O deboche contido de uma alma piedosa

Eu, Empresa (2021) é o filme do fracasso da autogestão. Inscrito no universo autocentrado criado por Curvelo a partir da figura de Joder, seu personagem que encarna a figura do derrotado, o filme realiza a fusão da persona com seu criador. Como se víssemos o backstage da produção de Joder, somos apresentados a um Marcus debilitado em relação à vida. O filme tem como horizonte a construção cínica da falência múltipla da vida do protagonista-diretor, mas esta recrudesce, contida, ao não se devotar completamente ao… CONTINUA

Dançar pelas imagens

A narrativa de Noite (Paula Gaitán, 2015) inicia-se com interações disformes de texturas sonoras em agitação enquanto a imagem permanece em silêncio. Fragmentos de uma cena do filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), se aglomeram na intensa levada da bateria e dos beats eletrônicos, compondo planos e sons que parecem só se (des)encaixar dentro do universo do filme. Corpos vibrantes expandem e retraem-se sob luzes neon em boates da cidade grande, em uma noite que é infinita ao mesmo tempo que é… CONTINUA

— Canta pra mim?

Distopia não é a palavra, é tudo perto demais. O mundo já acabou algumas vezes. E renovadas formas de se chegar ao fim se delineiam a cada aurora. A ruína vem sendo escrita, filmada e recontada com distintas fisionomias. Tantas imagens e sonoridades foram concebidas para ensaiar uma faísca que guardasse uma parte desta terra sofrendo o interminável processo de arrasamento e restauro. A matéria trabalhada na mais recente manifestação de Glenda Nicácio e Ary Rosa é o futuro próximo de um Brasil desmoronado. Voltei!… CONTINUA

Mostra Foco #2: Projetar sonhos, cair em truques

Nessa sessão, personagens são uma coisa, mas também outra; individualidades que trazem outros tempos para dentro do tempo da narração, em que o sonho atravessa o realismo em um cruzamento tênue, onde a mão da montagem exerce a narratividade como evidência da construção de mundos. O segundo conjunto de curta metragens da mostra Foco tem Ratoeira (Carlos Adelino, 2020), De Costas pro Rio (Felipe Aufiero, 2020), Eu te Amo Bressan (Gabriel Borges, 2020) e 4 Bilhões de Infinitos (Marco Antonio Pereira, 2020). No cotejo com… CONTINUA

O tempo em volta

Os créditos finais de O Cerco (Aurélio Aragão, Gustavo Bragança, Rafael Spínola, 2020) terminam com uma legenda informando o local e o período de realização do filme: “Rio de Janeiro, 2013 – 2020”. A escolha pouco usual dos três diretores de declarar o período completo de quase uma década entre a concepção e a finalização expressa um certo desejo de vincular a obra e o tempo. Adotando um método de escrita de roteiro e encenação procedural, que era conduzido em grande medida pelo trabalho de… CONTINUA