cartas dos leitores
Zidane e a imagem-tempo

Oi,
Li o texto do Cléber Eduardo sobre Zidane.

Realmente, a transmissão da copa está cada vez mais requintada em termos de imagens – uma infinidade de posicionamentos e movimentos de câmera. Camila Machado, uma amiga "sonidista", recém-chegada da escola de Cuba, fala justamente dessa precariedade do som nas transmissões de futebol. Seria preciso ter vários microfones espalhados pelo estádio e, mais importante, um profissional para fazer a "edição" e mixagem em tempo real. Coisa complicada, mas possível. Seria genial.

Talvez isso não ocorra por uma falta de tradição do uso efetivo do som na TV,claro, mas também acho que esse "mutismo" em jogo de futebol também compactua com uma certa moral da mídia, afinal jogador xinga pra caralho, torcedor mais ainda. Seria um festival de palavrões na rede da Globo durante a partida...

Agora, vou viajar: a cabeçada de Zidane seria uma insinuação da imagem-tempo deleuzeana (ao vivo!) num espetáculo televisivo? Como você disse, a falta de som impossibilitou inserir a imagem dentro de uma narrativa. Na hora H, o mundo todo presenciou uma imagem-ação solta, uma imagem desprovida de vínculo sensório-motor. Será?

Um abraço,
Cássio Pereira


Cássio,
A hipótese é boa: ação do Zidane não ser fruto de uma reação.
Simultaneamente uma infinidade de outros sons e imagens tentam organizar a narrativa; "o italiano encheu o saco dele o tempo todo" , " ele foi racista", "falou da irmã", etc. A imagem da cabeçada se desdobra em várias outras imagens, como a que vimos no Youtube, o que é próprio da imagem-tempo, não?

Acho que a cabeçada tem também o fato de não ter  sido uma violência contra o jogar (nas pernas), mas contra a pessoa. Mas, não no rosto... o rosto foi apagado.

abraços
Cezar Migliorin

 

 


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