“Os bárbaros invadiram os castelos” – Entrevista com Valter Filé – Parte dois

Continuando a entrevista com Valter Filé, aqui Bernardo Oliveira puxa assuntos relacionados ao trabalho fundamental de Filé com a memória do samba carioca, especialmente no projeto Puxando Conversa. Além disso, o papo trafega por sua relação com a universidade e por sua relação com o Eduardo Coutinho, ressaltando como o trabalho com Coutinho foi crucial para as práticas e reflexões de Valter Filé. (Juliano Gomes) * Bernardo Oliveira: Gostaria que você falasse sobre o Puxando Conversa, a partir da complexidade do registro. Registrar não é somente… CONTINUA

“Revitalizar a coletividade interrompida” – Entrevista com Valter Filé – Parte um

Em julho de 2020, Bernardo Oliveira conversou remotamente com Valter Filé, principalmente sobre sua experiência transgressora em TVs comunitárias como a TV Maxambomba e a TV Pinel. A experiência de Filé aqui descrita, entre ótimos causos e reflexões agudas, afirma um interesse da Cinética em explorar cada vez mais a fundo as zonas limítrofes das relações entre imagem e comunidade, entre pedagogia e cinema, entre ética e realização, e assim por diante. Esta é a primeira parte da conversa, que narra os primórdios de seu… CONTINUA

Valter Filé e a ficção da imagem popular

A experiência do vídeo e da TV popular no Brasil está diretamente associada ao processo de redemocratização que culmina com a Constituição de 88. Um grande fluxo de aporte financeiro internacional, através de agências e instituições como Oxfam Novib e CAFOD (Catholic International Development Charity), acorreu ao país durante este período, visando implementar uma plataforma de iniciativas voltadas para a reconstrução dos Direitos Humanos e do debate público no país. Surgem experiências de TV comunitária como a TV Viva, em Olinda, a Associação Brasileira de… CONTINUA

Pós-escrito (ou por um cinema preto que não caiba)

Estas observações aqui abaixo continuam um diálogo que se deu nesta sequência de cartas pensando desafios do cinema negro hoje. As questões principais são: que comunidade negra de cinema se quer? Que forma ela tem? Que ideias a compõem? Nesta próxima década veremos inevitavelmente uma segmentação – é assim que mercados funcionam. Não só de mercado, mas de ideias. Coco Fusco falou outro dia: “não precisamos de arte nova, mas de instituições novas”. É claro que filme novo é sempre bom, porém a forma de uma… CONTINUA

Carta a Bruno Galindo (ou o bagulho é a prática)

Fala, Bruno. (Só pra relembrar a quem esteja entrando na conversa agora, que este texto continua uma troca que se inicia com o texto de Heitor Augusto , que teve uma resposta que escrevi aqui em 2018, e Bruno entrou na roda no mesmo ano.) Apesar dos dois anos de atraso, fiquei entusiasmado com o fato de tu responder ao que escrevi lá atrás. Então: sinto que nessa década que termina se constituiu uma rede razoavelmente densa junto às ideias que pairam sob as palavras “cinema negro”. Para além do… CONTINUA

“Uma trepada com o cinema” – Encontro com Carlos Adriano

O cinema de Carlos Adriano sempre insistiu num caminho inteiramente apartado das correntes principais da história do cinema brasileiro. Em sua insistente poética dos arquivos, Adriano cavou uma estrada solitária, que lhe rendeu homenagens e admiradores ao redor do mundo, mas permanece ainda muito desconhecido em seu país. A série de filmes Sem Título, realizada a partir de 2014 e que já conta com seis trabalhos, é um marco do cinema de invenção brasileiro da última década. Por ocasião da série #RevisõesAnos10, decidimos retornar a… CONTINUA

Uma educação pela fenda e depois

Em 16 de março de 2020, ainda no início das medidas de isolamento em decorrência da pandemia no Brasil, um episódio aparentemente fortuito capturava a atenção do país: um brasileiro de origem haitiana – do qual ainda não sabemos sequer o nome – se infiltra entre uma pequena multidão bolsonarista para se dirigir ao presidente e sentenciar: “Bolsonaro, seu governo acabou”. A frase ressoaria nacionalmente, mas também a cena que a viu nascer: esse homem negro, rodeado por uma aglomeração branca que repete “mito, mito,… CONTINUA

Variações a partir de um autorretrato da crítica brasileira

Uma lista do tipo “melhores filmes” é sempre um equilíbrio instável entre o diletantismo cinéfilo e algo mais ambicioso, que diz respeito à constituição de um cânone artístico. Mais ou menos espontânea, independente do método com o qual seja construída, uma lista é sempre uma intervenção no presente, em direção simultânea ao passado e ao futuro. Traça um recorte do passado artístico permeado por visibilidades e ausências, inevitavelmente atravessado por relações de poder e pela construção histórica do gosto, ao mesmo tempo em que vislumbra… CONTINUA

Refundar esta terra

Luz nos Trópicos é feito de imagens das mais variadas feições, escalas, texturas e tons. Um motivo visual, no entanto, salta aos olhos por sua recorrência. Um rio estreito e curvo, cercado de mato e encimado pelo céu espelhado na água, é adentrado por uma câmera serpenteante e calma, cuja marcha adiante encampa um movimento de descoberta. Seu oposto simétrico também retorna uma e outra vez: um rio turvo é percorrido por um barco que recua rapidamente, deixando para trás a água tumultuosa e a… CONTINUA

Masculinidades montadas em couro: fantasia e desejo no cinema de Daniel Nolasco

Uma das propostas mais instigantes do festival Olhar de Cinema de Curitiba é o eixo curatorial de sua Mostra Foco. Guiada pelo anseio de difundir no Brasil a filmografia de jovens diretores ainda pouco conhecidos por aqui, esta “retrospectiva precoce” já celebrou cineastas como Nathan Silver, Camila José Donoso e Matías Piñeiro. Em 2020, pela primeira vez, o festival optou por colocar seus holofotes em um cineasta brasileiro. O escolhido foi Daniel Nolasco que, em uma década de carreira, já construiu uma prolífica filmografia que… CONTINUA