in loco
Cannes - Umas palavras pós-Palmas
por Eduardo Valente
Vamos dividir umas poucas palavras sobre a premiação,
já que o tempo antes da sala de imprensa fechar é
bem curto.
O primeiro momento curioso da noite foi ver o quanto realmente
a torcida maior era por Almodóvar: enquanto mostrava-se
no telão do Palais quem entrava na sala (e todos sabem
que só entram representantes dos filmes que ganharam algo),
havia um clima um tanto nervoso a cada rosto que surgia e não
era o dele. Quando surgiu Pedro com suas atrizes, houve um suspiro
coletivo na sala: "ele vai ganhar alguma coisa". Este
suspiro se ouviu de novo quando saiu o prêmio para as atrizes
do filme, e maior ainda no prêmio de roteiro, porque viu-se
claramente que ele não ganharia a Palma. Almodóvar
parecia tenso ao receber o prêmio, e depois disse na coletiva
que isso aconteceu porque foi um dia inteiro de viagem, e que
a tensão era grande porque ele lia o Film Français
e a Screen, e sabia ser o favorito. Foi a segunda vez que isso
aconteceu com ele, depois de Tudo Sobre Minha Mãe,
e ele disse que agora acha que é uma maldição
ser o favorito.
Na entrevista coletiva do júri, depois da premiação,
dois pontos foram repetidos várias vezes: que a seleção
tinha sido ótima e que as escolhas foram feitas de coração.
Todos pareciam satisfeitos, e mesmo o silêncio de Lucrecia
Martel pareceu mais timidez do que qualquer coisa. Todos disseram
que a maior tristeza do júri foi não poder dar prêmios
para mais filmes, porque acharam a seleção fascinante.
Foram citados pelo júri como filmes "injustiçados"
Juventude em Marcha (por Suleiman, Martel e Roth), Summer
Palace, Lumières du Faubourg (que Patrice Leconte
disse ser o seu favorito), e, não sem surpresa, L'amico
di famiglia, que Samuel L. Jackson chegou a mencionar como
uma influência futura na sua forma de atuar.
Quanto à Palma, todos disseram ter sido unânime a
vitória de Loach, um prêmio decidido facilmente,
um filme exibido no primeiro dia de competição e
que voltava à suas discussões todos os dias. O prêmio
em si surpreendeu muito, mas mais ainda esta "paixão
coletiva" do júri pelo filme, que não foi sentida
por quase mais ninguém na Croisette. Mais esperados eram
os prêmios para Flandres, Red Road, Babel
(segunda vez seguida em que o melhor diretor de Cannes dirigiu
um dos piores filmes na minha avaliação - mas, quem
sou eu para dizer algo?), e especialmente merecidos e bem "sacados"
foram os prêmios coletivos de interpretação
para Volver e Indigènes. Foi, de longe, a
escolha mais celebrada dentre as que o júri fez.
Finalmente, um júri diferente do oficial, formado principalmente
por jornalistas e presidido pelos irmãos Dardenne, deu
a Câmera de Ouro para o filme romeno A fost sau n-a fost?,
com isso dando uma muito bem-vinda força para a seleção
da Quinzena dos Realizadores, mas também comprovando a
força do jovem cinema romeno, que também já
tinha sido premiado em 2005, na Un Certain Regard.
Bom, agora eu tiro 24 horas de folga enquanto fecham-se os trabalhos
em Cannes. De Paris, volto logo com alguns comentários
sobre os filmes que serão vistos por lá (incluindo
Marie Antoinette, Il Caimano e alguns da Quinzena
e Un Certain Regard não vistos), assim como minhas cotações
e Palmas, que só darei no final do processo. Quem teve
paciência para acompanhar a viagem, aguarde, que voltamos.
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