O fôlego que antecede um novo mergulho
por Cléber Eduardo, Eduardo Valente
e Felipe Bragança
Duas semanas. Este é o respiro que o crítico pode
dar depois da maratona carioca do Festival do Rio, antes de partir
para a temporada paulistana na Mostra de SP. Como Cinética é uma
revista feita, tanto na editoria quanto na redação, com um pé
em cada lado da Via Dutra, é a certeza de uma dupla jornada tão
gratificante quanto estafante – e ainda mais com o certo gosto
amargo deixado pela falta de reconhecimento
do nosso trabalho que a organização da mostra paulistana demonstrou.
Pequenezas à parte, nestas duas semanas tentamos olhar para trás
e ver o que ficou da enxurrada de títulos oferecidos no festival
carioca. Com alegria, percebemos o acerto de nossa escolha no
destaque dado, antes mesmo do festival, ao filme de Pedro Costa,
Juventude em Marcha, que ilustrou nossa foto principal
ao longo do evento. Considerado quase unanimemente como o grande
acontecimento estético-cinematográfico do Festival do Rio, o filme
acabou tendo três apaixonados textos escritos na Cinética (um
por cada editor da revista), que vieram se somar à entrevista
com o realizador que publicamos antes do começo do festival.
Mas, se o filme de Pedro Costa foi o ponto alto
do Festival, desde o filme de abertura do evento (Dália
Negra, já em cartaz nos cinemas brasileiros) ele foi marcado
pela predominância do interesse para filmes daqueles realizadores
cuja importância ou já reconhecíamos (como foi o caso de Almodóvar,
Scorsese, Nanni Moretti, Jafar
Panahi, do convidado de última hora Johnnie
To) ou que voltamos a reconhecer agora, após alguns filmes
menos interessantes (como foi o caso de Stephen
Frears). As poucas descobertas que aconteceram vinham já referendadas
por carreiras anteriores muito elogiadas, mesmo que nunca exibidas
no Brasil (como Nobuhiro Suwa, de Um
Casal Perfeito ou Bong Joon-ho, de The
Host) ou, no caso de alguns estreantes, por prêmios em
Cannes que já os faziam figurinhas carimbadas (como Red
Road, de Andrea Arnold; ou 12:08
Leste de Bucareste, de Corneliu Porumboiu).
Dentro deste quadro um tanto “previsível”, em
que começamos a preparar nossa programação para a Mostra com maior
empolgação pela primeira chance de ver os novos trabalhos de alguns
outros diretores prediletos (como Jia Zhang-ke, Manoel de Oliveira,
Apichatpong Weerasethakul e Tsai Ming-liang), resolvemos dar destaque
para uma programação de filmes brasileiros especialmente forte
dentro do Festival do Rio (e que praticamente será toda reprisada
na Mostra, com algumas poucas adições). Se não se pode dizer que
foi surpresa a qualidade de alguns casos isolados, inegavelmente
a vitalidade da visão do conjunto da Première Brasil superou qualquer
expectativa: foi uma safra de filmes que, ao mesmo tempo em que
nos permitiu respirar ares bem mais saudáveis que a média dos
lançamentos nacionais no circuito comercial na maior parte de
2006 (no que já havia sido foco de dois de nossos editoriais,
inclusive o primeiro de todos), ainda confirmou a importância
de uma nova geração de cineastas brasileiros que, curiosamente,
na maior parte está realizando seu segundo longa-metragem. Por
isso, ao mesmo tempo em que estes “segundos filmes” são analisados
num ensaio de Cléber Eduardo, seus personagens centrais ilustram
nossa foto principal da revista.
Que boa notícia poder destacar os filmes brasileiros
no meio deste mergulho profundo nas águas do cinema mundial de
2006. Agora, é pegar fôlego e submergir de novo. Nos vemos em
algumas semanas.
* * *
No meio da correria de festivais e mostras que
ocupam nossos Olhares nestes meses, aproveitamos para estrear
uma nova seção no site: assinada pelo recentemente adicionado
Diego Assunção (embora não necessariamente com exclusividade),
acreditamos que o Plantão do YouTube
vem cumprir uma função ainda pouco desbravada, ao fazer um começo
de levantamento crítico e analítico deste verdadeiro manancial
de audiovisual que tanto tem nos surpreendido, seja pela rapidez
de expansão ou por todas as suas possibilidades ainda inexploradas
de utilização. Com esta nova seção, queremos nos manter fiéis
ao nome e ao propósito da revista: sempre em movimento, nos adaptamos
e respondemos com a maior rapidez possível aos novos desafios
que vão surgindo nas diferentes expressões audiovisuais. Que o
alvo desta seção seja um formato de exibição que mal era conhecido
quanto começamos o site (há apenas cinco meses!), só comprova
que esta capacidade de reagir aos impulsos precisa ser sempre
e cada vez mais imediata – sem perder, com esta proximidade dos
fatos, a capacidade de análise e observação.
Leia também nossos
editoriais anteriores.
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