in loco - cobertura dos festivais
Batida Policial (Serbuan Maut),
de Gareth Evans (Indonésia/EUA, 2011)
por Fabian Cantieri
A
arte da porrada
Tirando poucos golpes mortais, o que impressiona em Batida
Policial é a sua decupagem altamente preocupada em
evidenciar a luta ao invés de disfarçá-la.
Não que as porradas sejam reais, mas ao longo dos precisos
cem minutos de filme, o que vemos é uma sucessão
de planos minuciosamente escolhidos para que o espaço em
questão aponte o tiro/soco fulminante. O corte parece sempre
uma imposição necessária quando se chega
ao limite do encenado – para exaltar a coreografia tão
bem realizada, é preciso pôr a câmera num outro
ponto para melhor se ater ao essencial.
O que importa é a porrada. É quase como uma analogia
das lutas atuais – se você não pode ir à
arena, pague um pay per view e terá ângulos
inimagináveis comparado aos que a realidade impõe.
São relativamente significantes as (poucas) deixas de roteiro
que indicam o inquestionável foco travado – desde
o início, a la treino de Rocky, que revela que
o protagonista não é só um homem sem passado,
mas um homem de família, um futuro pai que não pode
sair ensandecido por aí, sem pensar na própria vida;
até a grande revelação de que o irmão
é um dos braços direitos do grande vilão
– tudo é lidado como um background histórico
de videogame. Tudo isso é preciso para o contexto inteiro,
mas não deve perdurar por muito para que não percamos
de vista o mais importante. Senão, damos start
e vamos em frente.
Que
a lembrança do videogame não confunda: Batida
Policial não é uma alegoria da violência
ou sua aclamação, simplesmente uma impostação
do quão necessário é enfrentarmos de frente
a brutalidade inerente à vida. Não à toa,
a exceção se dá num dos raros momentos onde
a morte é apregoada ritualisticamente com as próprias
mãos – no exato instante anterior do mais habilidoso
lutador traficante quebrar o pescoço de um policial, na
primeira grande luta do filme, Gareth Evans corta para a narrativa
de Rama refreando a adrenalina rítmica. Essa cadência
é regida com maestria para que a ação constante
não vire eterna enquanto dure. Não é surpresa
ler depois, nos créditos, que o diretor também monta
o filme: cada pequena surpresa na história, mais do que
apenas um truque de roteiro, funciona como uma pausa melódica
entre notas intensas.
Novembro de 2011
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