Quando setembro chegar (mesmo que com atraso)
por Cléber Eduardo, Eduardo Valente e Leonardo Mecchi

O mundo das imagens e seus arredores tornam-se, ciclicamente, de uma intensidade quase asfixiante para nós. Somos mobilizados e estimulados por tantas atividades diferentes que a intensidade na dedicação atropela nosso ritmo de atualizações em Cinética. É a contingência de se fazer uma revista virtual como fazemos, com respeito pela disponibilidade de nossos editores, redatores e colaboradores, sem perder de vista, também, a necessidade de alguns textos serem maturados, de modo a não perderem força por conta da pressa. O atraso de nossa atualização deveu-se, portanto, à soma entre essas duas circunstâncias: o atropelo de nossas vidas em atividades paralelas e complementares à revista e uma oportunidade com isso de se pensar com um pouco mais de tempo algumas questões da imagem e do cinema.

As atividades paralelas do mês de setembro foram concentradas na exibição. É o caso da estréia de sessão mensal de Cinética no Instituto Moreira Salles, que estreou com as sessões de Ninotchka, de Ernest Lubitsch, e Ondas do Destino, de Lars Von Trier, que marca mais um passo de membros da revista na programação de filmes, no caso capitaneada por Rodrigo de Oliveira, Fabio Andrade e Leonardo Sette. Não custa lembrar e assumirmos que isso implica aumento de responsabilidades: não basta analisar, é preciso propor. Como propositiva também é a Semana dos Realizadores, iniciativa do editor Eduardo Valente, ao lado de amigos e parceiros de cinema, como são Kleber Mendonça Filho, Helvécio Marins Jr, Lis Kogan, Gustavo Spolidoro, Felipe Bragança e Marina Meliande. A Semana dos Realizadores abre espaço para longas e curtas-metragens de diferentes proposições estéticas, calcados em universos humanos e sociais distintos, mas aproximados pelo interesse dos organizadores de ver esses filmes em destaque e em exibição, seja porque os legitimam cinematograficamente, seja porque legitimam a oportunidade de colocá-los à vista. Avaliação artística e política de circulação dão as mãos.

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No espaço exclusivo da revista, após realizarmos uma reunião de editores e redatores em São Paulo, mudanças internas foram decididas. Elas podem não dizer respeito aos leitores, porque são da ordem dos bastidores e da organização da redação, mas, certamente, os efeitos dessas decisões serão sentidas em nossas páginas. Ou pelo menos assim esperamos. Enquanto estes acertos de rumo vão se firmando, foi o momento de voltarmos os olhos para uma seqüência de filmes em cartaz que nos mobilizaram quase totalmente. Daí porque, além de termos novos textos a partir de Moscou, de Eduardo Coutinho, que continua sendo uma questão para nossos redatores e colaboradores, ganha duas outras visões, complementares à crítica já disponibilizada, Aquele Querido Mês de Agosto, do português Miguel Gomes, que está em nossas preferências quase unânimes. Também voltamos a A Erva do Rato, de Julio Bressane e afirmamos uma avaliação superlativa sobre uma grande obra, Amantes, e sobre seu cineasta, James Gray, que para alguns de nós é dos autores americanos mais fortes na atualidade. Se essa atualização é forte, portanto, na observação do contemporâneo, não abre mão de imagens mais antigas, presentificadas em alguns artigos a partir da Jornada do Cinema Silencioso, em São Paulo, que, em sua terceira edição, confirma nosso julgamento anterior de ser já um dos principais eventos regulares de cinema no país. Louis Lumière e Thomaz Reis são os destaques de nossa cobertura.

Não poderíamos deixar de mencionar ainda, em termos de mobilização, o Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Parte da redação, mas em especial os editores Eduardo Valente e Cléber Eduardo acima assinados, acompanhou, com especial atenção, os curtas brasileiros da safra em andamento (o primeiro somente como crítico; o segundo como critico e realizador com filme na programação). No entanto, tomados por todas as questões acima citadas, e muitas outras de ordem pessoal ou de outros compromissos, não houve ainda tempo e oportunidade de formular estas observações em texto. Fica, porém, o compromisso: já está em pauta na redação da revista dedicar-se com especial atenção, nas próximas atualizações, a vários dos curtas que, vistos nessa e em outras circunstâncias, têm motivado bastante nossos olhares, e até por isso logo motivarão nossas escritas.

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Não se pode fechar este editorial sem dizer, porém, que, como sempre acontece neste período do ano, as próximas semanas serão principalmente dedicadas às coberturas do Festival do Rio e da Mostra de São Paulo. Mais do que apenas render-se a um ditame dos dois eventos, trata-se de ser verdadeiro com a dinâmica vivida internamente pela redação. Pois, mesmo com a ressalva assegurada a todos os problemas que podemos encontrar nos eventos, e que já apontamos aqui em textos e editoriais de anos anteriores (principalmente suas opções por um gigantismo muitas vezes desprovido de olhar de cinema mais agudo e marcado sempre por ausências que não nos permitem jamais considerar que ali se esgota o cinema contemporâneo que importa), este é inegavelmente o momento do ano em que se dão a ver por nós nas telas de cinema uma série de filmes que nos mobilizam tanto neste período, como nos meses que virão (não custa lembrar, fazendo a ponte com nossa mais recente atualização, que foi ali que vimos Aquele Querido Mês de Agosto e A Erva do Rato pela primeira vez, por exemplo). Não fazer jus a isso, portanto, seria colocar a política acima dos filmes, e dos interesses dos redatores mais do que tudo. E assim, quem perderia seria o nosso olhar do cinema – que deve sempre vencer, numa revista como a nossa.

Leia também nossos editoriais anteriores.

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