Ao trabalho
por Cléber Eduardo, Eduardo Valente e Felipe Bragança

Os meses de outubro e novembro têm sido intensos na Cinética - como aliás era de se esperar. Por um lado, as coberturas dos grandes festivais de cinema mundial (e brasileiro) do nosso calendário aumentam a carga de trabalho e o contato direto e constante entre os redatores. Por outro, estas mesmas coberturas praticamente dobram o acesso dos leitores à revista, já que é uma época em que se procura com ainda mais constância e avidez o maior número de informações disponíveis sobre o cinema. Sempre vimos a cobertura destes dois eventos, ainda mais da forma consecutiva como se eles dão, um desafio para a revista – ao qual consideramos com alegria que conseguimos enfrentar e dar conta, mesmo com nossa pouca “idade” (mal completamos meio ano no ar) e com uma equipe de redação que ainda se encontra em formação (seja pela soma de novos e essenciais quadros – algo que continuará nestes próximos meses; seja pelo processo ainda em andamento da descoberta da melhor forma de explorar estes quadros e sua relação com a editoria).

A este panorama, acabamos nos defrontando a contragosto com um segundo desafio simultâneo, levantado pela insensibilidade da Mostra de SP ao trabalho diferenciado dos meios da crítica reflexiva independente. Entre o silêncio conformado ou a paralisação, optamos pela terceira via - por “comprar a briga” por assim dizer. Se o fizemos por não vermos outra opção real, acabamos colhendo muitos frutos positivos por esta postura – tanto no estreitamento do contato com outros veículos que dividem conosco nossos “dilemas existenciais” (contato de onde nasceu a idéia do Prêmio da Crítica Independente), quanto no eco que encontramos em muitos leitores e realizadores do cinema brasileiro da preocupação e interesse pela nossa luta. Esta reação e confronto foram, mais do que positivos, necessários.

Pois agora é hora de Cinética, com a responsabilidade adicional do aumento do acesso de leitores pós-coberturas e do estreitamento dos laços com o meio, voltar a assumir sua pauta propositiva. E é com essa idéia em mente que a revista inicia, com dois artigos sobre o décimo encontro nacional da Socine, uma nova etapa – que não tem por objetivo mudar o rumo ou o enfoque, mas sim abrir o leque dos nossos interesses sobre a reflexão cinematográfica. Assim como quisemos, desde o início, estarmos abertos ao diálogo direto com os realizadores e os leitores, chamamos agora para a dança os pesquisadores da Universidade – não apenas para e(s)coar o pensamento acadêmico, mas para levantar questões que, acima de tudo, dizem respeito ao cinema (e ao seu estudo, evidentemente). Não temos o menor interesse em rivalizar com a prática em si mesma da Universidade: há sim o desejo de um diálogo franco, reflexivo e crítico, com a intenção de ampliar as discussões da – e sobre – a Universidade para fora das salas de aula e dos seminários (até porque nosso time de redatores inclui vários graduandos, mestrandos, doutorandos e professores, o que, em si, demonstra de nossa parte a dívida em alguma medida com essa atividade crítica).

Mantendo-nos em busca de uma de nossas propostas editoriais – o diálogo com os agentes cinematográficos de diversos setores -, Cinética procurará sempre a troca com quem pensa o cinema em suas muitas possibilidades. É por isso que, dando prosseguimento a essa nossa iniciativa, agendamos, para breve, uma ampla entrevista com o pesquisador Ismail Xavier. Protagonista e testemunha do percurso dos estudos do cinema e da imagem no Brasil, com conhecimento dos movimentos e mudanças da ECA-USP desde sua criação, assim como da implantação e ampliação desse campo disciplinar no país, Ismail foi escolhido como primeiro interlocutor para essa comunicação. Que esse novo caminho renda frutos positivos para nós, para os pesquisadores, para leitores interessados nessa discussão e, consequentemente, para o cultivo de uma idéia de cinema como expressão estética e como relação com seu meio, com seu tempo, com o pensamento.

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