in loco - cobertura dos festivais

Rio Sex Comedy (Idem), de Jonathan Nossiter
(França/Brasil, 2010)

por Paulo Santos Lima

A burrice da imagem “inteligente”

Nos filmes de Sylvester Stallone ou de George Pan Cosmatos, ou mesmo nas fitas vagabundas com Steven Seagal ou Dolph Lundgren, deixa-se claro que o garrancho, por vezes, tem algo de notável, em algum entrecho dele. Porque é preferível um filme mau a um filme tolo, freado em seu despudor, ou que busca algo de “inteligente” sem perceber a ausência de requisito mínimo - ou seja, QI (traduzindo, olho) para sua realização.

Jonathan Nossiter fez um documentário até certo ponto atraente, Mondovino, mas agora verte seu sarcasmo “inteligente” para a ficção, em Rio Sex Comedy, resultando em algo um bocado constrangedor. Claro que não é intenção de nenhum cineasta minimamente sensível, inclusive Nossiter, um sujeito simpático e casado com uma brasileira, sambar na sepultura de nossa maltratada condição material. O que parece conduzir o ponto de partida desta comédia com pretensões de irreverência, que bem poderia aportar na chanchada, mas que encontra porto no humor à la Sai de Baixo, é fazer piada para chegar a assuntos sérios. Alguns deles, como a questão dos marginalizados, a cisão entre periferia e centro, a política norte-americana que dá os ombros para os problemas do 3o Mundo e a futilidade de uma burguesia perdida.

Através do personagem de Bill Pullman, que é um embaixador no Rio de Janeiro que decide conhecer a realidade da favela e decide fazer algo, teremos uma aula sobre o quanto os traficantes ajudam as comunidades uma vez que o Estado nunca chega nas zonas periféricas. Sim, o diretor acredita nessa tese furada há tempos. Na história ainda há: uma médica (Charlotte Rampling) que tenta convencer seus pacientes de que não precisam mudar a aparência; um casal francês que age como tal no Brasil enquanto faz um trabalho sobre a condição das empregadas domésticas (e a esposa trai o marido com o irmão dele); um alemão que coordena excursões na favela e é apaixonado por uma índia, cuja família ele traz da Amazônia para a mata do morro carioca. São histórias separadas que acabarão se entrelaçando. Em todas elas, o sexo é uma questão.

Aqui o filme poderia ser bastante mais interessante, já que a nudez frontal é uma presença que poderia remeter a algo que o estrangeiro Nossiter deve ter passado os olhos, alguma vez em sua vida: a pornochanchada. Passou os olhos, mas não aprendeu. Teremos, com lamentável exceção de Charlotte Rampling, uma nudez coletiva que se mostra, sim, mas age nada livre, como na TV. A índia pelada, a gringa que liberou geral, a esposa que grita como uma égua, enfim, são esses temas que Rio Sex Comedy traz embalados em imagens constrangedora. O filme talvez servisse como ferramenta de reflexão sobre a visão do estrangeiro sobre nós, selvagens (com aspas, que fique claro), mas o problema parece estar no cineasta. É comparar TV Pirata com os atuais programas cômicos das noites de sábado da TV. Na tela grande, o buraco fica ainda mais abismal.

Outubro de 2010

editoria@revistacinetica.com.br


« Volta