“O silêncio cresce como um câncer”

Um senhor já idoso vive num pequeno vestiário travestido de barracão. Ali passa um barulhento trem, mas nem o alto ruído diário, nem a modéstia da casa o fazem voltar a morar com sua antiga família que em vão tenta abrigá-lo. O terreno é sítio de um campinho de futebol amador, paixão desse senhor já idoso. Enquanto, na substituição de um goleiro, vai imperceptivelmente ganhando um novo filho, sua rotina tem seus dias contados: a empresa dona do terreno cansou de “apoiar” o esporte e… CONTINUA

“Eu sou a lei, foda-se a lei”

De um lado, Corpo Delito lida com um dos temas mais urgentes do país – o sistema penitenciário brasileiro e sua burocracia burra e sufocante; de outro, toca de forma aguda num dos grandes dramas da condição humana – a restrição, neste caso, parcial, do livre-arbítrio. Ivan Silva foi preso. Depois de anos de cadeia e, supostamente, bom comportamento, ganhou o direito à liberdade condicional: trabalha na fábrica-escola e volta para casa de tornozeleira. Em sua rotina, não deve desviar desse trajeto. No primeiro diálogo… CONTINUA

“E uma pequena vos guiará”

Alguns alunos se metem a fazer um filme para um trabalho de escola. A filha pede a câmera ao pai, ele diz que não – “é um equipamento caro” –, ela faz birra. Sem jantar com o resto da família e sem a mãe conseguir convencê-la, o pai vai até o quarto e cede, empresta a câmera. Nunca veremos esse filme – apesar de, ao fim, sabermos que é genial – mas temos algumas pistas: ela vai ao encontro da diretora da escola, da faxineira,… CONTINUA

“Não adianta subir Bahia sem descer Floresta”

Subybaya abre, em sua primeira cartela, com o questionamento: “O que é ser uma mulher?”. Virginia Woolf, autora da citação, diz não saber. Este escriba está longe de saber e também tem dúvidas, assim como Woolf, se qualquer pessoa responderia tal questão com unanimidade satisfatória. Além do mais, não sei se realmente precisamos “saber”, visto que este saber aí está relacionado a uma compreensão catalogadora do termo. Há a concepção mais firme de Simone de Beauvoir de que “mulher” é uma construção – em geral… CONTINUA

“Na mão de favelado, é mó guela”

Baronesa, de Juliana Antunes, é um filme sem profundidade de campo. O que há para acontecer acontece, aqui, logo à nossa frente, com a cor barrenta do tijolo tampando o fundo, o mundo. O que interessa são estas duas personagens cativantes, Leidiane e Andreia, e como elas se relacionam com seus filhos, com Negão, com a comunidade. Perpassaremos quase o filme inteiro escutando suas conversas sobre banalidades, às vezes barra-pesada, mas invariavelmente coisas do dia a dia. É a palavra que abre as portas para… CONTINUA