Os corpos possuídos

Ao contrário do que aconteceu com os três primeiros filmes que fizeram parte da cobertura de Cannes esse ano, onde os diálogos entre as obras pareciam propor caminhos muito claros, inclusive por serem parte da seleção de uma mesma mostra (a competição principal), os três filmes desse texto são bastante diferentes em quase tudo – até porque vêm de três mostras distintas: competição, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica. No entanto, um aspecto que os atravessa de maneira transversal é a maneira como a… CONTINUA

Às armas, cidadãos

Não tenho lembrança da competição em Cannes começar com três filmes em diálogo tão claro e direto, entre si e com o mundo à sua volta. Vindos dos EUA, da França e do Brasil, os filmes de Jim Jarmusch, Ladj Ly e Kleber Mendonça Filho/Juliano Dornelles conversam não apenas pela chave mais fácil da incorporação dos códigos de distintos cinemas de gênero (filme de zumbi, filme policial, filme de ficção científica/ação/gore) mas principalmente pela forma como, ao propor um olhar absolutamente grudado no presente sócio-político… CONTINUA

O Cassavetes performático e fantasmático: A via-crucis pática em “A Morte de um Bookmaker Chinês”, “Noite de Estreia” e “Amantes”

“Se a mimeses só representa em imagem o que viu, a phantasia também o que não viu” Flavius Filóstrato, Vida de Apollonius de Tyane “Que fórmula encontrar para dizer ou pensar que o falso é real?” Platão, O Sofista “Se a sujeira desempenha um papel positivo sob certas condições, é porque a ausência de forma possui um poder criador. A sujeira, a loucura, a morte – em suma: tudo o que é, em relação a um sistema, o negativo e o outro, deve ser de… CONTINUA

Cinética Podcast #5 – “Nós”, de Jordan Peele

No quinto episódio do Cinética Podcast, a conversa é sobre Nós, mais novo trabalho do diretor Jordan Peele. Depois do grande sucesso de Corra!, que deu o Oscar de roteiro original para o cineasta em 2018, Peele volta com um filme enigmático e instigante, que é analisado no programa por Marcelo Miranda, Raul Arthuso e Juliano Gomes. Este episódio é dedicado a Beth Carvalho. CINÉTICA NAS REDES Para ler, curtir, enviar perguntas, tirar dúvidas, fazer críticas e sugestões: Site oficial – www.revistacinetica.com.br e-mail – *protected email* Facebook – www.facebook.com/revistacinetica/ Twitter – twitter.com/revistacinetica… CONTINUA

11 estrofes sobre Nós

1 “Nós” é, hoje, umas das palavras mais difíceis de se dizer. Ao passo que a cisão que funda o que se acostumou a chamar de “mundo” se torna mais e mais evidente, traçar uma “primeira pessoa” se torna uma ação cuja violência se torna quase insuportável. Nós quem? Nós como? O nó que repousa sobre essa idéia é o da consciência das radicais desigualdades que fundam coletividades (como a ideia de nação, por exemplo). O espaço aberto pela nitidez dessa fratura abriga uma torrente… CONTINUA

Jardim dos detritos

Considerado por trinta anos como um filme perdido, O Jardim das Espumas voltou à circulação no Brasil com a descoberta de uma cópia na França, em 2014. Marco do que se convencionou chamar de Cinema Marginal, trata-se ainda de um filme muito mais conhecido do que propriamente visto. O descobrimento de uma cópia tida como desaparecida não apenas tem permitido que outra geração tenha acesso a este trabalho de Luiz Rosemberg Filho, mas atribui ao filme a condição de uma ação diferida. O atraso com que… CONTINUA

A Chance de Um Milhão de Dólares

Erasmo Carlos sempre foi uma espécie de “patinho feio” na história da música brasileira. Noves fora sua imagem de sujeito bonachão, coautor das canções que Roberto Carlos imortalizou, a narrativa consagrada de Erasmo é a de uma espécie de Pete Best ao contrário: o que permaneceu no lugar certo na hora certa, mas que nunca conseguiu devolver em sua própria carreira a complexidade que o amigo de fé, irmão camarada, esbanjou até se tornar uma caricatura. Em meados dos anos 1970, para um desavisado, Erasmo… CONTINUA

Cinética Podcast #4 – “A Mula” e “Imagem e Palavra”

O quarto episódio do Cinética Podcast reúne Marcelo Miranda, Raul Arthuso e Pedro Henrique Ferreira numa sessão dupla de dois grandes realizadores. Não há relações diretas eles, a não ser que nasceram ambos em 1930 e tiveram seus novos trabalhos lançados no circuito brasileiro no começo de 2019. Um é Clint Eastwood e A Mula, seu 38º longa-metragem. O outro é Jean-Luc Godard e Imagem e Palavra, o 44º longa do cineasta. Os dois títulos mobilizaram a redação da revista nas últimas semanas, então não… CONTINUA

As culpas dos velhos e os erros dos novos

As inflexões mais cômicas de A Mula fazem-se evidentes nos momentos em que seu tema principal salta à vista: o descompasso entre as imagens preconcebidas que fazemos de alguém ou de algo, com os devidos papéis e lugares que estas devem ocupar no mundo, e sua materialidade ou existência objetiva que frequentemente as desloca. Um exemplo ilustrativo – o agente Colin Bates (Bradley Cooper) sabe que o traficante que procura na estrada dirige uma pick-up preta; ele passa por diversos carros como este, observando e… CONTINUA

A primeira pancada

Tamanha a estupefação diante da superficial profundidade do riso causado por Eugène Green neste curto – curto como um golpe – Como Fernando Pessoa Salvou Portugal, somente uma lenda pode introduzi-los, o filme, a gargalhada, a travessura custosa que é a poesia. Lembramos bem (grande parte de nós?) do monólito escuro de Stanley Kubrick à aurora da humanidade, do fantasmático ressoar de ‘Rosebud’ pelos corredores do império morto do magnata Charles Kane, da diabólica orquestração em agudos de pássaros assaltando uma cabine telefônica com uma… CONTINUA