No meio do caminho tinha uma tropa por
Cléber Eduardo e Eduardo Valente Setembro
é o mês do Festival do Rio, certo? Bom, se certamente o Festival estará no centro
das nossas (e suas, caro leitor) atenções, inegavelmente ele foi atropelado por
um fenômeno audiovisual ainda desconhecido no Brasil – e que levaremos uns bons
meses (anos?) para entender completamente. Claro que nos
referimos à explosão das cópias piratas de Tropa de Elite, que começaram
a surgir em DVDs no Centro do Rio, e logo foram parar na internet - talvez o primeiro
grande caso de “vazamento” de um filme nacional de grande público antes do seu
lançamento. O fenômeno, porém, logo tomou outras proporções revelando, ao mesmo
tempo, alguns limites e tantas outras potencialidades do audiovisual brasileiro. Potencialidades
porque vimos ali um fato inédito em algum tempo: entre os camelôs do Saara carioca,
todos os blockbusters do verão americano ficaram esquecidos por algumas
semanas, abandonados na grade cheia de capas, ao fundo da “cena”. Nas mãos e nos
gritos dos camelôs, só havia mesmo espaço para Tropa de Elite, que logo
se tornou o filme brasileiro mais visto deste e de muitos anos – isso sem nem
ter sido lançado ainda!! Por um mês, um filme nacional se tornava demanda
absoluta (e praticamente espontânea) do público espectador. No
entanto, também vimos os nossos limites jogados na nossa cara. Primeiro, a dificuldade
de lidar com a questão realisticamente: com a compreensão de que, se a pirataria
certamente é um fenômeno marginal, esta marginalidade apenas é representativa
do tamanho da exclusão do nosso público das telas, e do quanto não se tem ouvido
o que, afinal, interessa a este público. Porque o fato é que nem os responsáveis
pelo filme tinham idéia de que teriam um fenômeno tão grande em suas mãos, isso
é certo. Mas limitações também de uma proto-indústria, que
não consegue dar conta das demandas deste mesmo público, e que deixa na mão dos
nossos únicos verdadeiros “comerciantes de audiovisual” a possibilidade de não
só fazer um determinado filme chegar a seu público pelo preço que este pode pagar,
como ainda “produz” seqüências do filme ao detectar ali um nicho de mercado (quem
ainda não soube dos Tropas de Elite 2, 3, 4 – cada um deles
uma reedição de materiais previamente existentes dentro do “molde” de um sucesso). Para
além do fenômeno de produção e comercialização, há mais perguntas a serem feitas,
com muita calma: afinal, qual demanda explica esse verdadeiro “ataque” aos DVDs
de Tropa de Elite? Que imagens este filme despertou no imaginário do público
de forma a causar tamanha comoção? Como se dará seu lançamento nos cinemas? Quais
repercussões o filme terá – como produto, como assunto, como possibilidade de
aproximação? Ainda estamos muito no começo destas elocubrações, mas o fato é que
finalmente aconteceu o grande fenômeno do cinema nacional de 2007. E já não era
sem tempo.
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