O dorso da imagem

Seus Ossos e Seus Olhos é um filme que trabalha a eminência do Verbo e a caligrafia do Corpo pela chave do antinaturalismo. Na história da pintura, o antinaturalismo, herança do período bizantino, se consolidou, por um espaço irreal, sem profundidade, posturas não muito naturais, composições simples porém agudo expressionismo das imagens. Assim como na arte pictórica, todo filme dessa natureza põe em xeque o que vem a ser natural ao cinema e à vida. Aqui, há não só um aprofundamento e uma radicalização dessa… CONTINUA

Tragédia viva em esqueleto oco

A noção de dispositivo na história recente do cinema virou uma espécie de conceito-coringa, jargão e palavrão, que serve tanto para assinalar estratégias de abordagem, estruturas narrativas, o uso repetido de algum recurso formal e assim por diante. Grosso modo, são as regras do jogo: são procedimentos que o filme estabelece de saída, aquilo que dispõe em cena de antemão, um disparador que aposta em seus desdobramentos, e mesmo na perda de seu controle, como uma arbitrariedade primeira que norteia um processo ainda imprevisível. No… CONTINUA

Canção do exílio

A história é conhecida por alguns: em um fétido porão de mais um navio negreiro cruzando o oceano, havia entre os futuros escravos que desembarcariam no Brasil, um rei africano. Monarca em sua terra, trabalhou em todas as parcas horas livres para comprar sua carta de alforria e se livrar do cativeiro. Não parou de trabalhar até libertar seu filho e o restante da tribo. Chico-Rei agora era também católico, devoto de Nossa Senhora do Rosário. Volta a imperar em nova terra, distante do velho… CONTINUA

Cinema de reinvenção

“O oposto de coragem, curiosamente, não é o medo, é a covardia. Porque, ainda com medo, a gente anda. Medo é necessário, é atenção. É possível ter medo e coragem morando lado a lado, dentro da gente. Agora, covardia não. Covardia paralisa. Covardia anula. ‘O que o cinema quer da gente é coragem.’, seja coragem para fortalecer o que tiver de ser fortalecido; seja coragem para romper com o que tiver de ser rompido; seja coragem para revirar, virar e, de novo, revirar tudo. mas:… CONTINUA

Isto não é um filme político

1. Política como colheita Nem à frente, nem soterrado pelos cataventos do tempo. A Mostra de Tiradentes não poderia ter um timing mais preciso ao abrir sua programação na praça da cidade. Empate é uma espécie de transmutação fílmica das já históricas últimas palavras libertas de Luiz Inácio: “eles” não podem prender Lula, por que suas ideias estão por aí, semeadas / “eles” podem até matar Chico Mendes, mas não destruir o legado que plantou. O filme de Sérgio de Carvalho (e adicionaria Beth Formaggini)… CONTINUA

“E vocês aí sentados, olhando, por que não gritam?”

Abertura da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Uma banda militar toca na área interna da Cine-Tenda. As pessoas entreolham-se, estranhando a presença daquele som, que tanto ama a força (principalmente, o uso dela sobre todxs xs corpos que não seguem a normatividade que, essa mesma força, impõe). As portas abrem, rapidamente, a sala encontra-se lotada. As luzes apagam-se e começa a exibição de um vídeo: “Ato 1…”, iniciando a performance audiovisual que aborda o tema central deste ano, “Corpos Adiante”. Surge um corpo, no… CONTINUA