ensaios
Sobre a maestria de Ozu
por Jonas Mekas, em tradução de Daniel Caetano

Publicado em 23 de Abril de 1970

13 de abril: Eu nasci, mas..., o filme silencioso de 1932 de Ozu, no MoMA (retrospectiva japonesa). Uma dessas raras e felizes experiências de ver um filme. Ozu recria a sua infância. A infância de dois garotos cujos pais se mudam para uma nova vizinhança. Ozu trabalha com detalhes cuidadosamente selecionados, com uma execução perfeita. Os sentimentos, pensamentos, brincadeiras e relações entre os dois garotos e seus amigos são mostrados com realismo, humor e uma crescente consciência social. Há comentários no filme sobre temas como escola, educação, riqueza e pobreza que soam como se estivéssemos lendo Rat (meu jornal underground favorito desde que passou a ser editado por mulheres). O que nos ajuda a provar, pela milionésima vez, que um artista genuíno e inspirado transcende o tempo e seu trabalho se torna eternamente relevante. Eu nasci, mas... é tão verdadeiro, emocionante e atual como era em 1932. Como Buda costumava dizer (caso vocês estejam se perguntando, eu estou citando um texto ainda inédito de Buda, que em breve será lançado): ninguém deve subestimar o poder da arte.

Agosto de 2011

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