Olho no olho da massa
por Cléber Eduardo e Eduardo Valente

Abril tem sido um mês de extremos para nós da Cinética. Na virada do mês, a revista viu sua média de acessos mensais ser superada em um só dia, numa chuva de números que lembrava um daqueles temporais de verão após os quais os telejornais nos informam que choveu em um dia mais do que se previa para o mês todo. O motivo foi a conjunção entre dois fenômenos de mídia de massa: primeiro, o Big Brother Brasil (sobre o qual Eduardo Valente escreveu uma análise nestas páginas); em seguida, os grandes portais de informação da internet (no caso, o iG, que colocou na sua primeira página um link para este texto, a partir de uma citação a ele no blog de Ricardo Calil). O resultado, como mencionamos, foi uma chuva de acessos na Cinética como nunca havíamos tido antes.

Claro que a imensa maioria dos que ali acessaram a revista, nunca mais o farão (ou, pelo menos, até que algo semelhante por acaso aconteça). Mas nem por isso o fenômeno é algo a ser desprezado, afinal não queremos nem acreditamos em escrever apenas para uma meia dúzia de hiper-iniciados especialistas em audiovisual – e sabemos que a briga tem que ser enfrentada leitor a leitor. Portanto, se das 15 mil pessoas que entraram no site naquele único dia, 15 passaram a ser leitores (mesmo que eventuais) da revista, algo foi ganho naquele momento. E é assim que acreditamos que podemos e devemos nos relacionar com os fenômenos da expressão de massa: nunca os desprezando, mas também não nos sujeitando a seus modelos. Assim, um a um, é que queremos, quiçá, bandear para o “lado de cá” alguns que só têm o hábito ou a possibilidade mesmo (como bem nos lembrou uma carta recebida por conta desse artigo, que por si só já faria ele valer a pena) de ter acesso ao “lado de lá” da expressão artística audiovisual.

Num escopo completamente diferente, mas igualmente satisfatório para nós, participamos ativamente dos debates realizados no CineSesc durante o Festival de Melhores Filmes de 2006, com organização do mesmo grupo que entregou em março o Prêmio Jairo Ferreira (e que congrega nossa revista, Contracampo, Cinequanon, Paisà e Teorema). Esta série de debates foi uma maneira de mostrar que o grupo não se unirá tão somente para ocasiões festivas e premiações, mas também quer ampliar os espaços de discussão e reflexão sobre o cinema – tendo conseguido criar este novo “braço” da já tradicional mostra do Sesc. Lá, foram 30 pessoas em média por noite na platéia – mas era um grupo fortemente interessado, que acompanhou quase três horas diárias de discussão, onde às mesas formadas por três críticos juntaram-se outros tantos presentes na platéia. As conversas foram mais que proveitosas: com camaradagem, mas sem qualquer necessidade de “compactuação”, os críticos permitiram-se discordar em vários pontos, mostrando, sem medo e com respeito, suas diferentes aproximações com o cinema. As quatro noites certamente estreitaram os laços entre os participantes – fossem eles das redações ou do público ouvinte. E confirmaram o que o fenômeno de massa acima citado nunca nos negou: nosso melhor trabalho se dá olho no olho, pessoa a pessoa. E assim continuará sendo.

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