Mulheres do Brasil, de Malu de Martino
(Brasil, 2006)
por Eduardo Valente

Mesmas mulheres

Mulheres do Brasil
utiliza na sua premissa narrativa a mesma lógica do Retrato Falado, que Denise Fraga encenava no Fantástico todo domingo: a partir de relatos de “mulheres de verdade”, a encenação ficcional de alguns de seus dramas. No entanto, se com todas as suas limitações Retrato Falado tinha a virtude de apostar na individualidade dos relatos (às vezes nada comuns), Mulheres do Brasil é um exemplar sociologizante do quadro da TV: o que se encena aqui não é a narrativa de uma vida particular, mas sim uma ficção que una o que há de comum entre os vários relatos documentais que surgem na tela, como que para “comentar” a ficção.

O resultado não poderia ser outro: da supressão da experiência individual pela experiência comum, o que sobra é o lugar comum, o clichê, o denominador mínimo da semelhança sociológica. Mulheres do Brasil assume então o artigo definido que está ausente no seu título: é a história d`As mulheres do Brasil, e não de mulheres do Brasil. Poderia sobrar como interesse o passeio pelas paisagens de um Brasil tão grande, o que permitiria pelo menos um olhar sobre suas diferentes mulheres. Doce ilusão: as mulheres do Brasil são aquelas mesmas que já conhecemos – a moradora da favela do Rio de Janeiro, a filha de família tradicional baiana, a mãe de família urbana paulistana... Nos dois episódios que apresentam mulheres menos conhecidas, um também explora a paisagem local de forma bastante batida (as praias de Alagoas), e só mesmo o episódio curitibano nos apresenta um sotaque ou uma experiência menos comum – sendo de longo o mais interessante, ainda que não realize de todo suas possibilidades narrativas bastante instigantes.

No meio dos péssimos episódios que abrem e fecham o filme (Bahia e São Paulo – nada mais que clichês dos clichês) e do quase institucionalismo didático do alagoano, o que nos resta a apreciar aqui são mesmo respiros eventuais no episódio carioca (que consegue alguns momentos de força na atuação dos atores) e o subaproveitado universo da classe trabalhadora curitibana do Paraná, que ameaça alçar vôo numa mistura de fantasia e realidade, mas que a partir do momento que incorpora na narrativa o esquema dos “depoimentos reais”, perde boa parte do seu encanto inicial. Fica na boca, ao fim e ao cabo, a sensação de um piloto de série para a GNT que talvez fizesse algum sentido explorando mais paisagens e personagens, mas que aqui pouco consegue escapar das armadilhas de suas próprias premissas nada criativas.


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