho de Claire, de Eric Rohmer (habitué do finado
Top Cine, um dos poucos espaços paulistanos que prezava pela programação contínua
de clássicos), Bilitis, de David Hamilton, e Chuva de Verão, de
Christine Jeffs. Embora suas sessões sejam abertas ao público em geral, o Cineclube
terá também um plano de associação, com planos trimestrais, semestrais e anuais
que darão acesso a todos os filmes programados – o que aliás é uma dessas idéias
do circuito exibidor francês que nunca deu para entender porque não é mais usada
aqui. (Leonardo Mecchi) *** E já que falamos da adaptação de Stanley
Kubrick para Lolita de Vladimir Nabokov, vale destacar ainda o curso A
literatura no cinema, que o Centro Universitário Maria Antonia realizará de
05 a 08 de Fevereiro. Ministrado pelo professor da USP Maurício Santana Dias,
o curso irá analisar o que ocorre quando grandes cineastas encontram grandes obras
literárias. Dessa forma, será discutido ao longo do curso a adaptação de Luchino
Visconti para O Inocente, de Gabrilele D’Annunzio; a versão de John Huston
para o conto de James Joyce Os Mortos; a obra póstuma de Stanley Kubrick,
De Olhos Bem Fechados, adaptada da novela de Arthur Schnitzler; e como
Louis Malle filmou Tio Vânia, de Anton Tchekhov. (Leonardo Mecchi) *** Por
último, vale apenas reforçar que a mostra Revisão do Cinema Novo, já discutida
aqui no mês passado por Eduardo Valente, irá iniciar sua temporada paulistana
no CCBB, com projeções e debates se estendendo de 31 de Janeiro a 25 de Fevereiro.
A conferir... (Leonardo Mecchi)
Janeiro
2007
Estreamos este mês uma nova coluna na Cinética, a Na
Agenda. Aqui, tentaremos destacar com mais freqüência tudo aquilo que nos parece
de interesse ao leitor espalhado pelo país – seja festivais e mostras de cinema,
seja ciclos de filmes na TV, seja algum evento especial a acontecer. É
uma forma de não apenas reagirmos ao que já aconteceu, mas chamar
o leitor para partilhar um evento conosco. Aos amigos assessores de imprensa,
vale esclarecer que não se trata de um espaço para simples reprodução de press-releases,
mas sim uma coluna assinada onde o redator, ao optar por chamar nossa atenção
para um evento, estará falando na primeira pessoa, explicando o que chamou a atenção
dele para recomendar. Para receber sugestões de eventos que por acaso não tenham
chegado ao nosso conhecimento (principalmente os que se realizem mais longe das
“fronteiras” da nossa redação – ainda que estas incluam com alguma amplitude SP,
RJ, Porto Alegre, Recife, Paris...), criamos um email
específico da coluna. *** No próximo dia 24 começa a 36a
edição do Festival Internacional de Roterdã, que este ano reserva boas
notícias para o cinema brasileiro: Baixio das Bestas, novo filme de Cláudio
Assis que teve sua estréia no último Festival de Brasília e foi comentado aqui por Cleber
Eduardo, terá sua primeira exibição internacional na competição pelo prêmio máximo
do Festival. Ainda na mostra competitiva, mas desta vez de curtas metragens, o
Brasil estará representado por Trecho, de Clarissa Campolina e Helvécio
Marins, e Noite de Sexta Manhã de Sábado, de Kleber Mendonça Filho. Kleber,
que também é colaborador da Cinética além de editor do Cinemascópio, ainda terá
uma retrospectiva de sua obra na seção “Short Features Filmmaker Focus”, com as
exibições de Enjaulado, A Menina do Algodão, Vinil Verde,
Eletrodoméstica e Noite de Sexta Manhã de Sábado – ou seja, sua
carreira inteira. Não deixa de ser sintomático o fato de que o Brasil esteja sendo
representado no que é considerado um dos mais ousados festivais de cinema europeus
por dois filmes pernambucanos e um mineiro, confirmando que o que há de mais interessante
no audiovisual brasileiro hoje está sendo feito, muitas vezes, fora do famoso
eixo Rio-São Paulo. (Leonardo Mecchi) *** Enquanto Roterdã exibe suas
apostas para o futuro do cinema mundial, em São Paulo será a vez de reverenciar
os clássicos. Para aqueles que ficaram salivando com a exposição dedicada a Godard
pelo Centro George Pompidou (e que foi tema de artigos de Leonardo Sette
e Cezar Migliorin
aqui na Cinética), a Cinemateca Brasileira exibe, de 17 de janeiro a 11 de fevereiro,
uma Retrospectiva Jean-Luc Godard, que cobrirá de maneira reduzida, porém
cronologicamente (uma atitude louvável), a carreira do diretor, indo de Acossado
até Nossa Música. Estão programados não apenas praticamente todos os grandes
clássicos de Godard, como também curtas-metragens realizados sobre o diretor
e seu processo de criação, como Encounter with Fritz Lang, Le Mépris:
Bardot et Godard e Paparazzi. Enquanto isso, no Cine Olido, estará
ocorrendo de 09 a 28 de janeiro um ciclo dedicado a Federico Fellini, também
repleto de clássicos como A Doce Vida, 8 ½, Amarcord e E
La Nave Vá, entre outros. Como ressalva fica apenas o fato de que as exibições
serão todas em DVD, o que prejudica e muito a obra de um diretor como Fellini.
E finalmente, após os leitores paulistanos terem se deliciado com essas duas mostras,
o Centro Cultural Banco do Brasil realizará de 26 de fevereiro a 18 de março uma
mostra com 16 longas de Rainer Werner Fassbinder (que, coincidentemente,
terá seu tour de force Berlin Alexanderplatz exibido, com suas 15 horas
e meia completamente restauradas, no próximo Festival de Berlim). A mostra, que
por enquanto está restrita apenas à unidade do CCBB de São Paulo, terá curadoria
do contracampista Ruy Gardnier. São eventos como esse que colocam São Paulo, apesar
de todos os problemas e limitações, entre as cidades mais cinéfilas do mundo,
ao lado de outras como Paris, Nova York e Berlim. (Leonardo Mecchi)
*
* * De 09 a 13 de Janeiro realiza-se o 2o Festival de
Atibaia, evento que abre o calendário de festivais do Brasil com a exibição,
nessa pequena cidade no interior de São Paulo, de curtas e vídeos brasileiros
premiados ao longo de 2006. A exemplo do que ocorreu em sua primeira edição, que
trouxe filmes e realizadores franceses através de uma parceria com o Festival
de Contis, Atibaia este ano repete a parceria com o festival francês e firma uma
nova – com o FESPACO, festival pan-africano que ocorre em Burkina Faso e que é
considerado por muitos o mais importante evento audiovisual daquele continente.
Além de disponibilizar obras que seriam de outra forma inacessíveis ao público
brasileiro, tais parcerias são ainda mais importantes por firmarem uma via de
mão dupla, com a exibição nesses festivais de uma seleção dos curtas brasileiros
presentes em Atibaia. Com o circuito exibidor se mostrando cada vez mais arredio
e desfavorável à produção nacional, ainda mais longe dos grandes centros, iniciativas
como a do Festival de Atibaia, que incentiva a formação de público, continuam
sendo essenciais à melhor circulação das obras. (Leonardo Mecchi)
*** E
por falar em iniciativas que buscam tornar a produção brasileira contemporânea
menos dependente de lançamentos comerciais (cada vez mais viciados e infutíferos),
o projeto Cine Tela Brasil (que em 2006 completou 10 anos de projeções itinerantes
pelo interior do país), realizará de 11 a 13 de janeiro sessões de pré-estréia
de Antônia na Vila Brasilândia, periferia de São Paulo – local onde o longa
de Tata Amaral foi rodado. Serão exibidos também outros filmes realizados na região,
como De Passagem, Família Braz e O Invasor. Desenvolvido
pela diretora Laís Bodanzky, o projeto Cine Tela Brasil já realizou mais 500 projeções
por todo o Brasil e é hoje a sala de cinema com a maior taxa de ocupação do país,
desmontando o argumento de que não existe público para os filmes brasileiros.
(Leonardo Mecchi)
*** Ainda falando em cinema brasileiro, do próximo
dia 10 até 28 de janeiro acontece na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, a mostra
Luz em Movimento – A Fotografia no Cinema Brasileiro, uma espécie de complemento
nacional à mostra Arte em Movimento – A Fotografia no Cinema que ocupou
o CCBB de São Paulo em maio último. A seleção abrange desde as pedras angulares
do cinema brasileiro Limite e Ganga Bruta até os recentes O Invasor
e Cidade de Deus, passando por clássicos como O Cangaceiro, São
Paulo S.A. e Vidas Secas. Completam o programa debates como “A estética
fotográfica contemporânea” e “Luz Tropical: um fator determinante?”. Apesar de
ser sempre bem vinda a possibilidade de se (re)ver filmes como esses, a reincidência
dos mesmos títulos – clássicos e notórios – em diversas mostras dedicadas ao cinema
brasileiro levanta uma questão no mínimo curiosa: seria a ausência de uma política
clara de difusão permanente dos clássicos do cinema brasileiro por parte das instituições
devidas (Cinemateca Brasileira, MIS-SP, MAM-RJ etc) responsável pela necessidade
de que se criem periodicamente mostras temáticas para que tais filmes venham a
público, seriam as curadorias de tais mostras que não buscam uma seleção mais
ousada e criativa, ou seria a ausência de cópias exibíveis de uma quantidade maior
de filmes que limitam tanto o acesso a um mesmo cânone constante? (Leonardo Mecchi) *** Cânone,
aliás, que é o próprio tema da mostra Revisão do Cinema Novo, que ocupa
o CCBB de Brasília desde o dia 2 de janeiro, e que segue para o de São Paulo a
partir de 31 deste mesmo mês. Organizada pela Associação Cultural Contracampo,
a mostra tem curadoria de Daniel Caetano, redator da revista eletrônica de mesmo
nome; e um catálogo editado por Ruy Gardnier, um dos editores da mesma, onde se
faz uma breve fortuna crítica do que foi dito sobre os filmes na época do seu
lançamento – além de servir como base de consultas valiosa sobre os lançamentos
realizados nos cinemas brasileiros então. Dentro do conceito da mostra, os realizadores
não buscavam um olhar “revisionista” no sentido da simples contestação do cânone
deste que é ainda hoje o principal momento de referência da história do cinema
brasileiro. Pelo contrário, aqui o desejo era colocar lado a lado um painel o
mais abrangente possível da produção do período fundamental do surgimento mesmo
da idéia do que se convencionou chamar Cinema Novo (dentro dos limites das dificuldades
de existência de cópias que citamos acima). Revisão então significa realmente
ver de novo, olhar tanto para os clássicos que ficaram como marcos inegáveis (e
claro que não poderiam faltar Deus e o Diabo na Terra do Sol ou Os Fuzis
– embora falte Vidas Secas, por opção do diretor) como para os filmes que
muito menos pessoas associam hoje ao movimento (Tocaia no Asfalto, A
Vida Provisória). No caso, a idéia é que a acumulação da experiência
de ver (e debater, há debates programados nas duas cidades), ao longo de um mês,
o máximo de filmes possíveis do período pode, por si mesmo, ser um exercício revelador.
Programa imperdível. (Eduardo Valente) *** A mesma Associação Cultural
Contracampo também ocupa o cinema do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de
Janeiro entre 9 e 21 de janeiro, com uma mostra de curioso recorte temático (ainda
mais quando realizada dentro de um prédio que já foi agência bancária): trata-se
do Cinema de Assalto. Nesta, colocam-se lado a lado produções nacionais
e estrangeiras, clássicas ou contemporâneas, deste subgênero específico do cinema
policial. Vale ver de que forma ferramentas narrativas semelhantes ultrapassam
as fronteiras geográficas e temporais e criam diálogos insuspeitos entre autores
tão distintos quanto Rogério Sganzerla e Spike Lee, Roberto Farias e Samuel Fuller.
É o tipo de mostra que ainda parece um pouco rara no Brasil (onde geralmente se
busca um “grande tema”), mas que traz um certo ar parisiense de uma cinefilia
alegre, do interesse de ver alguns filmes em conjunto sem precisar se preocupar
tanto se aquela é uma mostra “definitiva” sobre alguma coisa. O Odeon BR, na sua
curta fase cinemateca, fez um pouco isso no ano passado – pena que para uma sala
na maior pare do tempo vazia. Seria genial se o Estação, que em 2007 promete uma
razoável expansão de seu circuito carioca, reservasse uma sala um pouco menor
do que o gigante da Cinelândia para uma programação deste tipo. Público há (e
deve-se formar ainda mais), o desafio importante é fazer ele aparecer. (Eduardo
Valente)
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