Imagens contra a rua

Existem imagens que gritam. Existem outras, não menos fortes, estridentes, ou inquietantes que conotam silêncio, introspecção. Presentes numa mesma sessão, os curtas Nunca é Noite no Mapa (2016) e Na Missão, com Kadu (2016) possuem um precioso ponto em comum: em ambos a câmera em punho transforma-se num gesto de resistência possível. Mais do que isso: são filmes alinhados a movimentos sociais por reivindicações de moradia e resistência contra a gentrificação, como o Estelita, em Recife, e o Izidora, em Belo Horizonte. É pela câmera,… CONTINUA

A imagem interrompida e seu luto

Com um dispositivo bastante simples, Ignacio Agüero encontra a forma fílmica desses dois documentários. Vê-se um set de filmagem de um cineasta chileno. Ouve-se “corta”, desmonta-se o set e prepara-se, pragmaticamente, para a próxima sequência. Booms, câmera, conjuntos de três tabelas, sacos de areia e outros artefatos comuns aos sets; tudo desmonta-se, rearranja-se. Nesse exato instante, Ignacio surge no quadro, chama o diretor e faz uma pergunta bastante direta: “o que é o cinematográfico nesse teu filme?”. As respostas e as sentenças são as mais… CONTINUA

Onde jaz a brisa?

A sessão de exibição de Antes do Fim, de Cristiano Burlan, frisava logo nos seus créditos ,que se tratava de um work in progress; ou seja, um “corte” inicial, ainda em finalização, em desalinho – seja no delinear um tanto incerto entre cenas, ou em detalhes técnicos e questões sensíveis que o filme já levanta e pode vir a aprimorar. A primeira pergunta que se faz diante desse contexto é mais de uma metacrítica: seria válido traçar uma aproximação de um ensaio e de um… CONTINUA

Como ocupar uma abstração?

Filmes e documentários de, sobre e com ocupações são motes recorrentes no cinema brasileiro contemporâneo. Desde À Margem do Concreto (2006), de Evaldo Mocarzel, até obras mais atuais, como o curta O Teto sobre Nós (2015), de Bruno Carboni, costuma-se acompanhar o dia-a- dia e as motivações dos movimentos sociais que reivindicam moradia nas metrópoles derruídas pela especulação imobiliária. São filmes que revelam às câmeras um lado oculto, obscuro, desconhecido e alinham-se diretamente a uma causa, um tanto ideal, um tanto pragmática, ou mesmo emergencial,… CONTINUA

Câmera pétrea: cinzas do olhar

No início não havia verbo. Mas haveria um início? Num prenúncio imaginário murmura-se um cosmos, uma frase, um filme. Solon começa com raios de luz que atravessam o negro da tela, numa visão abstrata, veloz, que escapa e ilumina. A imagem, ao menos nesse primeiro embalo, não pretende tornar-se visível, mas ferir a câmera. E fere, de forma apenas luminosa, imbuída da mágica das suas partículas. Com notáveis granulações e o seu reluzir em 16mm, o filme situa-se diante das rochas, seus resíduos, sua cadência… CONTINUA

As esquivas com Histórias outras

.49º Festival de Brasília. Rosa (Yoná Magalhães) e Manoel (Geraldo Del Rey) correm. Eles estão de mãos dadas; numa paisagem sertaneja, áspera, inóspita, quando ambos os personagens, logo na sequência escolhida como a abertura de Cinema Novo, de Eryk Rocha, alcançam o clímax do célebre filme de 1964, de Glauber Rocha. A cena acontece, mas, calma, eles ainda não alcançaram o mar. Apenas fogem, já ao som de Villa-Lobos, escapam e precisam, urgentemente, sair dali, sair de si; e, em meio ao fôlego da fuga,… CONTINUA