in loco - cobertura dos festivais

Esboços por Frank Gehry (Sketches of Frank Gehry),
de Sydney Pollack (EUA, 2005)
por Paulo Santos Lima

Esboços de caretice

Mesmo que seja um veterano, Esboços por Frank Gehry tem algo de um primeiro filme para Sydney Pollack – o primeiro em sua filmografia no qual ele utiliza uma câmera digitalo. Cineasta boa praça, ainda que apenas medianamente talentoso, Pollack vai até um artista que muito admira, o arquiteto Frank Gehry, para celebrar seu gênio artístico. Está claro, com a segunda câmera que nos dá imagens do próprio diretor filmando seu documentário, que é um filme-espelho, ou seja, uma obra que diz mais sobre seu realizador, que, vez e outra aqui, também comenta sua experiência como “artista”, além da admiração pelo projetista.

Mas, apesar da obra assombrosamente moderna de Gehry, o documentário transita na caretice, alternando imagens ilustrativas das construções do arquiteto com os depoimentos. Quase todos, chapa-branca, com exceção de um crítico de arte que aponta certos problemas morais no museu Bilbao, jamais levados à frente. De resto, temos o analista que rascunha explicações sobre sua personalidade, Dennis Hopper e Julian Schnabel representando a casta de artistas de Nova York que pululam pelas galerias de arte e dissertam sobre artes plásticas, ópera e literatura – ou seja, se vêem como os novos Andy Warhol, Jackson Pollock e Basquiat.

Essa babação que não problematiza a obra do biografado me parece um problema, claro, mas é, antes de tudo, uma opção. O problema do filme fica mais embaixo: a experiência com a arquitetura é complexa, estabelecendo-se primeiramente de forma puramente artística (quando nos deparamos com a construção em si, fora dela e assistindo a ela) e depois entre a arte e a funcionalidade (quando estamos dentro dela, passeando por ela). Sydney Pollack não consegue levar suas duas câmeras para uma experiência, não consegue nem mesmo se apropriar dos prédios e casas de Gehry e torná-los espaços e objetos cinematográficos (como fazia um John Ford). A câmera não consegue estabelecer uma presença, olhando o material como um turista de excursão: admirado, mas um tanto apressado. Um olhar de encantamento, mais ilustrando e fazendo jogral com o falatório. Pollack não é Herzog, e a chapa branca desse simpático filme responde mais a ele próprio, a uma quase legitimação como artista high art. Não à toa o filme, no original, chama-se Sketches of Frank Gehry, numa referência ao disco Sketches of Spain, de Miles Davis, gênio do jazz cultuado pela alta roda intelectual. 


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