Dar a ver: entrevista com Adriano Aprà

Adriano Aprà é uma figura polivalente, que atua desde o final da década de 1950 em diversas das esferas cinematográficas. Foi um dos mais renomados críticos italianos da geração posterior à neorrealista, sendo um dos nomes mais participativos das transformações que ocorreram no cinema de seu país na segunda metade do século XX; teve uma atuação acadêmica exemplar e foi editor de uma quantidade ímpar de coletâneas e publicações refletindo sobre a arte cinematográfica; foi curador do Festival de Pesaro por dez anos, onde consagrou… CONTINUA

As mãos do prisioneiro

É preciso aguardar até às últimas imagens de Os Bons Tempos Chegarão em Breve, de Alessandro Comodin, para se deparar com a evidência concreta de sua declarada homenagem à iconografia bressoniana: a mão do prisioneiro que segura na grade de sua cela. A influência anunciava-se de forma subreptícia aqui e acolá, mas com esta imagem final o mesmo gesto dotado de expressividade metafísica em O Batedor de Carteiras (1959) passa a ser uma menção mais frontal e evidente, um diálogo com uma determinada tradição cinematográfica… CONTINUA

Meu coração está perdido em sete bocados

“Os anjos, pelo som da voz, conhecem o amor de um homem; pela articulação do som, sua sabedoria; e pelo sentido de suas palavras, a sua ciência”. A frase de Emanuel Swedenborg recitada sobre a tela preta é o preâmbulo que abre Correspondências, um mote que serve de alicerce às experimentações de Rita Azevedo Gomes. Inspirado nas cartas trocadas entre dois poetas, Sophia de Mello e Jorge de Senna, entre 1957 e 1978, durante o exílio dele do regime salazarista, o longa-metragem tem como dispositivo… CONTINUA

Mais vale um pássaro a voar que dois pés no chão

Quando Lancelot (Luc Simon) decide participar de um torneio de batalhas, o faz secretamente. Surge um cavaleiro capaz de derrotar a todos. Mas a decupagem de Robert Bresson não enfatiza o personalismo do herói: não vemos seu rosto, seu corpo está coberto por uma armadura, não há bandeiras que o identifiquem, a plateia não tem convicção de sua identidade. A trama revelou o seu paradeiro, mas temos dificuldades para saber se é ele. Não é que Bresson construa um mistério em torno do sujeito mais… CONTINUA