Sexo Com Amor?, de Wolf Maya (Brasil, 2008)
por Eduardo Valente

Desejos em conflito

Existe uma muito curiosa esquizofrenia presente em Sexo com Amor?: ao mesmo tempo que esta estréia em longas de Wolf Maya possui na sua construção estética (iluminação, direção de arte, figurinos) uma mesma marca daquele método de produção global (da rede Globo, bem entendido) que torna a idéia de know-how algo extremamente preguiçoso (do que a encenação da tosca parte final, que une as três histórias, é o exemplo mais claro), também existe aqui uma desastrada tentativa de afirmar-se como cinema, a partir de escolhas como a fotografia em scope ou o uso de constantes e pouco compreensíveis travellings para abrir várias sequências.

Da mesma forma, a narrativa sente necessidade de, ao mesmo tempo em que abraça inúmeros cacoetes da comédia mais popular, utilizar um formato multiplot que tanto garante a ela um certo ar de contemporaneidade, quanto deseja emprestar uma “seriedade” de discurso ao tentar abarcar três classes sociais diferentes, permitindo o que seria um retrato de vários Brasis (algo, aliás, também típico da telenovela global). É pena, porque a falta de melhor solução para estas esquizofrenias impede que uma narrativa tão gostosa e esperta como aquela interpretada por Eri Johnson e Maria Clara Gueiros (com apoio hilário de Mara Manzan e deliciosamente sedutor da novata Natasha Haydt) não seja atrapalhada por uma narrativa tão bisonhamente sem sal ou qualquer registro de verdade como a de Carolina Dieckmann e José Wilker (que, aliás, confirma de vez o péssimo ator em que este vai se transformando cada vez mais). No meio termo, o carisma e a inteligência em cena de Reynaldo Gianecchini constroem o personagem mais interessante e dúbio do filme, mesmo que a história em que ele se insira seja bem fraca.

No fundo, Sexo com Amor? talvez seja o mais interessante entre os exemplares recentes da comédia popular cinematográfica com origens na televisão, entre outros motivos porque permite reconhecer, tanto na sua forma como no seu conteúdo narrativo, as marcas claras de um determinado momento brasileiro na maneira de lidar com o sexo nas relações. É talvez o mais perto que se pode sonhar chegar na pornochanchada hoje em dia, dentro de uma produção dominante: mesmo que a sexualidade precise estar bastante domada na sua manifestação na tela, pelo menos conseguimos reconhecer em vários dos personagens os dilemas sexuais dentro de sua expressão mais contemporânea. Mesmo que com excesso de amor, pelo menos o sexo dá as caras.

Abril de 2009

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