1 ano de Cinética
por Cléber Eduardo e Eduardo Valente

O tempo voa: há exatamente um ano, em maio de 2006, nascia a Cinética. Como atesta nosso primeiro editorial, nascia um projeto de criar um espaço altamente dinâmico para a reflexão sobre o audiovisual, que conseguisse ser o mais plural possível em seus interesses, suas expressões e acima de tudo suas trocas (com o leitor, com os produtores de audiovisual). Nas próximas semanas, celebraremos o aniversário com algumas “atualizações especiais", que tanto irão adiante nas frentes em que a revista mais diretamente adentrou como apontarão novas linhas de discussão crítica.

Nos primeiros 12 meses, alguns caminhos se firmaram, em parte por projeto editorial, em parte pelo perfil variado de nossos editores e redatores, com suas diferentes práticas e formações na relação com o audiovisual. Os vários segmentos das imagens despertaram o interesse de nossa equipe, da crítica dos filmes em cartaz à telenovela, dos festivais de cinema ao You Tube, da Copa do Mundo em imagens às exposições de arte eletrônica/visual, do BBB ao mercado para o cinema brasileiro, das conversas com diretores à visita a espaços fomentadores da idéia de cinema, de núcleos de criação fora do eixo Rio-SP ao universo imagético de Paris – onde tivemos o privilégio de contar com três "correspondentes".

Esses interesses principais serão mantidos e ampliados, mas também redirecionados pelo curso natural das coisas. Finalmente conseguimos estrear, há 15 dias, a seção Emulando – prometida desde a criação da revista e só efetivada com a entrada de um novo redator. Nosso desafio tem sido o de preservar a pluralidade de olhares, de universos e de discursos sem perder de vista uma noção de linha editorial. Interessa-nos nessa construção editorial todos os aspectos da imagem no mundo contemporâneo, sem vetos a temas e universos – desde que, no enfoque, haja uma preocupação em demonstrar um pensamento sobre as imagens ou detectar esse pensamento por dentro das imagens, sem cairmos em julgamentos carentes de argumentações e sem fazermos o papel de eleitores de cânones.

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Note-se que, há um ano, a Cinética escolheu para ocupar o primeiro cabeçalho avermelhado de nossa página (espaço de destaque editorial para um tema que mais tenha interessado a redação a cada quinzena) uma foto de Brasília 18%, de Nelson Pereira dos Santos. Acolhido de maneira morna por vários críticos, quando não tratado com descaso pela maioria, o filme aqui foi analisado em textos de três redatores, cada um com sua própria argumentação e juizo. Nessa multiplicidade e na escolha do filme como destaque inicial sinalizávamos dois dos núcleos identitários da revista: o cinema brasileiro como um de nossos carros-chefes, por ser um problema "mais diretamente nosso"; e o estímulo à diferença de olhares.

Pois, no exato momento em que a revista celebra seu primeiro aniversário, os próprios editores, na lista de trabalho da redação, discordam sem meias palavras sobre Baixio das Bestas, de Claudio Assis, e Ó Pai, Ó, de Monique Gardenberg: controvérsia essa que já aparece na seção Em Cartaz, mas que logo voltará à baila em ensaios mais longos. Por outro lado, no cabeçalho surge um curta-metragem nacional que terá sua estréia mundial no Festival de Cannes (Um Ramo), e que é abordado na revista em entrevista com seus realizadores e em críticas deste curta e dos anteriores dos diretores (além de textos sobre os outros curtas nacionais em Cannes). Assim, esperamos sinalizar tanto uma atenção a um cinema nacional muitas vezes menos acolhido na mídia mais tradicional como ponto de reflexão (o curta-metragem), como destacar nossa cobertura diária de Cannes (agora com dois redatores), que assim como abriu a primeira edição da revista há um ano, ocupa nossa atenção nesta semana.

Do veterano Nelson Pereira aos jovens Marco Dutra e Juliana Rojas, o que nos guia é a mesma vontade de destacar, antes de tudo, aquilo que mais nos (co)move, sem se preocupar com a pauta da grande imprensa e esperando que, a partir do que escrevamos aqui, o trabalho destes possa também tocar os nossos leitores. E que continuemos, realizadores, críticos e leitores (e não somos todos muito parecidos?) continuar essa dança, esse movimento que é o que nos fez criar a Cinética.

Leia também nossos editoriais anteriores.


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