admirável mundo novo
Quem não tem cão...
por Leonardo Mecchi
Para
os amantes do futebol, a Copa do Mundo é o equivalente aos grandes
festivais e mostras de cinema para os cinéfilos: entre grandes
expectativas, promessas não cumpridas e gratas surpresas, concentra-se
em poucos dias a possibilidade de se ver o que de melhor está
sendo produzido ao redor do mundo. Não à toa, durante ambos os
eventos, os mais aficionados chegam a tirar férias para melhor
acompanhar essa oportunidade única.
Mas o que resta aos meros mortais, que precisam
garantir o ganha-pão e esbarram na insensibilidade de seus empregadores
que não compartilham da mesma paixão?
Embora a quase totalidade dos brasileiros seja
dispensada de seus deveres profissionais (numa espécie de acordo
tácito) durante os jogos da seleção canarinho, o que acontece
com as demais 45 partidas da Copa (considerando-se aqui apenas
a primeira fase)? Pois da mesma forma que o bom cinéfilo não se
contenta, durante a Mostra de SP ou o Festival do Rio, em conferir
o último vencedor do Festival de Cannes, mas anseia também pela
mais recente co-produção entre o Cazaquistão e o Quirquistão,
o amante do futebol espera, durante quatro anos, pela oportunidade
de ver Argentina x Sérvia ou Togo x Suíça.
Foi diante desse dilema que me encontrei nesta
Copa, onde as agruras do fuso horário jogaram todas as partidas
para o horário comercial. Participando além disso de dois bolões,
a impossibilidade de acompanhar os jogos tornou-se ainda mais
angustiante. Ficou então a questão: como, diante das possibilidades
e limitações que me foram impostas, acompanhar da melhor forma
possível os jogos da Copa?
Na impossibilidade de assistir os jogos pela TV,
com suas promessas de transmissão em widescreen e som 5.1, a primeira
tentativa, malfadada, foi recorrer ao bom e velho radinho de pilha.
Mas, logo na abertura da Copa com Alemanha x Costa Rica, tal opção
mostrou-se inviável: parafraseando o velho repórter, “a emoção
inigualável do rádio” reduziu minha produtividade a zero. Na busca
por outra alternativa, uma grata surpresa, que desde então tem
me acompanhado na Copa: o Placar
Interativo do UOL.
Para os que não conhecem a ferramenta, trata-se
de um relato em tempo real, lance a lance, dos jogos. Diferentemente
de outros placares em tempo real da Internet brasileira (Folha,
Terra, Estadão), a estrutura do Placar Interativo do UOL é clara
e funcional: no topo, o placar atual do jogo e informações gerais
da partida (tempo de jogo, etapa, local e fase do campeonato).
Logo abaixo, no lado esquerdo, o relato do jogo, minuto a minuto.
Do lado direito, três pastas: a primeira com a escalação de ambos
os times (ao lado do nome de cada jogador, ícones indicando eventos
no qual ele se envolveu até aquele momento do jogo, como cartões,
substituições e gols), onde ao clicar em algum nome imediatamente
observa-se um perfil daquele jogador, incluindo foto, idade, posição
em que joga e time atual; a segunda pasta contem uma descrição
detalhada dos principais eventos, como gols, cartões e substituições;
e finalmente a terceira pasta, com todas as estatísticas do jogo
em tempo real (como faltas, finalizações, passes, dribles, cruzamentos,
impedimentos etc). Complementando a página há uma linha do tempo,
onde ícones indicam os acontecimentos minuto a minuto, e uma tabela
com a classificação online do grupo, atualizada automaticamente
conforme os gols vão saindo.
Partindo de um grave handicap (a ausência
de imagem), o placar do UOL compensa essa deficiência com uma
quantidade inestimável de informações instantâneas, todas ao alcance
de um simples toque no mouse. Outra lacuna intrínseca em comparação
à TV é o fato da transmissão através da Internet não ser contínua,
por mais freqüente que seja a atualização do relato. Entretanto,
de certo modo isso aumenta ainda mais a tensão de quem acompanha
o jogo. Se na TV podemos verificar o andamento da partida e o
desenvolvimento das jogadas, na internet ficamos aguardando em
clima de suspense pelo próximo relato, que é completamente aberto
e totalmente imprevisível: na próxima frase podemos ficar sabendo
de uma expulsão estratégica para a partida, de um pênalti que
pode definir o jogo, de um gol redentor de nosso time ou de um
frango desastroso de nosso goleiro. Embora aumente a sensação
de arbitrariedade do jogo, aumenta-se também a ansiedade e a possibilidade
de surpresas (positivas ou negativas).
As informações disponíveis na ponta dos dedos
permitem, a quem está acompanhando a partida pelo Placar Interativo,
uma visão geral da partida bastante privilegiada, com dados e
estatísticas indisponíveis mesmo para o espectador de TV mais
entusiasta. Assim como o rádio encontrou seu diferencial para
a cobertura de eventos esportivos após a chegada da TV, ele soube
utilizar todo o potencial da mídia a que pertence para superar
as carências inerentes a esse meio e fornecer ao seu público a
melhor experiência possível. O proletariado agradece.
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