in loco - cobertura dos festivais
Batida Policial (Serbuan Maut),
de Gareth Evans (Indonésia/EUA, 2011)

por Fabian Cantieri

George HarrisonA arte da porrada

Tirando poucos golpes mortais, o que impressiona em Batida Policial é a sua decupagem altamente preocupada em evidenciar a luta ao invés de disfarçá-la. Não que as porradas sejam reais, mas ao longo dos precisos cem minutos de filme, o que vemos é uma sucessão de planos minuciosamente escolhidos para que o espaço em questão aponte o tiro/soco fulminante. O corte parece sempre uma imposição necessária quando se chega ao limite do encenado – para exaltar a coreografia tão bem realizada, é preciso pôr a câmera num outro ponto para melhor se ater ao essencial.

O que importa é a porrada. É quase como uma analogia das lutas atuais – se você não pode ir à arena, pague um pay per view e terá ângulos inimagináveis comparado aos que a realidade impõe. São relativamente significantes as (poucas) deixas de roteiro que indicam o inquestionável foco travado – desde o início, a la treino de Rocky, que revela que o protagonista não é só um homem sem passado, mas um homem de família, um futuro pai que não pode sair ensandecido por aí, sem pensar na própria vida; até a grande revelação de que o irmão é um dos braços direitos do grande vilão – tudo é lidado como um background histórico de videogame. Tudo isso é preciso para o contexto inteiro, mas não deve perdurar por muito para que não percamos de vista o mais importante. Senão, damos start e vamos em frente.

Que a lembrança do videogame não confunda: Batida Policial não é uma alegoria da violência ou sua aclamação, simplesmente uma impostação do quão necessário é enfrentarmos de frente a brutalidade inerente à vida. Não à toa, a exceção se dá num dos raros momentos onde a morte é apregoada ritualisticamente com as próprias mãos – no exato instante anterior do mais habilidoso lutador traficante quebrar o pescoço de um policial, na primeira grande luta do filme, Gareth Evans corta para a narrativa de Rama refreando a adrenalina rítmica. Essa cadência é regida com maestria para que a ação constante não vire eterna enquanto dure. Não é surpresa ler depois, nos créditos, que o diretor também monta o filme: cada pequena surpresa na história, mais do que apenas um truque de roteiro, funciona como uma pausa melódica entre notas intensas.

Novembro de 2011

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